Países ricos lucram mais na América Latina

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Foto: Silvia Zamboni/Valor

Em meio aos protestos de rua em vários países na América do Sul, a indústria alemã considera que sua melhor opção é de continuar engajada na região, onde obtém mais lucros do que em outras áreas do mundo.

O posicionamento veio por meio do presidente da Comissão para América Latina da Industria Alemã (LADW), Andreas Renschler, membro do “board” mundial do grupo Volkswagen e CEO do grupo Traton.

As manifestações de rua em Chile, Colômbia, Bolívia, Equador, a crise persistente na Venezuela, as direções políticas opostas no México, agora de esquerda, e no Brasil, de direita, e a mudança significativa na Argentina estão no radar das empresas alemães.

Basta ver que há 4 mil empresas com capital alemão na América Latina, das quais cerca de 1.600 no Brasil. O estoque de investimentos diretos alemães na região é de € 51,3 bilhões, dos quais € 19,3 bilhões estão no Brasil, ou 38 % do total do estoque da região. São 617 mil empregos, dos quais 234 mil no Brasil (38%).

Juntas, as empresas alemães faturam € 131,7 bilhões anualmente em média na região, dos quais € 50,3 bilhões no Brasil (38%). Um analista calcula que a América Latina responda por cerca de 5% do faturamento global de algumas grandes empresas alemães.

Nesse contexto os alemães mencionam um ponto estratégico para o relacionamento com o Brasil: a guerra comercial entre EUA e China deixou clara a urgência de diversificação ainda maior dos investimentos alemães no exterior, atualmente concentrados em EUA, China e Europa.

No boletim mensal da Comissão para América Latina da Industria Alemã, Renschler observa que as manifestações de rua evidenciam “o descontentamento de vários segmentos da população em relação a políticas dos governos”. Para ele, o denominador comum nas tensões políticas é o de uma sociedade mais informada com interesse sem precedentes na política.

Constata que a situação representa um desafio para as elites dirigentes ou partidos, e é precisamente esse interesse da sociedade que representa uma conquista significativa em direção da lei e da ordem e melhores condições na região.

Para o executivo alemão, a situação continuará “excitante” na região em 2020. Estima que disputas comerciais entre os EUA e a China estão deixando marcas e companhias na região vão ter de se ajustar a incertezas econômicas num cenário de desaceleração global e situação tensa de maneira geral.

Isso não persistirá por muito tempo, acrescenta Renschler, e as turbulências na América Latina são frequentemente seguidas por ressurgimentos. Destaca que o papel do Brasil como âncora e fonte de estabilidade terá importância crucial: se o país gerir a implementação de seus planos de reformas estruturais, modernização do Estado e expansão de infraestrutura, os mercados na região como um todo vão se beneficiar bastante.

Menciona também o impacto de abertura de mercados e acordos comerciais com os EUA, a China e outros países que o Brasil agora colocou em sua agenda. Estima que tudo isso é uma razão a mais para a Europa avançar na ratificação do acordo de livre-comércio com o Mercosul “enquanto ainda estivermos no jogo”. “Continuar no jogo continua a ser a melhor opção”.

Economistas do Instituto Internacional de Finanças (IIF) examinaram o crescimento de alguns emergentes antes e depois de grandes protestos populares. A constatação foi de que no Chile (1972/3), no Paraguai (1999) e no Peru (2000) houve ampla e persistente perda de produção após períodos de instabilidade política. Mas acham que no caso atual do Chile (1972/3), no Paraguai (1999) e no Peru (2000) houve ampla e persistente perda de produção após períodos de instabilidade política. Mas acham que no caso atual do Chile, mesmo se o crescimento vai enfraquecer, outros fatores, como uma ampla “policy space”, podem ajudar a moderar a baixa da atividade.

Em todo caso, um estudo da LADW com a consultoria McKinsey concluiu que as empresas alemães na América Latina têm sido mais lucrativas do que na China e em outros mercados da Ásia com crescimento econômico bem mais elevado.

Análise de milhares de empresas em todo o mundo mostra que, entre 2000-2017, o Ebitda médio (lucro antes de juros, impostos e amortização, uma medida de rentabilidade da empresa utilizada pelos investidores) foi de 14% no Brasil e 18% na Argentina no setor industrial, comparado a 11% na Malásia e cerca de 8% na China.

Valor