Senado reage a Bolsonaro e homenageia Paulo Freire

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Foto: Silvio Correa / Agência O Globo

Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro chamar de “energúmeno” o educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), o plenário do Senado aprovou no início da tarde desta terça-feira a realização de uma sessão especial na Casa em homenagem ao pernambucano, patrono da educação brasileira. O evento foi marcado para o dia 4 de maio do ano que vem, atendendo a requerimento apresentado pelo senador Weverton (PDT-MA) nesta terça.

O pedido foi colocado em votação pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e aprovado de forma simbólica ao fim da última sessão do ano. Também assinaram o requerimento os senadores Esperidião Amin (PP-SC), Lasier Martins (Podemos-RS), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB) e Eduardo Gomes (MDB-TO), este último líder do governo Bolsonaro no Congresso.

Logo após a aprovação, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) foi à tribuna do plenário para rebater a declaração de Bolsonaro. Na segunda-feira, o presidente criticou a TV Escola e disse que investir no canal é jogar dinheiro fora porque ninguém o assiste, mas, ao mesmo tempo, afirmou que a programação é “totalmente de esquerda” e “deseduca” o público.

Em seguida, Bolsonaro relacionou as ideias de Paulo Freire ao baixo resultado do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

— Tem muito formado aqui em cima dessa filosofia desse Paulo Freire da vida, esse energúmeno. Foi ídolo da esquerda. Olha a prova do Pisa, estamos em último lugar do mundo. Se não me engano, em matemática, ciência e português, acho que um ou dois itens, somos o último da América do Sul. Vamos esperar o que desse tipo de educação? – declarou.

O Brasil, no entanto, não ficou em último lugar na América do Sul. A Argentina ficou abaixo do Brasil por cinco pontos.

No seu discurso, Contarato disse que, se Bolsonaro fosse ao dicionário, veria que o adjetivo “energúmeno” se aplicaria melhor ao próprio.

— Energúmeno é um presidente misógino, preconceituoso, sexista, homofóbico, racista, que passa uma reforma da Previdência para aumentar a desigualdade, que só beneficia banqueiros, empresários e a União e só tem como destinatário tirar direitos dos mais pobres — declarou o senador do Espírito Santo.

O parlamentar complementou dizendo que o presidente é energúmenos por violar direitos elementares como a saúde e a educação e por não viabilizar emprego e renda.

— Agora não chame, não chame Paulo Freire, não ouse pronunciar o nome dele. Acho que o presidente tinha que limpar a boca antes de falar do nosso mestre da educação, Paulo Freire […] Ah, senhor presidente, busque o dicionário, aprenda o que é energúmeno. Tome a postura como o Presidente da República Federativa do Brasil, porque isso o senhor está longe de ser. O senhor faria muito pela nação brasileira se renunciasse — disse Contarato.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) falou em seguida e destacou os 35 prêmios concedidos a Paulo Freire em universidades de todo o mundo e o reconhecimento pela Unesco de sua obra. Ele afirmou ainda que Bolsonaro merece a lata do lixo da História.

— O lugar de um: o panteão dos heróis da História. O lugar de outro: a lata do lixo da História, ao que ele caminha a passos largos — declarou.

O Globo