Governo Bolsonaro acabará no dia seguinte à previdência

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Foto: Pedro França -Agência Senado

A primeira vaia ninguém esquece. Ainda mais quando são duas no mesmo dia, como na terça-feira: de manhã, o presidente Jair Bolsonaro foi chamado de “traidor” em manifestação de policiais e agentes de segurança insatisfeitos com a reforma da Previdência; à noite, foi vaiado no Mineirão no intervalo do jogo do Brasil com a Argentina. Isso acontece com todo político, é da vida. Mas a pergunta é se Bolsonaro terá a serenidade e a habilidade política – inteligência emocional? – para enfrentar o que ainda virá.

Porque virá, não há mais dúvidas. Além da estagnação econômica e das barbeiragens políticas que inviabilizaram a formação de uma base no Congresso, o próprio presidente está construindo um cenário belicoso, prenúncio de uma guerra com data marcada para começar: o dia seguinte à aprovação da reforma da Previdência.

Enquanto as ruas começam a dar demonstrações de que o bolsonarismo, embora vivo e barulhento, vem encolhendo – dado confirmado pelas pesquisas de opinião -, os políticos que poderiam estar numa hipotética base governista afiam os facões. Trabalham para votar a reforma da Previdência, e não pensam em inviabilizá-la em função de seus problemas com o Planalto. Afinal, é enorme a pressão de sua base social, o establishment econômico, pela reforma.

Além disso, o pessoal do Centrão e seus satélites, conduzido pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, quer tentar resgatar a imagem perdida de políticos que não se importam com o país e só querem levar vantagem. Imagem que, para sua enorme irritação, o presidente Bolsonaro e família tratam de reforçar em manifestações nas redes e nas ruas.

Para os caciques que controlam a maioria do Congresso, o jeito de dar a volta por cima é votar – e não só a Previdência, mas uma extensa pauta que, no pós-reforma, incluirá medidas mais ao gosto do distinto público.

Não se pode dizer que Bolsonaro não estará nesses planos – se for bonzinho e concordar com eles. Se não for, e se colocar no meio do caminho, será atropelado. Pois se há hoje um lugar onde a perda de popularidade presidencial é dez vezes mais acelerada do que nas ruas, este é o Congresso Nacional.

Sem base parlamentar, e em estado de isolamento político cada vez maior – que ele próprio cultiva em atitudes como o afastamento de militares considerados confiáveis de seu entorno e a destituição de Onyx Lorenzoni da articulação política – o que ainda segura politicamente o presidente é a condição e o apoio de recém-eleito. Mas, se sua aprovação continuar sendo corroída, ficando abaixo dos 30% que tem hoje, o cenário se tornará muito difícil para ele, na linha do “pega, mata e esfola” no Legislativo.

Quem viver, verá. Em gabinetes do Congresso, ninguém arrisca palpites sobre o dia de amanhã, mas as raposas mais experientes vaticinam: enquanto houver reforma da Previdência, há governo. Depois…

Da Veja