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Prestação de contas de Bolsonaro é igual a de Collor

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O consultor de estratégias políticas Luís Costa Pinto enxerga fragilidade nas prestações de contas da candidatura de 2018 do presidente Jair Bolsonaro e vê semelhanças com o processo que levou à contestação das contas da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello durante seu processo de impeachment, em 1992. “É absolutamente impossível uma campanha política presidencial de 2 turnos ter custado R$ 2 milhões num país de 210 milhões de habitantes”, disse em entrevista gravada nesta 2ª feira (2.dez.2019) no estúdio do Poder360.

Lula Costa Pinto, como é chamado entre os jornalistas, conhece como poucos o impeachment de Collor, cujos bastidores conta no livro Trapaça. A obra, que está sendo lançada em todo o Brasil, conta os bastidores do processo de impedimento de 1992. Na época repórter da revista Veja, Lula foi quem conduziu, com 23 anos, a bombástica entrevista com Pedro Collor, que desencadeou uma série de investigações, culminando com a queda do presidente.

O vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo de 1992 falou sobre o novo trabalho, que deve ser o 1º de uma série de 3 livros, ao Poder360 e também analisou o momento atual da mídia.

Leia abaixo trechos da entrevista:

O impeachment de Collor

Trapaça narra da perspectiva “do chão de fábrica” os acontecimentos de maio de 1992 ao impeachment de Fernando Collor de Mello, no fim daquele ano. Costa Pinto diz que o livro desconstrói a ideia de que o Pedro Collor bateu na redação da Veja e resolveu dar a famosa entrevista. “Isso não é verdade. Ali houve todo 1 processo que durou mais de 1 ano e meio, num ambiente de imprensa que nós não conhecemos mais”, contou.

De acordo com o autor, o livro narra de forma literária e em 1ª pessoa como o processo de impeachment foi costurado por uma conjunção de grandes erros formais no exercício da Presidência com alguns erros políticos e “uma trama que foi urdida por trás do ex-presidente.”

Semelhanças com o impedimento de Dilma

Costa Pinto diz que, por ser 1 livro de histórias (e não de história), não buscou traçar paralelos com o impeachment de Dilma Rousseff, mas que leitores conseguem enxergar diferenças claras a partir da leitura da obra. O autor cita a avaliação do ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, que prefaciou a obra. “Ele me ligou e disse que ficou impressionado porque o livro deixou claro para ele que o impeachment do Collor foi resultado de uma união política por uma causa, e as instituições saíram maiores. Já o da Dilma foi resultado de uma brutal desunião no país que permanece até hoje, e 1 cancelamento da agenda nacional.

Collor e Bolsonaro

Um paralelo que o autor admite enxergar é o da fragilidade da prestação de contas do ex-presidente Fernando Collor e do atual presidente, Jair Bolsonaro. “Na véspera do 1º depoimento do PC Farias à CPI, em 1992, não se sabia como se iria pegá-lo. (…) E se pegou através da prestação de contas no TSE flagrantemente falsa. Isso foi visto pelos técnicos do Congresso”, diz.

Lula Costa Pinto diz enxergar na prestação de contas de 2018 de Bolsonaro a mesma fragilidade, com declaração de despesas irreal. “Não acho que o país esteja maduro o suficiente para que os ministros do TSE cancelem uma eleição presidencial. Porém, eles podem tomar outras sanções.

Mídia antiga e mídia atual

Você tinha 1 respeito absoluto pela apuração, não só dentro das redações, mas os veículos de comunicação formavam opinião e você tinha capacidade de investimento dos proprietários dos grandes veículos. Tudo isso evaporou”, lamenta Costa Pinto.

O autor compara as investigações jornalísticas da época com as atuais, que considera mais dependentes de vazamentos de informações. “O Ministério Público e a Polícia Federal corriam atrás da imprensa e não eram os fornecedores primários de informação. O Ministério Público tinha acabado de nascer e receber a alforria da Constituição de 1988. A Polícia Federal daquele período era intimamente ligada ao gabinete do Presidente da República.

Enfraquecimento financeiro da imprensa

O principal revés a mais investigações jornalísticas robustas hoje, opina Lula Costa Pinto, está no enfraquecimento financeiro dos grandes grupos de mídia. Grupos tradicionais de imprensa reduziram sua circulação e têm perdido receita de publicidade, além de virem conduzindo demissões em massa frequentemente. “Não vejo como voltar àquele momento lá de trás em que a Veja podia chegar pra mim, que ia mudar pra Brasília, e dizer pra continuar investindo na minha fonte principal, Pedro Collor, indo pra Maceió a cada 15 dias, sem pauta”, afirma.

O autor culpa essa situação, em parte, pela própria saída do jornalismo em 2002, depois de passar pelas redações dos maiores veículos brasileiros. “Houve 1 esmagamento salarial brutal. Quando você vê hoje, o salário médio das redações está muito aquém daquele salário médio que a gente tinha no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Houve preponderância dos departamentos de recursos humanos. E, recentemente, a linha de corte. Ou dá 10% de lucro todo mês ou a gente vai cortar no mês seguinte. Aí você vai perdendo qualidade e começa 1 processo de apurar pouco e opinar muito.

PODER 360