A reviravolta na rede social tucana
Foto: Fernanda Calgaro/G1
O perfil do PSDB no Twitter começou a chamar a atenção em 13 de janeiro, quando ironizou a indicação de “Democracia em Vertigem” – que mostra o processo de impeachment de Dilma Rousseff em tom favorável à ex-presidente petista – ao Oscar de melhor documentário.
Parabéns à diretora Petra Costa pela indicação de melhor ficção e fantasia por Democracia em Vertigem.
— PSDB (@PSDBoficial) January 13, 2020
Depois, na última quarta, veio o vídeo abaixo, pedindo para as pessoas darem “uma passadinha no nosso TikTok”.
PSDB e PT são iguais? Não! Se quiser saber mais sobre o partido é só dar play nesse vídeo. E aproveita e dá uma passadinha no nosso TikTok. É só clicar aqui: https://t.co/8akYsmb0Yn pic.twitter.com/98vFljbmBJ
— PSDB (@PSDBoficial) January 22, 2020
Muita gente estranhou o tom pretensamente “jovem” das postagens tucanas.
E tentaram imaginar como os velhos caciques do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, encaixariam-se nessa estratégia.
Os verdadeiros responsáveis pela estratégia dizem que é uma escolha pensada para dar mais visibilidade ao partido, que em 2018 sofreu a derrota mais pesada de sua história numa eleição nacional, com o ex-governador Geraldo Alckmin ficando em 4º lugar.
Quem está por trás das redes sociais do PSDB são dois assessores que acompanham o presidente da legenda, o ex-deputado Bruno Araújo (PE), desde os tempos de Câmara, passando pelo Ministério das Cidades do governo Temer.
O cientista político Vítor de Almeida Diniz, de 28 anos, imprime a linguagem pretensamente millennial aos tuítes, ao lado do jornalista e filósofo Fabiano Lana, o quarentão da equipe de seis pessoas.
Os posts são disparados de uma sala da sede nacional do partido, em Brasília.
A postagem sobre do documentário de Petra Costa foi a que rendeu o maior número de interações na rede social dos tucanos. Nove mil curtidas, mais de mil retuítes e muitos comentários, entre elogios e reclamações. O PSDB ficou o dia todo nos trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter.
“O partido participou intensamente do impeachment, como é que ia ficar calado? A linguagem pode ser mais informal, mais descoladinha, mas o conteúdo é o que o PSDB defende”, disse Vítor Diniz ao BuzzFeed News.
Segundo ele, que assumiu a comunicação nas redes sociais há sete meses, os resultados são positivos. No caso do tuíte sobre Petra, foi 60% de repercussão positiva, disse.
E, com o rendimento do assunto, a equipe mantém a documentarista na mira. Nesta quinta-feira (23), nova provocação: por que a imprensa não chama Petra de “diretora petista”?, pergunta o “estagiário do PSDB”.
O assessor apresenta dados: desde o início do ano, sete postagens do PSDB ficaram entre as mais citadas do Twitter. O alcance aumentou 230% e as visitas ao perfil cresceram 991% nos últimos 22 dias; as menções quadruplicaram. O perfil tem 606 mil seguidores e, nesse período, perdeu 400, o que o cientista político considera normal.
Embora a maioria dos líderes do PSDB nem sequer saibam o que é TikTok, o cientista político comemora o fato de ser o primeiro partido brasileiro a entrar na plataforma de entretenimento. “Ao entrar na rede, o partido interage com um público que tem maioria jovem. O aplicativo ficou entre os três mais baixados no mundo, em 2019.”
O vídeo de TikTok foi estrelado por uma das assessoras da equipe, uma publicitária de 23 anos, e, quando foi republicado no Twitter, teve mais de 300 mil visualizações. Nos comentários, muita ironia com o tom “jovem” adotado pelo partido e muitos bolsonaristas postando fotos de FHC ao lado de Lula – para sugerir que PT e PSDB não são tão diferentes quanto o vídeo dizia.
Entre posts compartilhando conteúdo dos governadores tucanos João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), há também críticas a membros do governo federal. Ontem, para criticar o ministro Abraham Weintraub, o tuíte tucano veio recheado de erros de português, como “imprecionante” e “espediente”, aludindo à notória dificuldade do titular da Educação com a gramática da língua portuguesa.
Outro tuíte mirando o PT foi o que relembra entrevista de Lula em que ele disse, em 1979, que admirava o “fogo” de Hitler por se empenhar em cumprir seus objetivos, embora ele estivesse errado.
A postagem foi feita na sequência do episódio envolvendo o ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, que divulgou um vídeo em que copiava uma frase do ministro da propaganda nazista na Alemanha, Joseph Goebbels.
A citação à entrevista de Lula suscitou crítica da esquerda e o tuíte foi visto como uma distração ante a declaração de Roberto Alvim. “Antes dessa postagem, nós pedimos no Twitter que o secretário fosse demitido”, afirmou Diniz.
“Há sete meses estamos nessa pegada. Agora é que gerou repercussão. Mas ser mais informal não significa aderir ao baixo nível. Não tem post com ódio, com racismo, com homofobia. Essas coisas são crime e não comunicação”, disse o cientista político.