O que se sabe até agora sobre queda do avião ucraniano

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O desastre com o voo 752 da Ukraine International Airlines, até agora sem uma explicação formal, levantou uma série de questões que foram desde as condições técnicas da aeronave até à decisão das autoridades iranianas de não interromperem o tráfego aéreo em meio aos ataques de mísseis contra posições americanas no Iraque.

A bordo estavam 176 pessoas, incluindo 167 passageiros e 9 tripulantes.

Como deveria ser o voo?
Muito usado pela diáspora iraniana para visitar o país, especialmente pelo custo e conexão fácil, o voo ligando as duas capitais leva cerca de quatro horas. Na rota Teerã-Kiev, a aeronave normalmente sai do portão de embarque por volta das 5h15, pelo horário local, e decola rumo ao Noroeste do país, alcançando uma altitude de cruzeiro de 36 mil pés, pouco menos de 11 mil metros. Em uma viagem normal, o avião da Ukraine International atravessa a fronteira com a Turquia em direção ao Mar Negro. Há alguns anos o voo era um pouco mais curto, mas com a anexação russa da Crimeia e o conflito no Leste ucraniano, o avião precisa fazer um desvio considerável antes de seguir ao aeroporto de Boryspil.

Como era a aeronave?
O Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines, prefixo UR-PSR, tinha 3 anos e sete meses de uso e não teve qualquer tipo de problema anterior relatado pela empresa. A última inspeção ocorreu no dia 6 de janeiro. Essa aeronave era usada em voos para cidades como Milão, Paris, Londres, Zvartnots, na Armênia, e Teerã. O modelo tinha capacidade para 180 passageiros, 167 na classe econômica e 12 na classe executiva.

Desde seu lançamento, em 1997, o Boeing 737-800 é considerado uma aeronave segura, com oito acidentes graves neste período, sendo que a maior parte provocada por erros da tripulação ou fatores externos. Este foi o caso do voo 1907 da Gol, que colidiu com um jato Legacy, da Embraer, em 29 de setembro de 2006. As 154 pessoas a bordo morreram.

O que se sabe oficialmente?

O voo 752 da Ukraine International decolou do aeroporto internacional de Teerã-Imam Khomeini, reservado a voos internacionais, às 6h12 pelo horário local, 23h42 de terça-feira pelo horário de Brasília. Nos dois minutos seguintes, a aeronave não apresentou problemas e foi liberada para subir até 26 mil pés, ou 7.900 metros. Porém, quando estava a 7.915 pés, ou 2.416 metros, desapareceu dos radares perto da cidade de Parand, nos subúrbios da capital iraniana. Pouco depois, caiu em um terreno a cerca de 15 km do aeroporto, explodindo ao atingir o chão às 6h18. Os bombeiros não conseguiram se aproximar por causa das chamas, e os destroços se espalharam por uma ampla área.

As autoridades iranianas dizem que a tripulação não emitiu qualquer mensagem de alerta.

O que se especula?

A primeira informação, horas depois da queda, veio das autoridades iranianas, dando conta de que teria ocorrido uma falha técnica na aeronave, que levou à queda. Inicialmente houve certo consenso de governos de outros países, inclusive da Ucrânia, que em comunicado emitido pela sua Chancelaria corroborava a hipótese de problemas no avião. Indo além, o Ministério dos Transportes iraniano disse que houve um incêndio em uma das turbinas, o que levou o piloto a perder o controle do avião e cair no chão. Dados preliminares da Organização da Aviação Civil (OAC) relatam ainda que o avião fez uma curva inesperada à direita e tentou retornar ao aeroporto, sinalizando a ocorrência de uma “falha catastrófica” a bordo.

Porém, na própria quarta-feira, surgiram rumores de que o Boeing 737-800 teria sido atingido por um míssil. Até mesmo o discurso ucraniano mudou: no segundo comunicado sobre o desastre, a menção ao desastre aéreo foi eliminada. No dia seguinte, o secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia, funcionários do governo americano e os líderes de Canadá e Reino Unido vieram a público afirmar que “há dados de inteligência” mostrando que o avião pode ter sido alvejado. Segundo a imprensa americana e a Reuters, satélites militares dos EUA mostraram evidências de dois disparos do sistema de defesa aérea iraniana pouco antes do horário em que o Boeing perdeu contato com terra, seguidos por uma grande explosão. O governo iraniano rejeitou essa explicação, dizendo ser “cientificamente impossível“.

As autoridades de todos os países ressaltam que ainda é muito cedo para estabelecer uma causa. Investgações de acidentes aéreos podem ser muito longas. Um exemplo é a da queda do voo TWA 800, em 1996, cujo relatório final saiu apenas quatro anos depois. Ou do acidente com o voo 804 da Egyptair, em 2016 — até hoje não há uma conclusão definitiva sobre o que derrubou o Airbus A-320 no Mar Mediterrâneo.

Por isso, além das duas principais hipóteses, os investigadores também trabalham com teses que incluem um ataque terrorista, uma explosão a bordo por causas não-identificadas, erro humano e até o choque com um drone.

O Globo.