Em guerra com Bolsonaro, como estão as finanças da Globo?
O clima entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e a Rede Globo esquentou nas últimas semanas. De um lado, o Jornal Nacional alega ter feito jornalismo ao citar o nome do presidente em uma investigação sobre a morte de Marielle Franco e, do outro, Bolsonaro ameaça a rede.
Em uma transmissão feita após a revelação, o presidente xinga a TV Globo de “canalha”, a acusa de ter feito uma “patifaria” e, ao citar que a concessão pública da emissora que vence em 2022, diz que não perseguirá a Globo, mas que apenas aprovará a renovação se o processo estiver “enxuto”.
Vale lembrar que o seu governo, em uma campanha publicitária recente sobre a soberania da Amazônia, escolheu quatro das principais emissoras de TV aberta no país, com exceção da Globo, e nos três canais a cabo de notícias.
Um levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostra que Bolsonaro realizou, desde a sua posse, 11 ataques pessoais contra jornalistas e 88 contra veículos e à imprensa como um todo. Os principais alvos são o grupo Globo e os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico.
Será que a Globo está preparada, financeiramente, para enfrentar esta batalha? O Money Times foi atrás dos números da empresa junto às três maiores agências de classificação de crédito do mundo: Moody’s, Fitch e Standard and Poor’s.
Todas elas possuem análises da Globo, já que o grupo possui títulos de dívida no mercado financeiro, inclusive em dólares.
Crise na mídia
É de conhecimento geral que a mídia no Brasil tem passado por uma crise. O novo comportamento dos leitores e telespectadores, além dos consumidores, parece ter pegado de surpresa os administradores das grandes corporações. E a Globo não foi exceção.
“Acreditamos que a Globo continuará enfrentando desafios para melhorar e estabilizar a lucratividade nos próximos dois anos, principalmente devido ao mercado de publicidade ainda deprimido no Brasil e à relativamente alta estrutura de custo fixo da empresa”, disse a Standard and Poor’s em um relatório publicado em março.
Corte no rating
Esta também é a tônica de uma avaliação muito mais recente da Fitch Ratings. No último dia 7 de novembro, a agência rebaixou a nota de crédito da Globo em moeda estrangeira “pelo reduzido compromisso da empresa em manter caixa no exterior”.
De acordo com o site de relações com investidores da Globo, a empresa possui três títulos em dólares no mercado (vencimentos em 2022, 2025 e 2027 e juro entre 4,8% a 5,1%) que somam US$ 825 milhões, ou cerca de R$ 3,3 bilhões, que representam 94,3% do total das dívidas. O restante, aponta a Fitch, se refere a dívidas bancárias e commercial papers com vencimento de 2019 a 2024.
Segundo a agência, a mudança no rating é reflexo da contínua deterioração do desempenho operacional, que enfrenta um desafiador ambiente de transmissão no país, assim como da migração das receitas publicitárias para outras plataformas.
Em um ano, até o final de junho, as receitas caíram 7,7%, devido principalmente ao segmento de publicidade, responsável por mais de 60% das receitas. A margem bruta da empresa caiu de 29,9% da receita para 23,4% no mesmo período, pois a alta dos preços dos direitos de exibição e de mão-de-obra elevaram as despesas operacionais.
Além disso, os analistas entendem que, apesar de projeções melhores para a economia brasileira, é incerto que a Globo conseguirá usar sua posição na mídia de massa brasileira para se beneficiar.
“Embora seja a maior emissora de televisão e provedora de programação para TV por assinatura do Brasil, com 40% da audiência nacional, sua participação está diminuindo. Isto, aliado ao crescimento da publicidade em meios digitais, diminuiu seu poder de precificação, o que aponta para dificuldades de longo prazo para companhia”, ressalta a Fitch.
Tá ruim, mas tá bom
Mesmo com este cenário ruim, o consenso entre as três agências de rating é de que ainda há “muito caixa para queimar” até que a situação financeira da Globo se complique.
A Moody’s reforça que a rede tem “métricas de crédito excepcionalmente fortes, excelente posição de liquidez, perfil confortável de amortização de dívidas e sem vencimentos importantes até 2022”, pontua. Vale lembrar que este é o mesmo ano das próximas eleições presidenciais.
A posição líquida de caixa da Globo é considerada muito confortável por todos os analistas, com cerca de R$ 6 bilhões.
Além disso, o conglomerado da família Marinho não parece estar acomodado com esta situação de queda nas receitas. A alternativa encontrada foi o forte investimento em produção própria de conteúdo, o que foi comprovado pela inauguração recente de um estúdio no valor de R$ 209 milhões, e em tecnologia para melhorar sua plataforma de streaming, a GloboPlay.
A Fitch projeta que o segmento de conteúdo crescerá mais rápido que o publicitário, atingindo 40% da receita até 2022, dos atuais 36%. É uma tarefa dura para a Globo, especialmente quando o seu “concorrente/inimigo” está no Palácio do Planalto.
Do Money Times