Candidato de direita canta vitória no Uruguai
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
O candidato de centro-direita nas eleições para a Presidência do Uruguai, Luis Lacalle Pou , declarou sua vitória na madrugada desta segunda-feira, depois de a Justiça Eleitoral ter adiadio a proclamação do resultado oficial. Lacalle Pou afirmou ter a “convicção material” de que será o novo chefe de Estado do país. Com 100% das urnas apuradas, ele obteve 48,7% dos votos (1.168.019 votos), contra 47,5% (1.139.353 votos) de Daniel Martínez , da governista Frente Ampla , de esquerda. A diferença de 1,2 ponto — correspondente a 28.666 votos — fez com que a Corte Eleitoral anunciasse que o resultado oficial só será conhecido entre quinta e sexta-feira .
A razão para o adiamento da proclamação do resultados é o fato de a diferença entre Lacalle Pou e Martínez ser menor do que a quantidade dos chamados “votos observados” — 35.229. São pessoas que votaram fora de sua jurisdição eleitoral ou cujo documento de identidade não corresponde ao do registro eleitoral. Como esses votos têm apuração mais lenta, pois os dados dos eleitores têm de ser confirmados antes de sua validação, a Corte Eleitoral decidiu adiar o anúncio do resultado para quinta ou sexta-feira. Os votos anulados, 63.619, também serão revistos. De todo modo, consultorias creem que uma vitória de Martínez seria difícil, pois ele teria que receber 91% dos votos observados para reverter a vantagem de Lacalle Pou.
A pequena margem entre os dois candidatos contrariou previsões das pesquisas de opinião, que indicavam uma vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais em favor de Lacalle Pou. Ainda assim, o candidato do Partido Nacional subiu ao palco no quartel-general da campanha sinalizando que a confirmação de sua vitória seria apenas uma questão de tempo. Se sua eleição for confirmada, o candidato da centro-direita porá fim a um ciclo de 15 anos de governos da Frente Ampla.
— Temos a convicção material que no dia 1° de março assumirá um novo governo — disse Lacalle Pou a seus partidários, referindo-se à data de posse no país. — Formalmente, saberemos isso em poucos dias. Lamentavelmente, o candidato da oposição não nos ligou para reconhecer este resultado irreversível.
Seus apoiadores chegaram a comemorar após o encerramento das votações, por volta das 20h30 de domingo. O empate técnico apontado pelas pesquisas de boca de urna, no entanto, transformou a comemoração em incerteza. O pronunciamento oficial de Lacalle Pou só teve início por volta de 0h15, após uma reunião com líderes de sua aliança. De acordo com a imprensa loca, ele esperava receber uma ligação de Martínez reconhecendo a derrota, mas isso não ocorreu.
— Voltem para suas casas com cuidado, com alegria comedida. Nos vemos em uma semana para confirmar isso — disse Lacalle Pou. — O que mais queremos é uma sociedade em paz, e por isso precisamos ter paciência para esperar a contagem final dos votos nos próximos dias.
Martínez, por sua vez, fez um pronunciamento para seus apoiadores um pouco antes, por volta de 23h30. Aos gritos de “Uruguai, Uruguai”, disse que é “preciso esperar os resultados”. Ele comemorou o fato de nenhum dos dois lado ter chegado a 50% dos votos, e de a Frente Ampla ter crescido oito pontos em relação ao resultado do primeiro turno. Disse que isso provava que “os acordos entre quatro paredes não são suficientes”, referindo-se aos apoios que Lacalle Pou obteve de outros partidos conservadores.
Nesta segunda, Yamandú Orsi, assessor da campanha de Martínez e prefeito de Canelones, admitiu que “é muito provável que o presidente [eleito] seja Lacalle Pou”.
— Ontem à noite até o militante mais aguerrido sabia que é muito difícil recuperar os votos observados ou absorver essa diferença. Uma derrota sempre traz dor, mas quando vem com uma expectativa de que perderíamos por quatro pontos e quase empatamos no final é um sinal forte. O presidente que seja eleito, se for Lacalle como se supõe que vai acontecer,provavelmente será eleito com a menor porcentagem da história do segundo turno — disse.
Independentemente do resultado, esta foi a eleição mais difícil para a Frente Ampla desde que chegou ao poder, em 2005. O atual mandato do presidente Tabaré Vázquez, no entanto, foi muito mais difícil do que o primeiro, de 2005 a 2010, já que a economia entrou num delicado processo de desaceleração e este ano a previsão de crescimento é de apenas 0,6%.
Ex-prefeito de Montevidéu, Martínez fez uma campanha competitiva, apesar dos problemas que enfrenta o governo da Frente Ampla. Não chegou, no entanto, a despertar entusiasmo em setores que antes eram parte da base de respaldo à aliança governista, por exemplo, eleitores entre 35 e 50 anos do interior e, sobretudo, das regiões mais humildes do país.
Lacalle Pou, de 46 anos, selou um acordo eleitoral com outros quatro partidos — entre eles o tradicional Colorado e o Cabildo Abierto (lançado pelo ex-chefe do Exército Guido Manini Ríos) — que lhe dará o controle do Parlamento caso seja eleito. Ele prometeu ainda enviar um pacote de 300 medidas ao Congresso, incluindo iniciativas em matéria econômica e de segurança, duas das principais preocupações dos uruguaios.
A reta final do processo eleitoral uruguaio foi marcada por tensão. Manini Ríos, o ex-chefe do Exército afastado em março passado por ter acobertado militares que cometeram violações dos direitos humanos na última ditadura (1973-1985), divulgou na sexta-feira um vídeo no qual defendeu que os militares não votassem pela Frente Ampla. Paralelamente, a revista Nación, da Cooperativa de Poupança e Crédito das Forças Armadas, publicou um artigo pregando a “expulsão do marxismo” do Uruguai e referindo-se à eleição de Lacalle Pou como “um novo amanhecer”.