Alemanha abandona carvão para gerar energia
Foto: Wolfgang Rattay / Reuters
O governo fechou um acordo no valor de mais de € 40 bilhões (o equivalente a US$ 44,7 bilhões) nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira com as autoridades das regiões de mineração de carvão da Alemanha. O montante será distribuído a empresas e trabalhadores afetados.
Projetada para garantir que a maior economia da Europa cumpra sua meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030, a saída será acompanhada de pesados investimentos em energia renovável.
– A Alemanha, uma das nações industriais mais fortes e bem-sucedidas do mundo, está dando grandes passos para deixar a era dos combustíveis fósseis – disse o ministro das Finanças, Olaf Scholz, em entrevista coletiva.
Há um ano, a Alemanha anunciou que abandonaria o carvão o mais tardar em 2038. Essa data pode ser adiantada em três anos, de acordo com o balanço a ser feito pelas autoridades em 2026 e 2029.
A decisão marca uma grande reviravolta na coalizão conservadora-social-democrata da chanceler Angela Merkel. A coalizão havia abandonado metas de redução de emissões consideradas inatingíveis pouco depois de assumir o governo em 2017, mas voltou atrás após o crescimento de preocupações entre diversos setores da sociedade.
– Foram negociações difíceis – disse a ministra do Meio Ambiente, Svenja Schulze. – Mas você pode ver o resultado. Somos o primeiro país que tem um acordo vinculativo para abandonar o carvão e a energia nuclear. E isso é um sinal importante internacionalmente.
O ministro da Economia, Peter Altmaier, disse que a legislação será levada ao Parlamento até o fim deste mês.
As usinas mais antigas e ‘sujas’, algumas datadas da década de 1950, serão as primeiras a serem desligadas, começando por uma usina de 300 MW na Renânia, que deve ser fechada ainda este ano. Nos próximos 18 anos, as 29 restantes terão suas atividades encerradas.
– O que temos aqui é um bom acordo para a proteção do clima, porque deixa claro que queremos fazer negócios – afirmou Altmaier.
O governo acrescentou nesta quinta-feira que os certificados de emissão de carbono mantidos pelas usinas seriam cancelados após o fechamento, uma medida que deve limitar as emissões e elevar os preços dos certificados negociados sob o esquema da União Europeia.
Os analistas pensaram que o impacto no mercado de carvão seria limitado, já que a demanda da UE por carvão estagnou por muito tempo diante da concorrência de fontes renováveis e de gás. Mas os preços do carvão caíram 40% no ano passado e mal se recuperaram desde então.
Os estados afetados de Brandemburgo, Saxônia e Saxônia-Anhalt, no leste, e Renânia do Norte-Vestfália, no oeste, receberão uma compensação de Berlim de até € 40 bilhões.
Já as empresas afetadas receberão € 4,35 bilhões. Isso inclue a RWE, que segundo duas fontes governamentais receberá € 2,6 bilhões pela desativação de duas usinas a carvão, e a mineradora Mibrag, de propriedade do grupo tcheco de energia EPH, que receberá € 1,75 bilhão.
As ações da RWE, a maior operadora de usinas a carvão da Alemanha, subiram 3%, para € 30,3 , seu nível mais alto desde 25 de setembro de 2014 nesta quinta.
As empresas intensivas em energia que competem internacionalmente serão elegíveis para subsídios anuais a partir de 2023 para compensar os custos mais altos de eletricidade causados pela saída do carvão, disse o porta-voz do governo Stefan Seibert, sem dar detalhes.
Mesmo assim, a associação da indústria BDI criticou o acordo, dizendo que as empresas esperavam obter mais ajuda para lidar com o aumento dos custos de energia.
Seibert disse que Berlim também pagaria uma compensação aos funcionários afetados pela lei de eliminação do carvão até 2043. A soma exata para cada trabalhador permanece incerta.