Chefe de milícia foi segurança de filha de bicheiro baleada

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Foragido desde janeiro e apontado como chefe de milícia e do grupo de matadores de aluguel Escritório do Crime, o ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano, foi expulso da corporação por fazer segurança particular da família do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. A Polícia Civil e o MP-RJ investigam se Capitão Adriano e membros de sua milícia têm envolvimento no ataque que resultou na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

O ex-oficial, que chegou a passar pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais), foi “chefe de segurança” do bicheiro José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, e de sua mulher Shanna Harrouche Garcia, filha de Maninho. Ontem, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste carioca, Shanna foi atingida por dois tiros quando se aproximava de um shopping na avenida Américas. Ela foi internada no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, e seu quadro de saúde é estável.

De acordo com testemunhos incluídos nos autos da investigação interna conduzida pela PM do Rio, obtidos pelo UOL, o Capitão Adriano participou de ao menos oito homicídios entre 2006 e 2009 a mando de Zé Personal. A prestação de serviço de segurança ao casal coincide com esse período.

O policial militar foi denunciado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) por tentativa de homicídio, no ano de 2008, contra um pecuarista que estava envolvido em disputa relacionada ao espólio de Maninho Garcia. O pecuarista, que viria a ser assassinado no ano seguinte, era desafeto de Zé Personal e de Shanna.

O próprio Zé Personal foi assassinado a tiros em setembro de 2011 dentro de um centro espírita localizado na Praça Seca, zona oeste do Rio. Após a morte do marido, Shannah teria assumido a lideranças dos negócios que envolvem jogo do bicho e caça-níqueis.

Apesar dos testemunhos e investigações policiais que o relacionavam a diversos assassinatos, Capitão Adriano foi expulso da PM apenas pelo fato de exercer segurança ilegal de uma família de contraventores. Referendado pela Justiça fluminense, o processo de expulsão foi concluído somente em 2014.

Em janeiro, a Justiça do Rio expediu um mandado de prisão preventiva contra Adriano no âmbito da Operação Intocáveis. Ele é acusado pelo MP-RJ de comandar uma milícia que atua nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste. Desde então, ele se encontra foragido da Justiça.

Capitão Adriano entrou para a PM fluminense em 1996. Quatro anos depois, concluiu o curso de operações especiais do Bope.

Na corporação, fez amizade com Fabrício de Queiroz, que trabalhou como assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando este foi deputado estadual. Anos depois, Queiroz indicou a mãe e a mulher de Capitão Adriano para trabalhar no gabinete do filho mais velho do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).

Adriano chegou a ser homenageado por Flávio com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa. Era o ano de 2005, e ele estava preso sob acusação de cometer homicídio.

“Em geral, as vítimas desses assassinos têm alguma relação com o crime e a polícia faz vista grossa. Adriano não é o primeiro a prestar esse tipo de serviço. Outros policiais já fizeram o mesmo e praticamente todos tiveram o mesmo fim: a morte”, afirmou um delegado da Polícia Civil do Rio, que pediu para não ser identificado.

A defesa de Adriano nega que ele seja miliciano e chefe do Escritório do Crime e tenta na Justiça reintegrá-lo aos quadros da PM.

Do UOL