General diz “É Bolsonaro ou Lula de volta”

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Foto: Sérgio Lima/Poder360

Em 23 de janeiro de 2019, às 17h33, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, disparou um tuíte em sua conta pessoal, antecipando um discurso de campanha eleitoral, como se os 3 anos que faltam para encerrar-se o mandato do presidente Jair Bolsonaro fossem apenas 3 meses.

Mais peculiar que a precocidade do discurso, em tom de campanha, foi seu conteúdo, pelo qual o general adianta que o bordão de Bolsonaro será, mais uma vez, a polarização com Lula.

Recentemente o presidente disse, em entrevista ao SBT, que o líder do PT seria “carta fora do baralho” nas próximas eleições. Isso, no entanto, foi antes de sair a pesquisa CNT/MDA, na qual, em respostas espontâneas, 29,1% das pessoas disseram que hoje votariam em Bolsonaro, enquanto Lula estaria em 2º, com 17% –ambos longe do 3º colocado, Ciro Gomes, com 3,5%.

A popularidade de Bolsonaro (48% de aprovação) melhorou, dada uma melhora suave também na economia, graças a certa racionalidade devolvida ao território econômico, já desde os tempos do governo Temer. Isso não quer dizer que o presidente é a carta certa do baralho, porque ainda há mais 12 milhões de desempregados e desafios imensos que a recuperação atual ainda está longe de vencer.

No tuíte, Heleno afirma que o brasileiro não tem alternativa, senão votar em Bolsonaro –ou teremos o fantasma de Lula de volta. “Ou vocês confiam no Capitão Jair Bolsonaro, que teve visão e coragem para, sem recursos, enfrentar o Sistema e nos dar esperança de mudar, ou continuarão atacando-o e devolverão o Brasil à esquerda, em 2023”, escreveu. “A Argentina está aí para provar que estou certo.”

O tuíte não teria maior importância se Heleno não fosse o homem operacional do governo –e tão próximo do presidente que não teria escrito nada disso sem já ter conversado com ele sobre o assunto. Porém, com suas ideias, o general acaba querendo colocar os brasileiros justamente na situação em que os argentinos se encontram.

A Argentina já vem alternando governos de ideologia diametralmente oposta. E é de fato um bom exemplo, para mostrar que na realidade nada está funcionando –seja o populismo assistencialista que está de volta, depois de não dar certo, seja pelo liberalismo do governo anterior, que também fracassou.

O atual presidente argentino, Alberto Fernández, é a prova viva de que o ruim dá saudade, diante do pior. A Argentina do liberal Maurício Macri trocou o estatismo assistencialista da era Kirchner pelo liberalismo radical. Porém, não aconteceu o esperado milagre.

Ao contrário, a Argentina se encontra presa ao círculo vicioso da polarização, que não traz bons resultados a ninguém, exceto aos que se encontram momentaneamente no poder.

Como sentiram na pele os argentinos, o país com Macri foi uma experiência funesta. Cresceram as dívidas interna e externa e 1/3 da população, cerca de 13 milhões de pessoas, passou para baixo da linha da miséria, de acordo com o levantamento do Indec, o IBGE argentino.

Em Buenos Aires, 41% dos cidadãos se encontram na penúria. O governo, quebrado, pediu moratória pouco antes da eleição, no final do ano passado.

Fernández, que tem como vice Cristina Kirchner, com quem já trabalhou antes, venceu com promessas populistas, desde o congelamento de preços até a volta dos programas assistencialistas –um filme que todo mundo também já viu.

Se Argentina e Brasil possuem um problema em comum, não é o receio da volta da esquerda, e sim a polarização eleitoral entre dois antípodas com receitas igualmente anacrônicas, o que tem colaborado para o desastre econômico de ambas as nações.

A polarização política serve apenas para anestesiar a população com falsas esperanças, diante de uma realidade que não muda. Seus métodos hoje são tão antiquados quanto os ideologismos aos quais pertencem, que remontam aos primórdios do capitalismo industrial –tanto o liberalismo castiço como a sua crítica, que tem a idade das barbas de Karl Marx.

Isso explica porque a economia latino-americana, assim como boa parte da mundial, não reage mais a soluções econômicas ortodoxas, seja à direita, seja à esquerda.

A continuidade da crise provoca a alternância do poder entre forças antagônicas, com receitas opostas, definidas sobretudo pelo peso do Estado na economia. Porém, não é isso mais o que está mais em jogo num planeta onde o Estado em si está em crise, neutralizado em grande parte num cenário onde empresas multinacionais criam moedas virtuais, colocando à margem os bancos centrais, o sistema financeiro sofre uma desregulação global e as fronteiras na prática já não existem, apesar dos esforços protecionistas e nacionalistas de líderes conservadores que tentam tapar o sol com uma peneira.

Empresas transnacionais, a competição com a força de trabalho da China e da Índia, e a tecnologia disruptiva, que tem eliminado setores inteiros da economia tradicional, são hoje uma força global que produz um efeito também global de desemprego e exclusão social.

Isso, bem no momento em que a tecnologia deu também à população, por meio das redes sociais, a capacidade de se expressar e se organizar coletivamente com uma rapidez e eficiência nunca vistas. Daí manifestações em todo o mundo contra a pobreza, a concentração de renda, a corrupção e a ineficácia geral do sistema público, como a que levou 250 milhões de pessoas a uma greve geral na Índia, em 6 de janeiro.

O Brasil está muito acostumado a olhar para o próprio umbigo, o que leva muita gente a pensar que a vida hoje se divide entre Bolsonaro e Lula –especialmente eles mesmos e as pessoas que gravitam ao seu redor. A realidade é outra. Não há hoje como pensar no Brasil sem olhar para o resto do mundo –e não há solução sem criar uma agenda que não tenha como referência o passado, e sim o futuro.

Qualquer país hoje tem de pensar numa estratégia para sair da crise e, ao mesmo tempo, aproveitar as oportunidades do capitalismo tecnológico, que mudou a maneira de pensar, o comportamento, o consumo –enfim, tudo. Esse neocapitalismo pede por mudanças também na gestão pública.

No governo, assim como hoje ocorre nas empresas privadas que tentam sobreviver inovando, é preciso começar a pensar fora da caixa. Isso se quisermos ver o Brasil lá na frente entre os melhores, em vez de estar no topo da lista da violência urbana, da concentração de renda e do analfabetismo funcional, como hoje.

Na Argentina, é verdade, a volta do kirchnerismo soa como a crônica de uma tragédia anunciada. Isso não significa, porém, que seria desejável a volta de Macri. É nisso que Bolsonaro deveria pensar. A única coisa que garante a popularidade de um governante é um governo que atinge as expectativas do eleitorado.

A baixa velocidade do progresso brasileiro já mostra a necessidade de uma 3ª via, que leve a soluções ainda não vistas, capazes de restabelecer a autoridade do Estado e a eficiência da gestão pública, dentro do ambiente democrático. O único, por sinal, onde se pode escolher livremente, e não somente aqueles políticos que preferem deixar o povo sem muita opção.

Poder 360