“Me senti violentada”, diz Debora Bloch sobre Alvim

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Fabio Audi / Divulgação

O vídeo do ex-secretário da Cultura, resgatado da estética nazista dos anos 30, revela-nos — se ainda houvesse dúvidas — uma personalidade megalômana e narcísica, desejosa de apagar a história da cultura brasileira e apontar armas à atividade dos artistas livres.

Alvim demonstra o mais profundo desdém pelo nosso passado. Por aqueles que trabalharam até aqui e fundaram a nossa cultura. Pela importância da contribuição das artes indígena, africana, portuguesa, francesa, e dos diversos povos colonizadores, na construção de um patrimônio cultural heterogêneo e inigualável. Ignora o alcance que as diversas expressões culturais e artísticas brasileiras têm no mundo inteiro. Desrespeita os escritores, os poetas, os compositores, os músicos e intérpretes, os dramaturgos e atores, os artistas plásticos, os coreógrafos e dançarinos, e todos os demais artistas que há décadas vem conquistando o mundo com a sua arte e pujança criativa.

E ainda desrespeita e ignora tantos momentos importantes da nossa cultura recente: A Semana de 22, o Tropicalismo, o Teatro Oficina, o Teatro Brasileiro de Comédia, o Modernismo Brasileiro, a Bossa Nova, o Cinema Novo, o Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho, para citar apenas alguns.

Me senti violentada, mais do que como judia, sobretudo como brasileira formada pela nossa literatura, pela música brasileira, pelo samba, pelos tambores do candomblé, pelo teatro e cinema que sempre me revelaram o Brasil que tanto amo.

Por que deveríamos ter apenas uma cultura judaico-cristã? E a cultura indígena, a cultura africana, que está na formação de todos que nascemos e crescemos no Brasil? Essa é a cultura do povo brasileiro, quer o Sr. Alvim queira ou não. Diversa e plural como a própria humanidade.

Sugerir que a cultura brasileira começaria a existir a partir do seu mandato, além de desrespeitar os nossos antepassados e toda a classe artística brasileira, esclarece-nos sobre a sua sanidade mental.

Mas, e agora? O Brasil precisa de uma mudança radical na postura da Secretaria de Cultura. Que se promovam políticas culturais inclusivas, agregadoras, de promoção da liberdade e da potência criativa nacional. Que se defenda os nossos artistas contra qualquer tipo de censura ou pressão institucional. Que o nosso discurso seja sobre o amor e nunca sobre a guerra.

Exijamos que o próximo secretário da Cultura dialogue e respeite a comunidade artística a qual terá o dever de representar, e que à queda deste fanático se siga a queda dos delirantes restantes.

O Globo