50 mulheres que marcaram 2019
Da primeira caminhada espacial 100% feminina ao posicionamento assertivo da seleção feminina de futebol dos Estados Unidos, passando pela coragem da ativista Greta Thunberg, a potência de Linn da Quebrada e a sabedoria de Fernanda Montenegro. O ano foi intenso, mas também foi marcado por trajetórias inspiradoras de mulheres ao redor do mundo, nas artes, nas ciências, na política e no ativismo.
CELINA selecionou 50 mulheres que, de alguma forma, marcaram este ano que termina, seja por seu pioneirismo e inovação, por seu talento ou pelo seu comprometimento na luta por direitos. Diariamente, até o dia 31, revelaremos dez novos nomes da nossa lista, por ordem alfabética. Veja quem já apareceu por aqui e aproveite este final de 2019 para se inspirar com essas mulheres incríveis.
Parte 1: Do Congresso dos EUA, com Alexandria-Ocacio Cortez, ao cinema brasileiro, com Fernanda Montenegro
Parte 2: As mulheres no balé, no futebol ou na defesa do planeta
Megan Rapinoe
Capitã da seleção de futebol dos EUA, Megan Rapinoe levantou a taça da Copa do Mundo de Futebol Feminino e se consolidou como uma das principais vozes no debate sobre a igualdade de gênero no esporte em 2019. Aos 34 anos, ela foi a artilheira do campeonato mundial, eleita melhor jogadora da copa e, posteriormente, a melhor jogadora do mundo, pela Fifa.
Sob os holofotes, ela e suas companheiras de seleção não se calaram diante das desigualdades impostas às mulheres no futebol. Em março, a seleção feminina comandada por Rapinoe entrou com um processo contra a federação de futebol dos EUA por discriminarem as atletas mulheres, pagando salários e prêmios menores. Rapinoe ainda lançou uma marca de roupas sem gênero e prometeu lançar um livro contando sua trajetória.
“É a nossa responsabilidade tornar o mundo um lugar melhor”, disse a atleta, durante discurso em comemoração pela vitória na Copa.
Meghan Markle
Muito antes de ser duquesa de Sussex, esposa do príncipe Harry ou artista de Hollywood, Meghan Markle já era feminista. E mesmo tendo que cumprir os protocolos da realeza, ela não deixou seu ativismo de lado em 2019. No Dia Internacional da Mulher, ela fez um pronunciamento defendendo firmemente a igualdade de gênero. “Se há uma injustiça e desigualdade, alguém precisa dizer alguma coisa – e por que não você? Devemos ser feministas globais e incluir homens e meninos”, afirmou.
Meghan também enfrentou uma série de mentiras sendo veiculadas ao seu respeito e chegou a processar os tabloides britânicos responsáveis pela divulgação das notícias falsas. Posteriormente, em uma visita oficial à África do Sul, acompanhada do marido, o príncipe Harry, e o filho de 4 meses, Archie, defendeu a educação superior como forma de empoderar mulheres, anunciando bolsas de pesquisa e estudo para alunas de países africanos. “Quando uma mulher é empoderada, isso muda tudo na comunidade”, afirmou.
Melinda Gates
Em outubro de 2019, a cientista da computação Melinda Gates anunciou que vai investir US$ 1 bilhão em projetos que contribuam para expandir o poder e a influência das mulheres. A ideia é que a Pivotal Ventures, empresa de Melinda Gates, invista em parceiros que tenham ações inovadoras com o objetivo de desmantelar as barreiras ao desenvolvimento feminino — incluindo aí a responsabilidade pelo cuidado com a casa e com os familiares e o assédio sexual — e acelerar sua presença delas em setores-chave da economia como tecnologia, mídia e o serviço público. O esforço também objetiva encorajar acionistas, consumidores e empregados a pressionar as empresas por mudanças.
Michelle Obama
No ano passado, Michelle Obama lançou sua autobiografia e alcançou a impressionante marca de mais de 10 milhões de cópias vendidas. Neste ano, foi eleita a mulher mais admirada do mundo pelo instituto de pesquisa online YouGov, seguida de Oprah Winfrey e Angelina Jolie.
Desde que deixou a Casa Branca, a ex-primeira dama americana tem se dedicado a inspirar meninas e jovens mulheres para que elas invistam em educação e tracem caminhos rumo às posições de liderança. No final deste ano, em um tour pela Ásia, ela pediu que as meninas resistam à síndrome do impostor, que ela mesma afirma ter sofrido em sua trajetória.
Mulheres chilenas
Sexta-feira, 30 de novembro. Milhares de chilenas se reunem em Santiago e em outras cidades do país para cantar ‘El violador eres tú’, com coreografia ensaiada. Poucos dias depois, a performance estava sendo reproduzida por grupos de ativistas em cidades de países como o Brasil, França, México, Turquia e Líbano.
