Confirmado: crescimento do PIB é fajuto
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O erro nos registros das exportações brasileiras de bens de setembro, publicados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vai provocar uma revisão do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deste ano, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em nota.
Segundo o instituto, as revisões serão publicadas com o PIB do quarto trimestre deste ano, a ser divulgado em 4 de março de 2020, e elas não sofrerão “alterações significativas”.
No fim da tarde de segunda-feira, o Ministério da Economia divulgou dados revisados das exportações do país de setembro, outubro e novembro. No caso de setembro, usado no cálculo do PIB do terceiro trimestre, as exportações foram elevadas de US$ 18,9 bilhões para US$ 20,3 bilhões.
Como a divulgação das correções dos dados pela Secex antecedeu em menos de 20 horas a divulgação do PIB, não houve tempo hábil suficiente para incorporá-las nos cálculos da economia, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
“Era totalmente impossível. Fazemos [os cálculos] por produto, por oferta e demanda. Era inviável incluir isso até o dia seguinte de manhã”, disse Palis.
Rebeca explica que as estatísticas do setor externo são utilizadas no cálculo do PIB pela ótica da demanda (ao lado do consumo das famílias, do governo e dos investimentos). Porém, as estimativas do PIB são “mais ancoradas” na oferta, que reúne pesquisas conjunturais (indústria, serviços e agropecuária).
“É bem provável que tenhamos mudança no dado de estoques e certamente no das exportações do PIB do terceiro trimestre”, disse ela, acrescentando que os grandes números do PIB tendem a não mudar. Segundo Rebeca, o setor externo seguirá com uma contribuição negativa para o desempenho da atividade. O PIB cresceu 0,6% em relação ao segundo trimestre, calcado no consumo das famílias e nos investimentos. “Não muda a lógica, o raciocínio.”
Responsável pelo Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-chefe de Contas Nacionais do IBGE, o economista Claudio Considera avalia que o erro cometido pelo governo nos dados da balança comercial não deve alterar os grandes números do PIB do terceiro trimestre.
“É possível que haja mudanças apenas na variação dos estoques das empresas dentro do PIB. Como as exportações foram melhores, a tendência é que os estoques fiquem menores”, disse o economista, que deve realizar cálculos sobre a mudança dos indicadores nas próximas semanas.
Apesar de concordar que as mudanças tendem a ser pequenas, Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE e ex-chefe do departamento de Conta Nacionais, acredita que o instituto deveria ter optado por adiar a divulgação para não apresentar números “contestados por serem incompletos”.
Para ele, a questão não é se o PIB está “muito ou pouco errado”. “É um dado oficial do país que está errado. E não se faz isso. Não importa se está muito ou pouco errado. E isso num quadro extremamente delicado para a produção de estatísticas nesse país com governo do presidente [Jair] Bolsonaro”, acrescentou.
Ele diz que o adiamento da divulgação por uma semana ou mais, corretamente comunicada pelo órgão e com transparência, teria sido compreendido pelos usuários dos dados e pela comunidade estatística internacional. Em vez disso, o IBGE foi citado em reportagem do jornal britânico “Financial Times” que levanta dúvidas sobre as estatísticas.
Rebeca disse por que não optou por adiar a divulgação. “Nunca foi adiada a divulgação do PIB. É uma recomendação internacional que a gente segue, de divulgar as datas das pesquisas conjunturais com um ano de antecedência e mantê-las, para não ter nenhum ruído.”
A pesquisadora acrescentou que a realização de revisões no PIB é rotineiro, embora não seja “tão comum” a mudança devido a erros em estatísticas primárias do governo. “Em geral as revisões são pequenas e podem esperar um ano. Neste caso, pela relevância, decidimos revisar para a próxima divulgação”, disse.
Questionada se o tempo até a divulgação do dado revisado, em março, não deixaria o país com números errados da atividade por um longo período, Rebeca discordou. “Não. A metodologia que usamos demora um tempo para ser feita. Vamos ter que incorporar por produto, não é simples. Já ficaria perto da outra divulgação.”