Sob Moro, despencam ações da PF contra corrupção
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A quantidade de operações deflagradas pela Polícia Federal (PF) em 2019 diminuiu. Com a corporação sob o comando do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, foram 490 ações, um número 22% menor do que o registrado no ano anterior. Desde 2014, o número de operações realizadas pela PF apresentava uma linha crescente. Foram 396 naquele ano, chegando a 629 em 2018 – o recorde da corporação. A exceção foi 2017, quando houve uma pequena queda.
Ex-juiz da Lava-Jato, Moro abandonou 22 anos de magistratura para assumir a pasta em janeiro, a convite do recém-eleito Jair Bolsonaro. Ambos têm em comum o discurso de ênfase no combate à corrupção.
Segundo fontes da PF, a falta de avanços nas investigações da Lava-Jato tem gerado preocupações, principalmente em praças como São Paulo, onde os resultados estariam aquém do esperado. As tentativas de desmonte de estruturas de combate à corrupção, como as mudanças no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), também desagradaram parte da corporação.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio Boudens, porém, diz que o menor ritmo na Lava-Jato, após cinco anos, já era esperado e que o elevado número dos outros anos se deu por desdobramentos da operação. Por outro lado, Boudens destaca que o contingenciamento no orçamento afetou as atividades da PF.
Já o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, relaciona o menor ritmo das operações à queda no número de efetivo. Segundo ele, mesmo após o governo federal autorizar a contratação de 1,2 mil novos policiais, ainda há um déficit de mais de 3,5 mil agentes.
Paiva também menciona a instabilidade pela qual passou a PF este ano, após a tentativa de Bolsonaro de intervir em assuntos internos da corporação. A crise mais aguda foi em agosto, quando o presidente anunciou a troca do então chefe da superintendência no Rio, Ricardo Saadi.
Após a reação da PF, Bolsonaro chegou a afirmar que quem mandava na corporação era ele e ameaçou substituir o diretor-geral, Maurício Valeixo, aliado de Moro desde os tempos de Curitiba. A movimentação do presidente para emplacar um nome de sua confiança em seu reduto eleitoral fez Valeixo ameaçar deixar o cargo e, momentaneamente, paralisou as atividades corporativas.
Apesar dos percalços, interlocutores de Valeixo ouvidos pelo Valor minimizam o resultado. Apontam, por exemplo, que houve um aumento nos valores de bens sequestrados em 2019, numa ação que chamam de descapitalização dos grupos que atuam no crime organizado.
Também afirmam que a PF bateu recordes na quantidade de drogas apreendidas, como maconha e cocaína. Em balanço divulgado no início de dezembro, a PF afirmou que, em 2019, foram destruídas cerca de 3,4 mil toneladas de pés de maconha. O número supera a soma dos resultados dos últimos dois anos.
Questionada sobre os motivos da queda, a Polícia Federal afirmou que a análise desses dados será feita apenas no Relatório de Gestão do ano 2019, que ainda não tem data para ser enviado ao Ministério da Justiça.