Crítica do presidente da Câmara a Moro abre crise

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Maia compara vazamentos contra Moro à divulgação de áudio de Lula e Dilma

Josias de Souza 05/07/2019 15h50

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, equiparou o vazamento das mensagens atribuídas a Sergio Moro à divulgação de informações de inquéritos sigilosos por agentes públicos.

“Não pode ter dois pesos e duas medidas”, afirmou. “Quando o vazamento é para beneficiar um lado é bacana. Quando, em tese, vai beneficiar o outro lado aí não pode.”

O deputado disse ser contra vazamentos ilegais. Mas afirmou que “o jogo foi esse a vida inteira.” Acrescentou: “O jogo foi jogado assim inclusive para o impeachment da Dilma.”

A analogia de Maia foi feita em entrevista ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan. Ele se referia à decisão do então juiz Sergio Moro de levantar o sigilo, em 16 de março de 2016, da célebre conversa telefônica em que Dilma Rousseff informa a Lula que estava enviando por meio do “Bessias” o “termo de posse” no cargo de ministro.

No diálogo, a então presidente informa ao padrinho político que o documento deveria ser utilizado “em caso de necessidade”. Ficou entendido que a peça serviria de escudo contra eventual ordem de prisão emitida por Moro contra Lula, que passaria a dispor de foro privilegiado.

Segundo Maia, “o impeachment de Dilma estava morrendo”. E “aquele vazamento foi decisivo para recuperar” o movimento que levou à destituição da presidente petista. “Aquilo foi decisivo”, enfatizou.

O deputado insinuou que Moro e os procuradores da força-tarefa de Curitiba reagem ao vazamento de suas mensagens à maneira dos investigados da Lava Jato. “Às vezes, a gente vai vendo tudo o que foi criticado no passado em relação a alguns e se usa a mesma estratégia: ‘não reconheço, não faço’.”

O deputado reprovou também a tentativa de criminalizar o site The Intercept, que diz ter obtido as mensagens de uma fonte anônima.

“É claro que a entrada num celular, pegar informações privadas, é claro que é crime de quem tirou as iformações… Mas o jornalista que pegou a informação —infelizmente ou felizmente— já está mais do que claro, inclusive com respaldo da Justiça brasileira, que não é crime usar essa informação.”

O presidente da Câmara indagou: “Qual é o peso? Um vazamento de um documento sigiloso que foi entregue por um agente público para um jornalista é pior ou é do mesmo nível de um hacker pegar uma informação e vazar?”

Lembrou que os meios de comunicação divulgaram dados sigilosos obtidos pelo site WikiLeaks.

“Todo mundo divulgou, aquilo não tinha problema”, afirmou.

Acha que a divulgação das informações relacionadas a Sergio Moro é parte da liberdade de imprensa. Algo que não se confunde com a necessidade de punir o criminoso que supostamente invadiu celulares de autoridades.

Por ironia, o lote de mensagens vazado contra Moro inclui conversas que ele manteve com Deltan Dallagnol, o coordenador da força-tarefa de Curitiba, sobre a divulgação do áudio em que soavam as vozes de Lula e Dilma. Numa delas, Moro diz a Dallagnol, dias depois do vazamento:

“Não me arrependo do levantamento do sigilo, era a melhor decisão, mas a reação está ruim”.

Embora fosse resultado de uma escuta legal, autorizada por Moro, o trecho havia sido gravado depois que já vencera o prazo de interrupção dos grampos.

Então relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo, repreendeu e cobrou explicações de Moro, que pediu “escusas.”

Nesta sexta-feira, em parceria com o Intercept, a revista Veja divulgou novos trechos de conversas de Moro e dos procuradores. Em nota, Moro acusou a imprensa de sensacionalismo.