Impune, Aécio tenta se reerguer
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Distante dos holofotes desde que se elegeu deputado federal e desgastado politicamente após ter sido gravado pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, acertando o pagamento de R$ 2 milhões para advogados que o defendem, Aécio Neves (PSDB-MG) tem atuado nos bastidores para reverter sua imagem junto aos colegas no Congresso.
Nos últimos dez meses, o mineiro foi bem-sucedido em dois episódios: convenceu a cúpula do PSDB a arquivar um pedido para que fosse expulso da legenda e inviabilizou temporariamente a candidatura de um aliado do governador de São Paulo, João Doria, à liderança do partido na Câmara dos Deputados.
Adepto da política de bastidores, o mineiro desempenhou papel de articulador e conselheiro da “bancada da selfie” — como são chamados os novatos que fazem questão de transmitir seus discursos e votações pelas redes sociais.
Em pouco tempo na Câmara, o ex-senador conquistou a confiança de mais da metade da bancada, de 33 deputados federais. Aliados de Aécio justificam o avanço na articulação traçada por ele com a máxima de que na política não existe vazio de poder.
Aécio conseguiu medir esse apoio justamente no caso da disputa da liderança do partido na Câmara. A guerra pelo posto ocorreu em dezembro passado e explicitou o racha na bancada.
De um lado, aliados de Doria tentaram emplacar o deputado federal Beto Pereira (MS). Do outro, aecistas apoiaram o nome de Celso Sabino (PA), relator do parecer que absolveu o mineiro de uma eventual expulsão do PSDB.
Acostumada a decidir a liderança por meio do voto, a divisão da bancada chegou ao clímax, repetindo a “guerra de listas” com apoios ocorrida há alguns meses no PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro.
Na briga por votos, Doria assumiu a articulação para aumentar a bancada na Câmara. O suplente Miguel Haddad (PSDB-SP) assumiu provisoriamente a vaga do deputado Guilherme Mussi (PP-SP), que é aliado do governador. Houve ainda a filiação do suplente Luiz Lauro Filho (PSB), sobrinho do prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), que migrou para o PSDB e assumiu vaga na Câmara no lugar de Jefferson Campos, do PSD, que pediu licença. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi secretário da Casa Civil de Doria no início do governo dele em São Paulo.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, precisou intervir e costurou uma solução provisória: manter o líder em 2019, o deputado Carlos Sampaio (SP), pelo menos até fevereiro, para apaziguar os ânimos.
Reservadamente, deputados tucanos reclamam da gestão de Sampaio. As críticas a ele vão desde a ausência de orientações aos deputados para as votações em plenário à falta de reuniões de bancadas ou posicionamento mais firme do PSDB perante as pautas do governo de Jair Bolsonaro.
Essa guerra pela liderança promete novos capítulos em fevereiro, no retorno das atividades parlamentares. Carlos Sampaio conta com o apoio discreto de Bruno Araújo, que evita se manifestar publicamente sobre o tema. Ao tentar manter um paulista no poder na Câmara, Araújo faz um cálculo matemático: ele se preocupa com a possibilidade de redução do número de prefeituras eleitas em 2020 e, principalmente, com a disputa em São Paulo.
Lá, o atual prefeito Bruno Covas sofre desgaste por estar no partido de Aécio Neves, investigado pela Lava-Jato, e também por ser da legenda de Doria, que ficou mal avaliado na capital por ter “trocado” a prefeitura pelo governo de São Paulo. Em 2016, o PSDB cresceu na onda anti-PT. Já em 2020, tucanos admitem reservadamente a previsão de perder prefeituras.