A luta pela água limpa no Rio

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O “verão da geosmina” está custando caro para moradores do Rio e da Baixada Fluminense. Para fugir da água com gosto e cheiro de terra fornecida pela Cedae, a população paga preços exorbitantes — com aumentos de até 400%, segundo a Polícia Civil — por galões e garrafas de água mineral. E os cidadãos que vivem essa realidade perguntam: serão os consumidores que pagarão essa conta?

— Já gastei quase R$ 200 desde que a água lá de casa passou a ter um gosto de barro. Está difícil encontrar água mineral nos supermercados, e os preços estão acima do normal — diz o aposentado Olímpio Carlos, de 59 anos.

Morador do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, Carlos foi nesta sexta-feira até Bonsucesso, na Zona Norte, para encontrar água mineral à venda. Ele comprou seis garrafas de 1,5 litro e oito de 500ml. Pagou R$ 52,14.

A professora Luzinea dos Santos, de 53 anos, também já gastou mais de R$ 200 em apenas 15 dias. Na casa onde ela mora, na Ilha do Governador, a água ficou com coloração escura e gosto ruim:

— Eu moro com o meu marido e mais três filhos, o consumo de água é grande lá em casa. Com o salário de professora, é uma quantia que faz falta no fim do mês. Não pagamos barato na conta de água, ainda temos que gastar mais no supermercado? É inacreditável termos que passar por isso.

Morador de Padre Miguel, bairro da Zona Oeste do Rio, o aposentado Pedro Rafael, de 81 anos, paga em média R$ 180 por mês à Cedae. Como a água está saindo da torneira com cheiro e gosto de terra, o idoso tem comprado água mineral. Segundo ele, a quantia gasta com esse “luxo” fará falta no fim do mês:

— Já gastei o que não podia. Vivo com a minha aposentadoria e, infelizmente, não posso me dar ao luxo de consumir água mineral sempre. Comprei um filtro que fica na torneira, mas ele não funcionou agora. A gente aperta aqui, aperta ali, e prioriza a saúde. Tenho medo de passar mal.

Mapa da crise
A crise da água começou há, pelo menos, 15 dias. Levantamento feito pelo GLOBO em redes sociais e reportagens mostra que moradores de 77 bairros da cidade do Rio e de seis municípios da Baixada Fluminense já relataram que receberam da Cedae água com gosto e cheiro de terra.

O que dizem as autoridades
Governo e Cedae
Questionado pelo GLOBO, através da assessoria de imprensa, sobre formas de ressarcimento aos consumidores, como desconto na conta de água, o governo do Rio solicitou que a Cedae fosse procurada. A companhia de água, por sua vez, não se pronunciou.

Procon
O Procon-RJ orienta que os consumidores que se sentirem lesados guardem os comprovantes de gastos efetuados com água mineral caso queiram reivindicar o reembolso deste dinheiro:

“O consumidor tem o direito de provocar o Judiciário em face da má prestação de serviço público ou privado”.

Polícia Civil
A Delegacia do Consumidor (Decon) instaurou inquéritos contra comércios e empresas que estão superfaturando o preço da água mineral no município do Rio. Uma das investigações é contra um comerciante de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, que aumentou em mais de 400% o valor cobrado por um litro de água. Ele já foi intimado e deverá depor segunda-feira.

Supermercados
Em nota, a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) informou que “orienta que os associados estejam alinhados com a lei para continuar garantindo o produto para a população com preço justo”. Sobre a escassez de água, Fábio Queiroz, presidente da associação, disse que “todos os esforços estão sendo feitos para que os supermercados continuem abastecidos com água mineral.”

Onde denunciar?
Os consumidores que se sentirem lesados pela cobrança de preços abusivos podem fazer a denúncia ao Procon (através do site www.procononline.rj.gov.br), ao Disque Denúncia (pelo telefone 2253-1177) ou registrando ocorrência na Decon, que fica na Cidade da Polícia, no Jacarezinho.

Gasto
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é recomendado ingerir, em média, de 2,5 litros a 3 litros de água por dia. Dessa forma, uma família com cinco pessoas precisa de até 15 litros por dia. Tendo como base os 15 dias de crise, já foram 225 litros de água consumidos. Seriam necessárias, então, 450 garrafas de 500ml, que o GLOBO encontrou à venda nesta sexta-feira com preços entre R$ 0,83 e R$ 1,28. Ou seja, o gasto desta família só com a água “a preço de ouro” pode ter ficado entre R$ 373,50 e R$ 576 nessas duas semanas.

O Globo.