Bolsonaro censura menção da TV Brasil à ditadura

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Foto: Reprodução

Uma reportagem do programa “Fique ligado”, da TV Brasil, sobre a exposição “O Pasquim 50 anos”, em cartaz no Sesc de São Paulo, teve suprimido um trecho que mencionava a prisão de jornalistas do semanário durante a ditadura militar. O programa foi ao ar na segunda-feira, e a parte cortada contava o episódio que ficou conhecido como a “Gripe do Pasquim”, quando nove jornalistas do folhetim foram presos durante dois meses.

O estopim para a prisão foi a publicação, em 1970, de uma paródia do quadro “Independência ou morte”, de Pedro Américo. A charge reproduzia o quadro no qual Dom Pedro I era retratado dando o grito do Ipiranga, mas sua frase era “Eu quero Mocotó”, refrão do hit de Erlon Chaves, finalista do Festival Internacional da Canção naquele ano.

Como consequência, boa parte da redação do periódico acabou detida. A área da exposição no Sesc de São Paulo que leva o nome do episódio traz outros cartuns também censurados pelo regime militar.

Toda a história relativa ao caso e uma fala de um dos curadores da exposição sobre o autoritarismo da ditadura estavam na reportagem que foi enviada pela sucursal de São Paulo, mas foram excluídas na edição em Brasília. No trecho excluído, que vai de 1m05s até 1m38s, a repórter menciona que a sátira “irritou a ditadura militar”.

— Naquela época se prendia sem muita explicação, não podia falar que eles estavam presos então houve “uma gripe” no Pasquim. Nove ficaram fora, mas, de qualquer forma, o trabalho deles aparecia feito por outros — diz Fernando Coelho dos Santos, um dos curadores da exposição, na parte que foi retirada da reportagem.

Além disso, a declaração de uma visitante da exposição que diz que “faz falta” ter um jornal como Pasquim também foi excluída. Antes, o programa era produzido e apresentado de São Paulo, mas desde o início de dezembro sucursais passaram a enviar as matérias para Brasília, onde é feita a edição final e apresentação do programa.

A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) afirmou em nota que a edição da matéria seguiu critérios de tempo compatíveis com o programa. “A EBC esclarece que a matéria foi editada obedecendo aos critérios de tempo compatíveis com o programa Fique Ligado, que prevê reportagens curtas e dinâmicas. A Empresa reitera o zelo pela produção de um jornalismo preciso, isento e de qualidade”, diz o texto.

Não é o primeira vez que a EBC registra um caso semelhante. Em agosto do ano passado, o governo suspendeu um edital com participação da empresa e da Agência Nacional de Cinema (Ancine) para produções com temática LGBT que seriam transmitidas por TVs públicas. A suspensão ocorreu após as séries serem criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.

O Globo