Vitória da esquerda na Argentina prevê 2022 no Brasil
O peronista Alberto Fernández, que concorre à presidência da Argentina com a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner em sua chapa como vice, ganhou as eleições primárias neste domingo. Com quase 90% das urnas apuradas, Fernández vencia por 47% dos votos, enquanto que o presidente Mauricio Macri levava 32% da preferência. O primeiro turno das eleições gerais está marcado para 27 de outubro.
Macri reconheceu a derrota: “Hoje tivemos uma eleição ruim”. Caso esses resultados se repitam nas eleições, Fernández será o novo presidente argentino. De acordo com a reforma constitucional de 1995, caso algum candidato consiga 45% dos votos ou 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo lugar, não há necessidade de segundo turno. “Estamos contentes, alegres e otimistas que muitos argentinos compreendam que as coisas devem mudar na República Argentina”, disse Kirchner em mensagem gravada em vídeo.
“Estas eleições definem os próximos 30 anos”, chegou a dizer Macri horas antes, no momento de votar. Quiçá não tantos anos e não nas primárias, que, por falta de concorrência interna nos partidos, se converteram em um simples ensaio geral das eleições de outubro, mas certamente este processo eleitoral representa uma grande transcendência para o futuro da Argentina. Duas opções muito diferentes e radicalmente opostas disputam o poder.
O peronismo manteve sua desconfiança sobre o sistema de contagem da empresa Startmatic, contratada pelo Governo. “Criamos nosso próprio centro de contagem porque nos gera muitas dúvidas o modo como se contratou esta empresa”, disse Alberto Fernández ao votar em seu colégio eleitoral. Para elevar o nível de garantia, a candidatura de Alberto e Cristina Kirchner conseguiu que, de última hora, a juíza eleitoral María Servini proibisse a difusão de resultados parciais até que estivessem escrutados ao menos 10% dos votos da cidade e província de Buenos Aires e das províncias de Córdoba e Santa Fé. Queriam evitar que acontecesse como em 2017, quando se interrompeu à meia-noite uma contagem que, naquele momento, favorecia o macrismo. Depois, ao se carregar os dados das zonas mais populosas do país, ficou nítido que os resultados eram favoráveis a Kirchner.
Durante a jornada eleitoral não se registraram problemas relevantes. Em Buenos Aires, que tem o maior peso eleitoral, havia um esplêndido sol de inverno. O candidato kirchnerista ao governo da província, Axel Kicillof, expressou também sua confiança de que os argentinos não fossem dormir “achando que ganhou um, quando ganhou o outro” e sugeriu que o governismo macrista desfrutava de vantagens. “Foi uma campanha muito desigual, nota-se em tudo, mas caminhamos e escutando as pessoas, fizemos nossa proposta, demos uma palavra de fôlego”, declarou. Kicillof afirmou ter percorrido 80.000 quilômetros em seu esforço por convencer o eleitorado bonaerense. A batalha de Kicillof contra María Eugenia Vidal, a atual governadora, é crucial para o resultado: geralmente, quem ganha em Buenos Aires obtém a vitória.
Abundaram as dúvidas sobre a necessidade de umas primárias quando, como nesta ocasião, os grandes blocos partidários já têm decididos seus candidatos. “Talvez fosse necessário fazer menos eleições”, comentou o aspirante macrista à vice-presidência, o peronista Miguel Ángel Pichetto, que votou em Rio Negro. “É uma eleição meio esquisita pelo fato de ser uma primária e não ter concorrência”, assinalou a vice-presidenta Gabriela Michetti, ausente das listas eleitorais. As Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) foram estabelecidas em 2011 e são muito discutidas; quiçá em 2019 sejam celebradas pela última vez, se depois das eleições gerais de outubro chegarem a um consenso para aboli-las, algo que parece relativamente provável.
A ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, desta vez aspirante à vice-presidência por trás de Alberto Fernández, antigo chefe de gabinete de Néstor Kirchner e dela também, votou em Rio Galegos, capital de Santa Cruz, o feudo patagônico dos Kirchner. Alicia Kirchner, irmã do falecido Néstor Kirchner e cunhada de Cristina Fernández, tenta nestas eleições revalidar seu cargo de governadora. A carismática e polêmica ex-presidenta, com numerosas ações judiciais pendentes por corrupção, não permitiu que a imprensa a fotografasse no momento de depositar a cédula na urna: só uma câmera própria pôde captar esse momento, e depois a própria candidata escolheu as imagens que deviam ser distribuídas.
Os colégios eleitorais fecharam às 18h00, com uma participação próxima ao 75%. O voto nas primárias é obrigatório, mas as multas aos não comparecem não são proibitivas: 50 pesos, cerca de cinco reais.
Do El País