Conheça exposição negra atacada por deputado racista

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Na exposição em homenagem ao Dia da Consciência Negra , na Câmara dos Deputados, há um espaço vazio com dois pregos na parede. É onde estava uma charge do cartunista Latuff, mostrando um negro morto por um policial, quebrada ontem pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) — ele prometeu que, se a placa fosse recolocada, a quebraria de novo.

Deputados da oposição se irritaram com Tadeu, e o tema dominou a sessão desta terça-feira, com troca de provocações e insultos no microfone. Para evitar o confronto aberto com os colegas, o deputado do PSL subiu na tribuna e se sentou na mesa ao lado de Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Maia depois repudiou o ataque à charge.

Em tom mais ameno, alguns parlamentares comentavam que, dessa forma, a exposição pelo menos teria mais atenção (se a placa voltar, será uma exposição interativa, ironizou um deputado do PSOL). A mostra está em um corredor entre o plenário e os gabinetes dos deputados em que passam diversas exposições ao longo do ano, a maioria delas despercebidas. Depois do ocorrido, há visitantes tirando fotos em frente às paredes, cena incomum.

Com o título “Trajetórias Negras Brasileiras”, a mostra foi instalada em 18 de novembro. Em uma das paredes, estão expostas personalidades negras importantes, como Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira, Ruth de Souza, atriz da década de 1940, e Tony Tornado, cantor famoso nos anos 1960. Um painel retrata as “damas do samba”: Tia Ciata, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra, Leci Brandão e Alcione.

Do outro lado do corredor, placas marcam conquistas dos negros na legislação e na política brasileira. São citadas a lei de 2003 obrigando o ensino de história e cultura africana nas escolas, o Estatuto da Igualdade Racial, de 2010, e a Constituição de 1988. Uma placa lembra a Marcha Zumbi, que reuniu “cerca de 30 mil pessoas em Brasília” em 1995, e outra homenageia a Lei Caó, que criminalizou o racismo em 1989.

A exposição é organizada pela própria Câmara. “Se a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Igualdade Racial de 2010 significaram avanços importantes no combate à desigualdade racial, as estatísticas ainda demonstram que há um longo caminho a ser percorrido no Brasil no que diz respeito ao cumprimento de políticas públicas que tragam igualdade”, diz o texto assinado pelo curador, Raphael Cavalcante.

Há menção a esses desafios nas paredes. Em uma das placas, é citado o fato de haver apenas 4% de deputados negros na Câmara dos Deputados. É uma representação menor do que a proporção da sociedade brasileira, de 53,6% de pretos de pardos, e um aumento de só 5% em relação à bancada negra da última legislatura.

Há também um painel com nomes de negros vítimas de violência, com a reprodução de manchetes de jornais sobre eles. São citadas Ágatha Félix, criança de oito anos morta por policiais neste ano, e Marielle Franco, vereadora carioca executada em 2018. A exposição dura até 20 de dezembro.

O Globo