Pernambuco cobra apoio de indústria do Petróleo
Foto: Leo Malafaia / AFP
O governo de Pernambuco já retirou 900 toneladas de óleo de suas praias desde o dia 17 de outubro.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Antônio Bertotti, o estado conduz ampla articulação com municípios e outros estados da região. Apesar de criticar o atraso do governo federal no combate à crise ambiental, ele menciona a mobilização iniciada nos últimos dias.
Bertotti destaca a necessidade de a indústria do petróleo colaborar financeiramente diante do desastre ambiental na região, mesmo sem ainda haver uma certeza sobre o foco de propagação do material.
O petróleo cru já contaminou 233 localidades em todos os nove estados da Região Nordeste, segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
Como o senhor avalia a situação atual?
O governo federal só criou no dia 7 de outubro um grupo integrando Marinha, Forças Armadas e Meio Ambiente para analisar o caráter e a dimensão da crise. Demorou muito. Estamos trabalhando com o Ibama local desde o dia 2 de setembro. Mas soubemos pela Capitania dos Portos que as primeiras manchas foram identificadas na Paraíba em dia 30 de agosto.
Entretanto, após a vinda do ministro da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) nesta semana, chegaram mais três navios patrulha da Marinha e um helicóptero do Ibama.
Quem deve assumir as despesas neste processo de limpeza?
A indústria do petróleo no Brasil movimenta 8% da economia nacional. Pelo plano nacional de contingência, quem deveria atuar e resolver, com recursos, é quem vazou. Como não se sabe quem vazou, tudo fica sob responsabilidade dos governo federal, estaduais e municipais. Mas é preciso ter a colaboração da indústria petroleira, que precisa contribuir com dinheiro. Queremos que esses recursos sejam disponibilizados para a coleta dos recursos sólidos. Nós já recolhemos 900 toneladas em Pernambuco. A coleta de lixo é responsabilidade das prefeituras, mas elas não têm essa especialidade em materiais tóxicos. Precisamos também de empresas especializadas para essa coleta.
O estado de Pernambuco tem sofrido com a reincidência de manchas. Como sido os trabalhos do governo estadual?
Desde o dia 17 de outubro, quando vimos que a mancha estava voltando, percebemos que haveria um volume de manchas maior do que havia chegado em um primeiro momento. De 25 de setembro a 17 de outubro, não tivemos nenhuma mancha. Estamos atuando de maneira integrada com o comando local. O governador fez ontem uma reunião com todos os secretários do litoral pernambucano, incluindo os que não foram atingidos. O prefeito de Itamaracá, por exemplo, estava na reunião e sua cidade não tinha sido atingida. Hoje de manhã, no entanto, apareceram manchas de óleo no município.
Além disso, não só limpamos a praia. A praia do Cupe, em Ipojuca, próximo a Porto de Galinhas, foi limpa. Mas estávamos com mergulhadores e observamos que havia petróleo no fundo do recife. Só ontem tiramos cinco tonéis de petróleo de lá. Há estragos a curto, médio e longo prazo. Não se trata de apenas pegar um trator e arrancar a areia.
Como é feito o monitoramento?
Ontem, disponibilizamos o telefone 185, que funciona durante 24 horas como um contato direto com a população que quer colaborar e pode alertar sobre manchas no mar. Quando o sol raia e já conseguimos identificar o que é óleo, pedra e nuvem no mar, fazemos diariamente pela secretaria de Defesa Social um sobrevoo pelo Litoral Sul e Norte para identificar o petróleo. Fazemos também patrulhamento no mar.
Quando recebemos a denúncia, vamos com o barco e coletamos, se possível. Jogamos uma boia de contenção e uma manta que absorve o óleo e fazemos a coleta. Perto da Ilha de Santo Aleixo, bem pertinho de Carneiros, foram coletados 600 litros de óleo na última sexta-feira.
Para onde vai o petróleo removido das praias pernambucanas?
A coleta tem sido feita através de caminhões certificados para o transporte de resíduo perigoso. O descarte está sendo feito em um centro de tratamento de resíduos especializado, em Igarassu, que também recebeu resíduos da Bahia. Depois o material deverá ser destinado para a produção de energia. Mas só poderemos saber se isso será possível quando informarem a composição do óleo, que definirá se ele pode ser queimado. O centro de tratamento tem que assegurar que esse reaproveitamento não será mais poluidor do que o próprio resíduo. Se houver um componente que seja muito poluente, terá que ser feita uma descontaminação para que seja possibilitada a geração de energia.
O governo enxerga outras saídas?
Nós nos reunimos com todas as universidades de Pernambuco, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência. As duas últimas decidiram, em solidariedade aos governos do Nordeste, se colocar à disposição para articular redes nacionais de pesquisa para ajudar no estudo dos impactos e das soluções deste problema. Disponibilizamos R$ 2,5 milhões para esse esforço pela fundação de amparo à pesquisa. No dia 30 de outubro haverá uma reunião aqui em Recife com todas as fundações de amparo à pesquisa do Nordeste para articular esses trabalhos e discutir de forma multidisciplinar todos os aspectos do vazamento, bem como auxiliar na identificação dos impactos.
Os voluntários têm se destacado na limpeza das praias em todo o Nordeste. O governo tem alertado a população sobre riscos?
O óleo não deve ser tocado pelas mãos. Desde o primeiro momento temos dito isso. É necessário que sejam disponibilizados serviços de coleta profissionais. O apoio pode ser feito na forma de apoio e solidariedade com doações de água para quem está trabalhando na coleta, equipamentos de proteção individual, que em um primeiro momento não tinham chegado em quantidade suficiente. O estado comprou e recebeu muitas doações de empresas. Alertamos que esse material pode ser cancerígeno.