“Sou um preso político”, diz ex-ministro de Evo
Foto: Manuel Claure/Reuters
Carlos Romero, poderoso ex-ministro de Evo Morales preso na terça-feira, afirmou em um breve contato com jornalistas que sua detenção tem motivações políticas e que sua vida corre perigo.
— Sou um político perseguido, eles forjaram um trecho do processo para fazer parecer que não havia falhas processuais. Temo pela minha vida — disse Romero.
O ex-ministro de Governo da Bolívia, que exerceu cargos de alto nível durante os três governos de Morales e era considerado braço direito do ex-presidente, teve uma ordem de prisão emitida porque não se apresentou à Justiça em um caso ligado à Unidade Executora de Luta Integral Contra o Narcotráfico (Uelicn).
Romero, que se isolou em sua casa desde que Morales deixou a Presidência em 10 de novembro do ano passado, estava internado no período da intimação e afirma que não se apresentou por motivos de saúde. Em 9 de janeiro, uma vigília foi montada em frente a sua casa por opositores de Morales que pediam sua prisão. No dia 10, ele foi internado de emergência, com úlcera, ansiedade e depressão.
Na terça-feira, ele foi levado do hospital para depor na Promotoria. De lá, foi transferido para um presídio judiciário, onde espera uma audiência que decidirá se sua prisão será convertida em provisória, como pediu o Ministério Público boliviano. O órgão o acusou de descumprimento de deveres, entre outros crimes, e anunciou que solicitará sua detenção preventiva por seis meses na prisão.
De acordo com o procurador Ruddy Terrazas, Romero fez uso indevido de sua influência em contrato assinado pela Uelicn com a empresa Horizontal de Aviación Bolivia SRL. Já a defesa afirma que o ex-ministro teve direitos violados e procedimentos foram descumpridos na realização de sua prisão.
Desde que Morales renunciou após semanas de protestos e sob pressão de militares, no dia 10 de novembro, o Executivo interino, comandado pela senadora Jeanine Áñez, tem promovido diversas ações judiciais contra o ex-presidente e membros de seu governo, em uma campanha que seus opositores denunciam como “uma caça às bruxas”.
Na semana passada, o governo interino da Bolívia anunciou que vai investigar cerca de 600 autoridades de Morales por suposta corrupção.
Também nesta quarta-feira, a procuradoria convocou o ex-ministro da Coordenação de Movimentos Sociais, Alfredo Rada, a prestar depoimento nesta quinta-feira, em uma investigação por supostos sedição, terrorismo e financiamento do terrorismo.
O Ministério Público disse que o interrogatório busca obter informações relacionadas a supostos crimes cometidos quando ele era vice-ministro de Juan Ramón Quintana, o principal investigado no processo. Quintana encontra-se asilado na casa do embaixador do México desde a renúncia de Morales, e denuncia que é vítima de perseguição política.
Nesta quarta-feira, o Tribunal Constitucional da Bolívia aprovou a extensão do mandato do governo de transição de Jeanine Áñez, dos deputados e dos senadores da Assembleia Legislativa Plurinacional, assim como de prefeitos, governadores e outros representantes eleitos mediante sufrágio.
Os mandatos constitucionais dos órgãos executivos e legislativos da Bolívia expirariam em 22 de janeiro, quando terminava também o mandato de Morales. A prorrogação possibilita a extensão dos mandatos até a eleição de novas autoridades, marcada para 3 de maio.