Após EUA, Europa ameaça aço do Brasil

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retomada de sobretaxas contra o aço e alumínio do Brasil e da Argentina agora reforça a demanda da indústria siderúrgica europeia para a Europa também aumentar barreiras à entrada do produto brasileiro.

A Eurofer, associação dos produtores siderúrgicos da Europa, diz temer que o aço que o Brasil e a Argentina não puderem mais exportar para o mercado dos Estados Unidos acabe desviado para a Europa, fragilizando ainda mais a já combalida indústria do velho continente.

“O Brasil é o nono maior exportador de aço para a UE e tem sido um duradouro parceiro comercial da UE para o metal”, afirmou Charles Lusignan, porta-voz da Eurofer. “Como os EUA e a UE compartilham muitos dos mesmos exportadores de aço, incluindo o Brasil, haverá uma preocupação em mais desvio de aço para o mercado europeu.”

A Eurofer pediu para a UE reforçar a salvaguarda contra o aço estrangeiro, o que passa por uma proteção “mais robusta” e pela “redução das cotas de importação em linha com a menor demanda atual e projetada na economia europeia”, demanda que deverá afetar as vendas brasileiras caso seja acatada.

O porta-voz diz que a demanda foi feita antes de Trump anunciar a sobretaxa contra o Brasil e a Argentina. Mas ninguém ignora que o movimento do presidente americano dá fôlego, por sua vez, para a Europa agir na mesma direção.

A Comissão Europeia, o braço executivo da UE, disse que não comentava desenvolvimento de políticas. Mas lembrou que o regulamento de salvaguardas prevê revisões regulares. E destacou que “os primeiros resultados dessa revisão agora são efetivos, iremos monitorar de perto a situação nos mercados e permaneceremos atentos aos sinais das partes interessadas para realizar revisões futuras sempre que elas forem necessárias”.

A União Europeia aplicou salvaguarda contra o aço estrangeiro em agosto de 2018, em seguida à decisão da Casa Branca de impor sobretaxa de 25% sobre a maior parte do produto importado pelos EUA. Em agosto deste ano, Bruxelas fez um primeiro ajuste na sua proteção, diminuindo de 5% para 3% o aumento anual das cotas de importação de aço, que vigoram até junho de 2021. O volume que passar das cotas sofre taxação de 25%.

Com a mudança de agosto, a UE retirou os aços inoxidáveis exportados pelo Brasil da lista de produtos com volumes limitados para entrar no mercado europeu. Permaneceram cotas para produtos como perfis de aço e laminados a frio. A União Europeia já tinha excluído desde o início o aço semiacabado do Brasil de limites de entrada em seu mercado, o que se explica por sua importância para a indústria europeia.

O ajuste de agosto não foi, portanto, especialmente negativo para o Brasil, até porque o país ainda poderia vender mais aço inoxidável, de maior valor agregado. Para os produtores brasileiros, qualquer chance de poder exportar mais é um alívio. Em agosto, o setor siderúrgico nacional estava operando a apenas 67% de sua capacidade instalada, quando precisa operar 80% para ter resultados.

Agora, a Eurofer insiste para Bruxelas realinhar a salvaguarda, alegando que mesmo com as restrições as importações cresceram 12% no ano passado. Defende que a proteção deve refletir o fato de que as cotas de importação foram estabelecidas “bem acima” dos níveis tradicionais de importação pelo velho continente e levar em conta que, desde então, as condições se deterioraram consideravelmente.

Argumenta que, de um lado, as companhias europeias tiveram que anunciar cortes de produção de pelo menos 15 milhões de toneladas de aço neste ano (dos 160 milhões produzidos anualmente, na média), colocando em risco 15 mil empregos, adicionais ao declínio de 20% na mão de obra do setor desde 2008.

De outro lado, as condições do mercado internacional de aço também se tornaram mais negativas, com aumento de distorções nos fluxos comerciais e menor demanda global para o produto, causando uma depressão nos preços internacionais e corrida de exportadores para abastecer mercados ainda abertos.

Pelos cálculos dos produtores europeus, o excesso de capacidade global no setor siderúrgico ainda é de 450 milhões de toneladas ou mais, sendo dois terços concentrados na China. Para a Europa, o excesso de capacidade é a principal razão para a fraqueza do mercado global de aço e para o crescente número de perdas de emprego na indústria da Europa. E isso torna mais importante do que nunca que o Fórum Global sobre Excesso de Capacidade, criado pelo G-20, realmente leve os países a cortar capacidade de produção em torno do mundo.

Valor Econômico