Fake news: Raoni não roubou dona da The Body Shop

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Foto: reprodução Globo

É verdade que a fundadora da rede de cosméticos The Body Shop foi enganada e roubada pelo Cacique Raoni através da ONG Cobra Coral?

O texto começou a se espalhar através das redes sociais no final de setembro de 2019 e conta uma das passagens que teria sido retirada do livro da empresária britânica Anita Roddick, fundadora da rede de produtos de beleza The Body Shop.

De acordo com a história bastante compartilhada, a mulher que havia começado a fabricar cosméticos e perfumaria com ingredientes naturais e se transformando em uma gigante da indústria teria conhecido a Amazônia e o Cacique Raoni nos anos 80, para quem fez doações de 10 milhões de dólares através da ONG Cobra Coral!

O texto afirma também que a empresária, após algum tempo, teria descoberto que a tal da Fundação Cobra Coral do “cacique larápio” havia roubado todo o dinheiro das doações, além de saber que um avião (comprado por ela e doado para a tal ONG) estava apreendido por contrabando!

A publicação, cujo texto teria sido resumido do livro da empresária, termina afirmando ainda que Roddick, após ter sido enganada pela gangue comandada pelo Cacique Raoni, havia determinado que a Body Shop jamais abriria uma loja no Brasil e apenas após o seu falecimento é que a Body Shop foi vendida para Natura, que então abriu a primeira loja da marca no Brasil.

Será que isso é verdade ou mentira?

A britânica Anita Roddick foi uma mega-empresária do ramo de produtos cosméticos e de perfumaria. Grande defensora dos direitos humanos e ativista ambiental, Anita faleceu em 2007 com 64 anos de idade. Como ela havia prometido ainda em vida, a sua propriedade e toda sua fortuna (algo em cerca 51 milhões de libras) foram todas doadas para instituições de caridade.

Livros publicados
Roddick publicou, ao todo, seis livros entre os anos de 1985 e 2005:

The Body Shop Book, em 1985;
Mamatoto: the Body Shop Celebration of Birth, em 1991;
Body and Soul, em 1991;
How Globalisation Affects You and Powerful Ways to Challenge It, em 2004;
Troubled Water: Saints, Sinners, Truth and Lies about the Global Water Crisis, em 2004;
Business as Unusual, em 2005
Em qual desses livros Anita teria contado essa história?

Como a corrente é vaga e não diz de qual dos livros isso teria saído, procuramos em várias resenhas das publicações e não encontramos nada sobre um encontro entre a empresária e o Cacique Raoni. Também não há nenhuma menção ao cacique (ou à ONG Cobra Coral) no site oficial da britânica.

Contato com índios no Brasil
Em 2002, a revista Istoé Dinheiro publicou uma matéria relembrando a primeira visita que Anita Roddick fez ao Brasil, em 1984, e como que ela desenvolveu junto com os índios caiapós alternativas econômicas para que os nativos não precisassem viver do corte de madeira. Segundo a reportagem, Anita resolveu transformá-los em fornecedores dos componentes usados em produtos de beleza da rede The Body Shop e o negócio deu tão certo que a empresária passou a financiar outros projetos na região (que ficava em uma reserva florestal em Altamira, no Pará).

No livro de 2002 chamado Esverdeando a Amazônia, de Anthony Bennett Anderson, e Jason W. Clay, é explicado que o investimento inicial da Body Shop no negócio com os índios foi de 80.000 dólares. Um valor muito abaixo dos 10 milhões que o texto afirma no Facebook. O autor dessa corrente compartilhada nas redes sociais não deixa claro, mas dá a entender que as doações de 10 milhões teriam ocorrido mais de uma vez:

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