“E a culpa não é minha / nem de onde estava / ou de como me vestia”, diz a letra que é gritada por mulheres de olhos vendados, enquanto performam os passos ensaiados. A música acabou gerando uma catarse global na luta pelo fim da violência contra as mulheres. Quando criaram o hino contra o estupro e contra o patriarcado, as fundadoras do coletivo feminista chileno Lastesis não imaginavam que ele rodaria o mundo dessa forma, mas comemoram a adesão.
— Nós adoramos que isso ressoe em muitos países, mas, ao mesmo tempo é assustador — disseram as jovens em entrevista ao GLOBO. — Isso significa que, em culturas tão diversas, em lugares onde até pensamos que não deveria ser um problema, a violência ainda existe: do micromachismo ao estupro e feminicídio.
Olga Misik
Não importa a idade, o ano foi marcado pela demonstração de coragem das mulheres ao redor do mundo. É o caso de Olga Misik, uma jovem russa de apenas 17 anos. Recém-saída do ensino médio, a adolescente chamou a atenção do mundo com seu ativismo. Durante uma manifestação pró-democracia em Moscou, capital da Rússia, ela se sentou em frente a uma fileira de policiais — que buscavam reprimir o protesto — e leu uma parte da constituição do país. O trecho escolhido pela menina é aquele que garante o direito de se realizar protestos pacíficos. O registro do momento foi compartilhado milhares de vezes na internet e se tornou viral. Atualmente, ele é usado pela oposição política na Rússia como símbolo da luta contra a opressão do Estado.
Patricia Hill Collins
Expoente do feminismo negro, a socióloga americana Patricia Hill Collins se dedica a transmitir os conceitos que ajudou a consolidar há pelo menos três décadas e que continuam inspirando reflexões ao redor do planeta. Um exemplo é o conceito de interseccionalidade, que reforça que raça, gênero, classe e sexualidade são sistemas de opressão que se sobrepõem e que não podem ser analisados de forma isolada.
Aos 71 anos, a professora emérita da Universidade de Maryland esteve no Brasil em 2019 para divulgar o lançamento de sua principal obra, “Pensamento feminista negro”, traduzida para o português quase 30 anos depois da publicação. Para ela, que também participou da 8ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), o feminismo negro é um projeto de justiça social diante da ameaça existencial, do medo da morte com que pessoas negras lidam desde a escravidão.
Patti Smith
Considerada a mãe da poesia do punk rock, a americana Patti Smith, de 72 anos, esteve no Brasil em 2019. Em sua visita, fez dois shows marcantes e lançou seu livro mais recente. Em ‘O ano do macaco’, ela aborda suas experiências em 2016, ano no qual perdeu um amigo; ajudou outro, enfermo, a escrever; viu Donald Trump ser eleito presidente e completou 70 anos.
— Sou multidisciplinar. Tiro fotos, desenho, faço shows, sou mãe, sou ativista, mas primeiramente sou uma escritora. A escrita e os meus filhos estão no topo das minhas prioridades hoje em dia — disse, em entrevista ao GLOBO.
Com cabelos grisalhos e roupas pretas, Patti e seus músicos iniciaram o show realizado em novembro, em São Paulo, com a declaração de princípios “People have the power”. A cantora justificou a sua fama de divindade do rock e arrebatou o público em uma verdadeira cerimônia espiritual e política.
Petra Costa
Em 2019, a cineasta Petra Costa chamou a atenção do mundo ao lançar o documentário “Democracia em Vertigem”. O filme foi destaque no Festival de Cinema de Sundance, está entre os 10 melhores do ano segundo o jornal “New York Times”, e foi selecionado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para integrar a lista de semifinalistas da categoria de Melhor Documentário no Oscar de 2020 – agora o único representante brasileiro na premiação. O longa é distribuído pela Netflix e cobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a ascensão dos discursos de extrema-direita que levaram à eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018.
A atriz e roteirista britânica Phoebe Waller-Bridge, de 34 anos, é a mulher mais aplaudida da TV na atualidade e vem transformando a forma como as mulheres são retratadas na ficção. Roteirista e criadora da série “Fleabag”, ela levou os prêmios de melhor roteiro, atriz principal e série de comédia no Emmy 2019 – o mais importante prêmio da indústria da TV.
Apesar de ter mais de dez anos de carreira, 2019 foi um ano marcante na trajetória de Phoebe, com o sucesso e todos os prêmios arrebatados pela segunda e derradeira temporada de “Fleabag”. Ela também se tornou a segunda mulher a escrever o roteiro de um filme da série 007 e ainda assinou um contrato de nada mais nada menos que US$ 20 milhões de dólares (aproximadamente R$ 83 milhões de reais) com a Amazon Prime.