Bretas ataca Lula sem citar seu nome

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Foto: GABRIEL_DE_PAIVA / Agência O Globo

Sem citar nominalmente o ex-presidente Lula e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, o juiz federal Marcelo Bretas afirmou que, no seu entendimento, agentes públicos condenados deviam ser “banidos da vida pública”. A declaração foi dada durante seu discurso na sessão solene em que o magistrado recebeu a medalha Tiradentes, a maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), e o título de benemérito do estado. O evento contou com a presença do procurador-geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Eduardo Gussem, entre os presentes.

— Hoje existe uma lei que proíbe agente público condenado de se eleger. A depender do grau dessa autoridade, (ela) deveria ser banida da vida pública. Estou falando em tese. Um presidente da República, um governador do estado, um chefe de poder que vende o cargo que recebeu provisoriamente da confiança de pessoas humildes em troca de dinheiro não merece uma segunda chance — afirmou o magistrado, que no Rio de Janeiro é responsável por casos da Operação Lava-Jato.

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Condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados a reformas realizadas em seu benefício pela Construtora OAS em um apartamento tríplex no Guarujá (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a cadeia no dia 8 deste mês após a alteração da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que agora não mais permite o cumprimento automático de pena de condenados em duas instâncias judiciárias.

Lula é um dos quase 5 mil presos beneficiados por alteração da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que agora não mais permite o cumprimento automático de pena de condenados em duas instâncias judiciárias.

Homenagem : Bretas recebe medalha Tiradentes e título de benemérito do estado na Alerj

Já Cabral foi condenado 12 vezes na Lava-Jato. As penas dele já somam 267 anos e 9 meses — o cálculo já incluiu a revisão feita pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), que aumentou a punição de Cabral em um dos processos.

Durante o discurso no plenário da Alerj, Bretas falou também que o Poder Judiciário recebe uma “influência política muito forte”. O juiz 7° Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro disparou contra o próprio Poder Judiciário:

— Infelizmente a magistratura hoje tem muitos inimigos. Infelizmente, muitos desses inimigos fazem parte da própria magistratura. Poder Judiciário recebe uma influência política muito forte. A título de um proclamado sistema de harmonia entre os poderes, uma série de situações existem. Senhores sabem muito bem do que eu estou falando. Isso em alguns momentos pode acabar afastando a verdadeira justiça. O povo brasileiro está atento a isso.

Bretas afirmou, ainda, que “nós do judiciário não temos partidos, não temos cores, não temos bandeiras. Só temos uma bandeira, e é verde e amarela”, arrancando aplausos de presentes no plenário da Alerj. O magistrado, que afirmou durante sua fala que a corrupção é uma “desumanidade” por atingir os mais pobres, contou um episódio ocorrido com ele, sem citar o nome do réu envolvido:

— Certa vez eu ouvi de um réu, alguém que foi muito influente nesse estado, que tudo que aconteceu no Rio de Janeiro aconteceu em outros estados, talvez em todos os estados do país. E ele me perguntava: Por que não existe um trabalho como esse em outros estados? Essa é a pergunta que eu sigo fazendo. O que falta para outras administrações públicas passarem a limpo seu passado, limparem seus erros?

O Globo