Bolsonaristas e ex-bolsonaristas se enfrentam em SP
Foto: Geraldo Magela / Agência Senado
A falta de um candidato do presidente Jair Bolsonaro na eleição municipal de São Paulo está levando a uma pulverização de pretendentes a prefeito no campo conservador da capital paulista. Eles estão de olho no espólio eleitoral de Bolsonaro — o partido do presidente, o Aliança pelo Brasil, não deverá lançar candidatos. Três milhões de eleitores (44%) votaram no presidente no primeiro turno na cidade e agora, dois anos depois, passam a ser alvo da cobiça de candidaturas de direita.
Já são quatro os nomes desse campo político que se colocaram na disputa para prefeito: a deputada Joice Hasselmann (PSL), o ex-secretário municipal Filipe Sabará (Novo), o deputado Marco Feliciano (sem partido) e o deputado estadual Arthur do Val, Mamãe Falei (sem partido).
Os dois últimos surgiram no cenário eleitoral paulistano depois do rompimento de Bolsonaro com o PSL. O apresentador José Luiz Datena (sem partido) é uma possibilidade sempre lembrada por ter a simpatia da família Bolsonaro, mas, até o momento, ele não se apresentou como possível candidato.
A eleição municipal deste ano será a primeira após a onda conservadora que varreu as urnas nas disputas presidenciais e estaduais de 2018 e resgatou o protagonismo do eleitorado de direita.
Em São Paulo, essa força política estava em declínio desde os anos 1990, com o fim do malufismo. Agora, o espólio eleitoral de Bolsonaro reacendeu o ímpeto de candidaturas conservadoras.
Embora representante do conservadorismo, a maioria dos pré-candidatos de direita em São Paulo não se coloca como aliado de Bolsonaro. Joice, por exemplo, rompeu politicamente com o presidente e faz a linha da candidata que busca atrair o eleitor conservador e frustrado com o presidente. Apesar de já ter dito que será candidata a prefeita, ela tem ainda um futuro incerto na disputa. No fim do ano passado, a deputada engatou conversas com o DEM sobre uma filiação e também pode vir a ser candidata a vice do prefeito Bruno Covas (PSDB).
Candidato a prefeito lançado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur do Val segue a mesma cartilha de Joice, defendendo valores de direita e criticando ações de Bolsonaro. Ele, assim como Marco Feliciano, está sem partido e precisa encontrar uma legenda até o fim de março caso queira se candidatar.
Feliciano estava filiado ao Podemos, mas foi expulso depois de ter dito que estava à disposição de Bolsonaro para sair candidato a prefeito de São Paulo. “São Paulo é o estado mais conservador da nação. Sua capital é a maior cidade do Brasil. Nas eleições, precisa ter um candidato verdadeiramente conservador, inclusive para defender o legado do presidente Jair Bolsonaro. Eu me coloco à disposição do presidente e me candidato!”, publicou o deputado nas redes sociais no mês passado.
Único que não é parlamentar desse grupo, Filipe Sabará acena para o eleitorado conservador pelo viés das pautas econômica e da segurança.
— A política econômica e as iniciativas na segurança pública do governo Bolsonaro batem muito com o que eu penso. Acreditamos no Estado mínimo e na liberação do porte de armas — afirmou Sabará, que foi secretário de Assistência Social na gestão João Doria (PSDB) na prefeitura.
Candidato à reeleição, Bruno Covas torce pela fragmentação de candidaturas nos campos conservador e de esquerda. O prefeito se apresenta como um candidato moderado e de centro e, segundo cálculos de seus aliados, quanto mais candidaturas houver à direita e à esquerda, mais chances de vitória teria o tucano. O objetivo do prefeito é ser a única opção eleitoral de centro em 2020. Hoje outro candidato, Andrea Matarazzo (PSD), disputa com Covas esse flanco do eleitorado.
Nos últimos 30 anos, o resultado das eleições municipais de São Paulo mostrou que os presidentes da República tiveram pouca influência sobre o voto dos paulistanos. Desde a redemocratização, somente a então presidente Dilma Rousseff conseguiu eleger seu candidato a prefeito na capital paulista, Fernando Haddad (PT).
Os demais, de José Sarney a Michel Temer, falharam nessa tarefa. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu com os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin. Seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, também teve duas derrotas na capital com a então candidata a prefeita Marta Suplicy.
O peso de um apoio de Bolsonaro nas eleições municipais é uma incógnita. O presidente disse há duas semanas que não pretende se envolver em candidaturas, se seu novo partido não participar da disputa. São consideradas mínimas as chances de Bolsonaro registrar o Aliança pelo Brasil na Justiça Eleitoral até o prazo das eleições de 2020. A legenda está em fase de coleta de assinaturas de apoiadores para sua fundação.
No segundo turno das eleições de 2018, Bolsonaro teve 60% dos votos válidos na capital paulista.