Neopentecostais viram objetos de desejo político

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Foto: Reprodução

O resultado das eleições de 2018, que registrou a ampliação das bancadas evangélica e da segurança pública no Congresso, estimulou os partidos a buscarem candidatos com esse perfil para o pleito municipal de outubro. As pré-candidaturas já colocadas são pluripartidárias, mas com número expressivo de postulantes de siglas mais afinadas com essas pautas, como PSL, Republicanos e PSC.

“Com cerca de 20% do Congresso evangélico, será natural o crescimento dessas candidaturas majoritárias na eleição municipal”, disse o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara (Republicanos), que é pré-candidato à Prefeitura de Manaus. “Teremos pelo menos mil candidatos evangélicos”, adiantou.

No mesmo tom, o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Capitão Augusto (PL-SP), lembra que a renovação do Congresso em 2018 teve como base os discursos de segurança pública e de combate à corrupção, em linha com as bandeiras de Jair Bolsonaro, então postulante ao Planalto. “Isso deve ter chamado a atenção dos partidos”, avaliou.

Um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) confirmou a ampliação das duas bancadas na Câmara dos Deputados em comparação com o pleito de 2014. A Frente Parlamentar Evangélica elegeu 75 deputados na penúltima eleição e ganhou o reforço de mais nove em 2018. A bancada da bala teve crescimento mais expressivo: com 61 deputados, ganhou 26 novos representantes no último pleito.

Mesmo sem a garantia de que o Aliança pelo Brasil será formalizado em tempo hábil para lançar candidatos no pleito de outubro, Bolsonaro começou a articular nos bastidores o apoio a aliados em colégios relevantes, como Rio de Janeiro e São Paulo, estratégicos para sua eventual reeleição.

Em conversas reservadas, o presidente já acenou com o apoio às candidaturas dos deputados Marco Feliciano (sem partido-SP) e Otoni de Paula (PSC-RJ) às Prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Oficialmente, Feliciano não confirma a pretensão de concorrer à sucessão de Bruno Covas (PSDB). “Eu não posso falar nada sobre isso. Estou sem partido e ainda não me reuni com o presidente para falar sobre isso”, desconversou.

A parceria de Feliciano com Bolsonaro na corrida presidencial foi apontada pela direção nacional do Podemos como fator determinante para sua expulsão da legenda. À época, ele apoiou Bolsonaro, enquanto o partido sustentava a candidatura do senador Alvaro Dias (PR). Agora, Feliciano aguarda a legalização do Aliança para ingressar na sigla de Bolsonaro.

Bolsonarista convicto, o deputado Otoni de Paula, pastor ligado à Assembleia de Deus, confirmou o aceno presidencial à sua pré-candidatura no Rio, quando deverá disputar o voto evangélico com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), bispo licenciado da Igreja Universal.

A proximidade de Bolsonaro desgastou a relação de Otoni com o governador fluminense, Wilson Witzel – também do PSC -, que entrou em rota de colisão com o presidente ao se colocar como pré-candidato à sucessão presidencial em 2022 e em meio aos novos fatos sobre a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco. Otoni adiantou que se desfiliará do PSC. “Estou em franco litígio com Witzel, meu problema com ele é de caráter”, disse.

Otoni não definiu por qual sigla concorrerá à prefeitura. A ideia seria disputar pelo Aliança pelo Brasil. “O que está definida é a disposição de Bolsonaro em me apoiar”. Segundo Otoni, Bolsonaro entende que a eleição do Rio é essencial, por ser sua base eleitoral. “Ele não quer perder nem para a esquerda nem para um aliado de Witzel”, afirmou.

Otoni acredita que o “voto útil” definirá se ele ou Crivella representarão os evangélicos em um eventual segundo turno. Ainda no Rio, o PDT investe na candidatura da deputada estadual Martha Rocha, que foi delegada da Polícia Civil. Ela aparece em terceiro lugar nas pesquisas, atrás de Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Freixo (PSOL), mas à frente de Crivella.

Em Salvador, o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) – o mais votado no pleito de 2018 com 323 mil votos – lidera a corrida para a prefeitura. Fenômeno eleitoral no Estado, seu filho, João Isidório (Avante), foi o deputado estadual mais votado. Egresso da Polícia Militar, onde passou 38 anos, e pastor ligado à Assembleia de Deus há 26 anos, Pastor Isidório integra as bancadas evangélica e da bala.

Ele consolidou-se como liderança popular em Salvador com a projeção de sua obra social, que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, visitou quando esteve na capital baiana. Pastor Isidório é criador da Fundação Doutor Jesus, que assegura tratamento a 1.492 dependentes químicos. “Sou deputado laranja, sou deputado só no nome, porque na verdade sou pastor de restauração da família”, definiu-se.

O pastor ficou conhecido nacionalmente após chamar o presidente de “doido”, em um vídeo que viralizou nas redes sociais em maio. Contrário ao decreto de flexibilização das armas, Isidório disse no plenário da Câmara que iria ao Planalto discutir o tema com Bolsonaro: “Sou conhecido como doido. E para conversar com doido, só outro doido”.

Diante da liderança de Isidório, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), passou a buscar nomes competitivos com esse perfil. Uma aposta é a Major Denice Santiago, que se tornou uma liderança popular na Bahia ao coordenar a Ronda Maria da Penha, responsável pela segurança de mais de três mil mulheres vítimas de violência doméstica. Mas ela não é filiada ao PT e não tem apoio na sigla.

Mesmo sem Bolsonaro, o PSL mantém a aposta de eleger ex-policiais e militares. O vice-presidente nacional da sigla, deputado Júnior Bozzella (SP), afirmou que a legenda consolidou as bandeiras de combate à violência e conservadora nos costumes.

Nas pesquisas preliminares, o deputado estadual Delegado Francischini (PSL-PR) aparece em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Curitiba. Ex-aliado do presidente, ele rompeu com Bolsonaro e ficou do lado de Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, no racha interno da legenda.

Outros nomes do PSL bem posicionados nas disputas locais são: deputado federal Delegado Pablo (PSL-AM), de carreira na Polícia Federal, que disputará a Prefeitura de Manaus, e o comandante-geral da Polícia Militar de Santa Catarina, Araújo Gomes (PSL), que concorrerá em Florianópolis.

No começo da onda da segurança pública, o Major Araújo elegeu-se vice-prefeito de Goiânia em 2016, mas rompeu com o prefeito eleito Iris Rezende (MDB) e não tomou posse. Araújo elegeu-se deputado estadual em 2018 e agora, filiado ao PSL, enfrentará Iris na urna.

O problema é que Iris, aos 86 anos, lidera a corrida e consolida-se como liderança quase imbatível em Goiânia. Amargando os danos pelo confronto com o emedebista, Major Araújo aparece no fim da fila em sondagem feita em dezembro pelo Instituto Serpes para a Prefeitura de Goiânia, atrás do senador Vanderlan Cardoso (PP-GO) e dos deputados estaduais Elias Vaz (PSB) e Delegada Adriana Accorsi (PT).

Valor Econômico