Reconstrução de Brumadinho patina na lama

Todos os posts, Últimas notícias

Quase um ano depois da tragédia, Brumadinho ainda não conseguiu aprovar o novo plano diretor, com o qual se pretende criar uma espécie de vila industrial. O último plano é de 2006. Uma nova rodada de debates na Câmara local ficou para abril próximo. A ideia seria atrair grandes montadoras de veículos, assim como acontece na vizinha Betim, o que mudaria, em parte, o perfil turístico do município.

Enquanto o projeto não sai do papel, o município é um misto de sofrimento generalizado de parentes e amigos das vítimas e de uma economia impulsionada pelas robustas indenizações.

A Vale, responsável pela tragédia, pagou no mínimo R$ 700 mil para cada parente de vítima — incluindo pai, mãe, irmãos, marido, esposa e filhos. Outros R$ 100 mil já haviam sido pagos em “caráter emergencial” logo depois da tragédia. Além disso, a empresa desembolsa até o próximo sábado (quando se completa um ano) mais um salário mínimo por adulto, meio salário mínimo para cada criança e um quarto de salário para cada criança que perdeu parente.

No total, segundo a Vale, 106 mil pessoas receberam as indenizações mensais — metade delas em Brumadinho. Moradores de cidades da região também foram beneficiados, já que o Rio Paraopeba foi poluído com os dejetos e prejudicou os moradores locais. Entre obras e indenizações, a Vale desembolsou até agora cerca de R$ 3,8 bilhões.

Além das indenizações, a economia da cidade foi impactada pela chegada de novas empresas que ali se instalaram, e que trouxeram cerca de 4 mil funcionários. Somente na área soterrada por rejeitos, que alcança 275 hectares, quase duas centenas de máquinas de grande porte estão em operação, revirando a terra, que em alguns pontos chega a ser peneirada em busca de vestígios de corpos. A ponte da estrada Alberto Torres, principal acesso à área atingida, foi reconstruída. Perto dela foi erguida uma estação de tratamento da água do rio e barreiras de contenção para evitar que os rejeitos continuassem a se espalhar.

Caminhões, caminhonetes e ônibus fretados tornaram o trânsito da cidade intenso. Aliado à frota de carros particulares, trouxeram congestionamentos às vias principais. Dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais mostram que o emplacamento de carros 0 km em Brumadinho cresceu 56% ano passado, de 464 em 2018 para 723.

— Quem não tinha carro comprou dois — ironizou o dono de um dos principais restaurantes da localidade.

Mesmo sem aprovação do plano diretor, o setor automobilístico já faz planos. Uma revendedora acaba de montar um estande de vendas em Brumadinho, de olho na demanda aquecida.

— O dinheiro é importante e a ideia é reverter os recursos originados pela tragédia para a cidade — diz Vânia Estevão, secretária de Planejamento da Prefeitura de Brumadinho.

O Globo.