Familiares de ex de Bolsonaro sacavam salários em espécie

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Foto: Custódio Coimbra / O Globo

Relatórios do Ministério Público do Rio que resultaram na operação desta quarta-feira, 18, no âmbito da investigação contra o senador Flávio Bolsonaro mostram que parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, sacavam em espécie quase todo o valor que recebiam de salário. Dez familiares dela foram empregados no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no período investigado pelo MP.

O pai de Ana Cristina, José Candido Procópio da Silva Valle, sacou 99,7% da sua remuneração no período em que esteve lotado na Alerj, entre 2003 e 2004. Além dele, outros cinco parentes dela chegaram a sacar mais de 90% de seus rendimentos (veja no final da reportagem os valores de todos eles).

Apesar de viverem em Resende, no Sul fluminense, esses familiares da segunda esposa de Bolsonaro foram nomeados para diversos cargos nos gabinetes da família durante o período em que os dois viveram em união estável, entre 1998 e 2008. Coincidentemente, a relação acabou no mesmo ano em que o Supremo Tribunal Federal (STF) produziu uma súmula sobre nepotismo, criminalizando a prática.

Entre esses parentes acusados de serem funcionários fantasmas e de colaborarem com a prática de “rachadinha”, estão ainda irmã, tias e primos de Ana Cristina.

https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/familiares-de-ex-mulher-de-bolsonaro-sacavam-em-especie-ate-997-de-salarios/Ao todo, no período investigado (entre 2008 e 2018), o núcleo denominado “família Siqueira” sacou R$ 4 milhões do dinheiro público. O núcleo é um dos seis esmiuçados pelo MP na investigação. Os outros envolvem o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega e sua família; o ex-assessor Fabrício Queiroz, suposto operador do esquema, e sua família; o policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio, acusado de ajudar na lavagem de dinheiro; uma loja de chocolate da qual Flávio Bolsonaro é sócio; e o empresário Glenn Howard Dillard, também envolvido no esquema de lavagem por meio de negócios com imóveis.

Diversas suspeitas de rachadinha por parte de integrantes da família foram reveladas pela imprensa ao longo deste ano. No pedido de quebra de sigilo e de busca e apreensão produzido pelo MP que resultou na operação de hoje, a Promotoria diz que “a análise dos dados bancários desses assessores corrobora a versão noticiada pela mídia de que haveria devolução parcial dos salários, pois os integrantes da ‘família Siqueira’, de forma peculiar, costumavam sacar em espécie percentuais elevados dos seus rendimentos em datas próximas aos pagamentos mensais da Alerj, chegando a superar 90% dos rendimentos auferidos pelos assessores.”

O Estado não conseguiu contato com os familiares da ex-mulher de Bolsonaro citados na operação. Em Resende, a reportagem localizou dois apartamentos ligados a Juliana Siqueira, mas não encontrou ninguém. Um dos locais fica ao lado do Hotel de Trânsito, na Vila Militar.

A reportagem localizou um endereço registrado em nome de André Luiz de Siqueira. No entanto, o síndico do prédio, que disse trabalhar no local há mais de dez anos, afirmou nunca tê-lo visto no local – André Luiz é primo de Ana Cristina Valle. A mesma informação foi confirmada pela imobiliária que administra os apartamentos do edifício – a empresa disse não haver registro do nome de André no local.

Em outro endereço, atribuído a Marina Siqueira, tia de Ana Cristina Valle, não há imóvel registrado para moradia. De acordo com o setor de Cadastro Imobiliário da Prefeitura de Resende, no local só há registro de uma estação de tratamento de água no local.

O Estado também não localizou outros endereços ligados aos alvos da operação.

Estadão