“Namoradinha do Brasil” resolve namorar o fascismo
Foto: Reprodução
A atriz Regina Duarte sinalizou que aceitará o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria da Cultura. Eles se encontraram ontem em uma sala no aeroporto Santos Dumont, no Rio, ao final de uma visita do presidente à capital fluminense.
Em nota, o Palácio do Planalto informou que, “após conversa produtiva” com Bolsonaro, “Regina Duarte estará em Brasília na próxima quarta-feira, 22, para conhecer a Secretaria Nacional de Cultura do governo federal”. Ainda segundo a nota, a atriz teria dito após o encontro: “Estamos noivando”.
Bolsonaro usou a mesma metáfora ao desembarcar em Brasília, no fim da tarde. À porta do Palácio da Alvorada, onde era esperado por fãs e jornalistas, ele fez um único comentário: “Fiquei noivo dela Fiquei noivo da Regina Duarte, tivemos uma conversa bacana”.
Presente ao encontro, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) disse ao Valor que Regina Duarte não fez nenhuma exigência a Bolsonaro. Ela disse apenas que pretendia trabalhar por “uma cultura voltada para a família e para o povo”.
Ramos afirmou ainda que Bolsonaro não recriará o antigo Ministério da Cultura. “[A Cultura] vai continuar sendo secretaria e subordinada ao Ministério do Turismo”, afirmou o ministro.
Questionado pelo Valor sobre se “quem está noivo é porque aceitou o convite de casamento”, Ramos respondeu: “Você está fazendo a leitura correta”.
A indicação agrada outras fontes do governo com quem o Valor conversou ontem sob condição de anonimato. Ela é vista como alguém “do mesmo campo ideológico” do presidente, mas com menor potencial de gerar polêmicas do que o antecessor, Roberto Alvim – demitido na sexta-feira após publicar um vídeo com diversas referências nazistas.
Essas fontes, no entanto, preveem dificuldades para a atriz, que deve trabalhar em uma pasta recheada de adeptos do escritor Olavo de Carvalho e pessoas com ideias controversas. Entre essas pessoas, está o presidente indicado para a Fundação Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, que se diz um “negro de direita” e afirmou em rede social que a escravidão foi benéfica para os descendentes de negros no Brasil. Espera-se de Regina também uma relação menos belicosa com a classe artística do que a que Alvim mantinha.
Ontem, dia de São Sebastião, a atriz fez uma publicação no Instagram dizendo-se “cristã e católica” e que “nada acontece por acaso”.
“Olha só, querido seguidor, que dia importante para ter sido chamada no Rio para uma conversa olho no olho do nosso presidente da República”, escreveu. “Olha quanto simbologia contém a vida deste homem santo. Tenho sido e quero continuar sendo grata à vida por tudo que ela me apresenta. De tudo quero tirar uma lição, um aprendizado. E vambora! Com muito amor no coração.”. Ela, no entanto, colocou uma imagem de Santo Expedito para ilustrar a postagem.
Ontem, a Rede Globo divulgou nota na qual informa que “a atriz Regina Duarte tem contrato vigente com a Globo e sabe que, se optar por assumir cargo público, deve pedir a suspensão de seu vínculo com a empresa, como impõe a nossa política interna de conhecimento de todos os nossos colaboradores”.