EUA ampliam sanções para isolar Irã economicamente
Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Uma semana depois do ataque que matou o general iraniano Qasem Soleimani e dois dias após a resposta de Teerã na forma de um ataque de mísseis contra posições americanas no Iraque, o governo dos EUA anunciou um novo e duro pacote de sanções contra Teerã.
As medidas focam em lideranças do setor de segurança do país, incluindo Ali Shamkhani, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Mohammad Reza Ashtiani, vice-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, e Gholamreza Soleimani, chefe das milícias Basij, uma das principais organizações políticas e paramilitares do regime.
Outro alvo foi o setor de mineração, com 17 empresas incluídas na lista do Escritório de Controle de Bens Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês), responsável pela aplicação de sanções, além de companhias iranianas, chinesas e de Seychelles, acusadas de ajudar a burlar regras do Departamento do Tesouro dos EUA.
Washington também vai aplicar sanções a todos os agentes — americanos ou não — que mantiverem transações com os setores de mineração, construção civil, manufaturados e têxtil. Quem desrespeitar essas medidas corre o risco de ter bens congelados e o acesso ao mercado americano negado, algo que poucos estão dispostos a fazer.
O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, deixou claro que essa é uma resposta ao ataque realizado contra bases usadas pelos americanos no Iraque e ao que considera ser “ameaça terrorista” do Irã.
A política de sanções contra o Irã, uma constante nas relações entre os dois países nas últimas quatro décadas, foi amplificada após a decisão do governo americano de abandonar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, em 2018. O governo Trump diz estar atrás de um “acordo melhor”, que inclua o desenvovimento de mísseis balísticos do país e sua atuação regional. Por enquanto, não há qualquer sinal de conversas neste sentido.
“Essas sanções vão continuar até que o regime suspenda o financiamento do terrorismo global e se comprometa a jamais obter armas nucleares”, disse Mnuchin, em comunicado. O representante dos EUA para o Irã, Brian Hook, uma das principais vozes em defesa da política de “pressão máxima” sobre Teerã, declarou que as novas medidas atingem alguns dos principais setores de exportação e mantêm a economia local em “respirando por aparelhos”. Ele ainda afirmou que as sanções e o fato de os EUA estarem fora do acordo nuclear se mostram “mais efetivos” para evitar que o Irã consiga uma arma nuclear.
— Isso nos permite responder às agressões regionais do Irã e é isso que estamos fazendo através de nossas sanções.
Ao comentar as medidas, Mohsen Rezaei, alto oficial da Guarda Revolucionária e também incluído na lista de sanções da Ofac, disse no Twitter que as sanções “são simbólicas”, e que é “uma honra” para ele ter sido lembrado por Washington.
Para Esfandyar Batmanghelidj, editor do site Bourse & Bazaar, focado na economia iraniana, um item a ser mencionado com atenção é o que fala das empresas chinesas. Segundo ele, apesar do comércio entre China e Irã se manter constante a despeito das sanções, os americanos evitaram medidas que pudessem atingir de forma mais dura grandes empresas do país, como a ZTE, a Huawei e a COSCO, todas com posições relevantes na economia iraniana. Isso reflete a preocupação dos americanos com as suas próprias negociações comerciais com os chineses, e a pouca disposição em provocar ruídos neste momento.
Outro ponto, segundo Batmanghelidj, é o fato de muitas empresas citadas já estarem sob sanções, mostrando que a política de “pressão máxima” não está mais surtindo efeitos sensíveis:
“Essa política de sanções não vai nem derrubar a economia iraniana a curto prazo, tampouco aproximar os EUA de negociações diretas”, afirmou.
Além de atacar o que chamou de “apoio ao terrorismo internacional” por parte do Irã, o secretário de Estado, Mike Pompeo, voltou a defender a ação que matou Qasem Soleimani, chefe das Forças Quds, braço internacional da Guarda Revolucionária do Irã. Segundo o chefe da diplomacia americana, havia o “risco iminente” de ataques coordenados por Soleimani contra alvos americanos, incluindo embaixadas. Por isso, segundo ele, a ação se justificou.
Essa ideia foi corroborada pelo próprio Donald Trump: falando à Fox News, ele disse acreditar que a embaixada americana em Bagdá era uma das quatro representações consulares do país que, segundo informações de inteligência, seriam atacadas por ordem de Soleimani.
Na quinta-feira, também à Fox News, Pompeo havia reconhecido não ter indicações de “quando ou onde” a suposta ameaça ocorreria. Até agora não foram apresentadas evidências sobre a iminência de ataques, nem se a morte do militar evitará que eles aconteçam eventualmente.