Bolsonaro tentará ampliar acordo comercial com Índia

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Foto: Fernando Quevedo / O Globo

Na linha de que é preciso voltar os olhos para o Oriente e explorar mercados fortes, porém distantes do Brasil, a viagem que o presidente Jair Bolsonaro fará à Índia, no período de 25 a 27 deste mês, deverá ter resultados concretos, segundo fontes das áreas econômica e de comércio exterior do governo.

Segundo fontes, as autoridades indianas manifestaram interesse em um amplo acordo de livre comércio com o Mercosul – o que significaria a ampliação das atuais 450 linhas tarifárias que têm algum tipo de redução de alíquotas no comércio com aquele país, para algo como 10.200 itens.

Animados como essa possibilidade, Bolsonaro desembarcará em Nova Déli acompanhado de vários ministros e cerca de 50 empresários de vários setores. A Índia é o país que mais cresce no mundo e, mesmo assim, as vendas para aquele mercado representam apenas 1,25% do total exportado pelo Brasil.

Com um PIB de cerca de US$ 9,5 trilhões, a expectativa é que a Índia será a nação mais populosa do mundo até 2030, superando a China. Porém, as trocas comerciais com aquele país asiático são muito baixas, em comparação com a China, por exemplo.

Enquanto a corrente de comércio (soma de exportações com importações) com os chineses é da ordem de US$ 100 bilhões por ano, o fluxo com os indianos está em menos de US$ 7 bilhões.

O Brasil exporta mais ao mercado indiano petróleo, óleo de soja, ouro e açúcar. Compra da Índia, principalmente, químicos, medicamentos, querosene de aviação e fios têxteis.

– Há muito o que ser explorado. A pauta comercial e os investimentos poderiam ser bem mais diversificados – afirma o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, Leonardo Ananda.

Segundo o secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Itamaraty, Reinaldo José de Almeida Salgado, a possibilidade de um acordo comercial mais amplo com o Brasil e o resto do Mercosul. Ele confirmou que o tema será abordado durante a visita de Bolsonaro àquele país.

– Queremos algo mais ambicioso na direção de um acordo de livre comércio e houve receptividade inicial dos indianos – disse Salgado.

Por outro lado, Brasil e Índia têm tido algumas divergências. Assim como os demais integrantes do Brics (sigla do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os indianos não se conformam com o fato de o governo Bolsonaro, para conseguir o apoio dos Estados Unidos à candidatura do Brasil a membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ter aberto mão do tratamento diferenciado dado a países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).

De acordo com o cientista político e pesquisador da Universidade de Harvard, Hussein Kalout, no plano político, Brasil e Índia vinham se articulado na construção de regras comerciais mais justas e equilibradas. Os dois países haviam estabelecido uma parceria estratégica na OMC contra o protecionismo europeu e americano, em defesa do países em desenvolvimento.

– Com os movimentos da atual diplomacia brasileira, o espaço para uma articulação mais sinérgica nesse campo fica limitada. O Brasil abriu mão de sua projeção e de seu um papel de liderança no comércio internacional. Em certa medida, estaremos a reboque de outros países do que partícipes ativos na modulação das regras do jogo comercial. O acordo EUA-China é uma bomba para o agronegócio brasileiro – disse Kalout.

Não há uma definição sobre a possibilidade de o governo brasileiro deixar de exigir visto para o ingresso de indianos no Brasil, como fez com outros países. Está prevista a assinatura de acordo em diversas áreas: agricultura, previdência, investimentos, segurança cibernética e bioenergia.

O Globo