Petra Cosa pode ser a primeira cineasta da AL a ganhar um Oscar
Foto: Diego Bresani/Divulgação
Aos 36 anos, Petra Costa, diretora de “Democracia em vertigem”, pode ser a primeira cineasta latino-americana a receber um Oscar. No Brasil, a indicação do filme da Netflix, que concorre na categoria documentário, despertou curiosidade (e também um punhado de críticas e fake news) sobre a trajetória de Petra. Abaixo, saiba mais sobre ela e suas obras.
Nascida em Belo Horizonte em 1983, Petra é filha do político Manoel Costa Júnior e da socióloga e jornalista Marília Andrade. Na juventude, em meio à ditadura militar, os pais da diretora militaram no PCdoB. Durante os anos 1980, Manoel foi deputado federal pelo PMDB, onde autou dentro da então chamada “esquerda independente” do partido. Já o avô materno de Petra é Gabriel Donato de Andrade, um dos fundadores da Andrade Gutierrez, uma das maiores construtoras do Brasil. A história da família da diretora não é apenas mencionada, como é parte essencial de “Democracia em vertigem”.
Assim como vários outros documentários, “Democracia em vertigem” se ocupa de um dos maiores acontecimentos da história recente do Brasil: o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mas, na obra, Petra opta por uma abordagem pessoal do fato histórico. Com uma narração em primeira pessoa, a diretora dá a sua visão sobre os acontecimentos, a partir da perspectiva de alguém que sempre se identificou com a esquerda e com o PT.
Um detalhe em especial de “Democracia em vertigem” dividiu opiniões, mesmo entre o campo progressista. Foi a decisão de Petra de alterar uma foto histórica. Conforme detalhado pela revista “Piauí”, a diretora removeu armas que apareciam ao lado de dois homens mortos na fotografia original. Os homens eram Ângelo Arroyo e Pedro Pomar, o último mentor dos pais de Petra (o nome dela é, inclusive, uma homenagem e ele). Dirigentes do PCdoB nos anos 1970, os dois foram executados pela ditadura.
Petra justificou a decisão ao explicar que as armas que aparecem na versão original da foto foram plantadas pela polícia, algo que é endossado por um relatório da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.
“Há uma razão para isso, e eu estava esperando que alguém do público notasse. Como afirmei no documentário, Pedro era o mentor político da minha mãe, e foi amplamente reconhecido que a polícia plantou armas ao redor dos corpos dos ativistas assassinados, como uma desculpa para seus assassinatos brutais”, escreveu Costa à revista, em junho de 2019.
Outra polêmica que envolveu “Democracia em vertigem” foi despertada pelo cineasta Douglas Duarte em abril de 2019. Diretor de “Excelentíssimos”, outro filme que acompanha os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff, Duarte usou as redes sociais para acusar a equipe de “Democracia em vertigem” de ter “estudado” suas ideias para obter vantagem. Acusada pelo diretor, uma das consultoras do roteiro do filme negou as acusações.
Lançado no Festival de Sundance, “Democracia em vertigem” recebeu críticas elogiosas ao redor do mundo antes de conquistar a indicação ao Oscar. O jornal americano “The New York Times” descreveu a produção como “um documentário absolutamente vital” e a elegeu um dos melhores filmes de 2019. Já a revista “Variety” incluiu Petra numa lista de dez documentaristas para acompanhar em 2019.
Segundo números divulgados pela Netflix, “Democracia em vertigem” foi o segundo documentário mais visto por brasileiros dentro do serviço de streaming em 2019, perdendo apenas para “Nosso planeta”. O filme superou títulos extremamente populares, como “Homecoming”, sobre a turnê de Beyoncé, “O desaparecimento de Madeleine McCann” e “Grandes momentos da Segunda Guerra em cores”.
Antes de alcançar reconhecimento mundial com “Democracia em vertigem”, Petra já era considerada um destaque do cinema nacional desde seu primeiro longa-metragem, “Elena”, de 2012. Neste documentário, a diretora já voltava o seu olhar para a sua família: em tom poético, o filme aborda a história da irmã de Petra, Elena Costa. Treze anos mais velha, Elena, uma atriz aspirante, cometeu suicídio quando a diretora ainda era criança. O filme conquistou os prêmios de melhor documentário nos festivais de Brasília e de Havana.
Em 2015, Petra lançou seu segundo longa, “Olmo e a gaivota”, codirigido com Lea Glob. O filme aborda a relação de uma atriz, Olivia, com a sua gravidez. O filme ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio daquele ano.