América Latina é região mais perigosa do mundo para jornalistas

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Foto: Rashide Frias/AFP

A América Latina, com o México à frente, é a região do mundo mais perigosa para jornalistas — até mais que o Oriente Médio —, denuncia a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em seu balanço anual, que registra 49 assassinatos de profissionais da imprensa no mundo em 2019. Apesar disso, o relatório mostra uma queda geral: o número de jornalistas mortos é o menor desde 2003.

Os 49 jornalistas no mundo representam uma redução de 44% em relação a 2018. O número “historicamente baixo”, o menor em 16 anos, reflete essencialmente o declínio no número de profissionais mortos em conflitos armados. Ao mesmo tempo, o número de jornalistas presos arbitrariamente continua crescendo: neste momento, 389 jornalistas estão presos por desempenharem suas funções, 12% a mais do que no ano passado. Deste número, quase metade das detenções aconteceu em três países: China, Egito e Arábia Saudita.

A América Latina concentra 28% do total das mortes: foram 14 jornalistas assassinados ao longo do ano — 10 no México, dois em Honduras, um na Colômbia e um no Haiti — , o que indica que a região “continua sendo particularmente instável e perigosa para os profissionais da informação”, afirma a RSF no relatório.

O número pode ser ainda maior, já que outros 10 jornalistas foram assassinados em Brasil, Chile, México, Honduras e Haiti em 2019, mas os casos não aparecem no documento da organização porque “continuam sendo objetos de verificação”.

“A lentidão da Justiça nos diferentes países afetados impede jogar toda a luz sobre estas mortes”, lamenta a RSF no balanço mais recente sobre a situação da imprensa no mundo, que compila dados sobre assassinatos, detenções e sequestros de jornalistas.

O México é de longe o país mais perigoso para o exercício do jornalismo. Além de registrar no decorrer do ano 10 assassinatos de profissionais da imprensa, mesmo número da Síria, um país em guerra, a probabilidade de que os responsáveis por essas mortes sejam julgados é praticamente nula, pois o país tem uma taxa de impunidade superior a 90%, ressalta o documento.

O relatório anual, que a RSF elabora desde 1995, cita os assassinatos da jornalista Norma Garabia Sarduza e de seu colega Francisco Romero Díaz, que são “particularmente sintomáticos da ineficácia das autoridades mexicanas em frear essa espiral de violência contra a imprensa”. A primeira havia solicitado proteção e o segundo era beneficiado por medidas de segurança.

Honduras, com dois jornalistas mortos em plena luz do dia, “também está tomada pela corrupção e o crime organizado”, enquanto a Colômbia enfrenta novamente seus “velhos demônios”, depois de uma trégua relativa após a assinatura dos acordos de paz em 2016 — o diretor colombiano Mauricio Lezama foi assassinado quando preparava um documentário sobre as vítimas do conflito armado.

O Haiti, que viveu um longo período de calma, voltou às páginas do relatório da RSF em 2018. Os movimentos sociais de protestos que este ano afetaram países como Equador, Chile, Bolívia, Líbano, Irã, Iraque, Colômbia, Hong Kong e Argélia também representam um desafio para a segurança dos jornalistas, assim como o crime organizado, que se tornou um dos “piores predadores” para os repórteres investigativos, afirma o relatório da RSF.

A China, que intensificou sua repressão à minoria uigur, mantém sozinha um terço dos profissionais da imprensa presos e se transformou na “maior prisão do mundo para os jornalistas”.

Arábia Saudita e Egito disputam a liderança da censura no Oriente Médio, seguidos pela Síria. Tanto em Riad como no Cairo muitos jornalistas estão detidos sem julgamento ou qualquer acusação. Ao menos 57 jornalistas estavam sequestrados, praticamente todos em Síria, Iêmen, Iraque e Ucrânia. Alguns, como o britânico John Cantlie ou o americano Austin Tice, estão sequestrados há mais de sete anos.

O Globo