Alemães vão às ruas contra a extrema direita

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Foto: Deutsche Welle

Sob o lema “Sem pacto com fascistas – nunca e em lugar nenhum”, a manifestação foi a última resposta à polêmica votação que elegeu Thomas Kemmerich, do Partido Liberal Democrático (FDP), governador da Turíngia, com votos dos legisladores do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), do FDP e da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel.

Kemmerich concorria contra o candidato à reeleição, Bodo Ramelow, do partido A Esquerda em coalizão com o Partido Verde e o Partido Social-Democrata (SPD), e venceu a eleição indireta por margem de um voto em 5 de fevereiro. Pressionado, ele anunciou sua renúncia no dia seguinte, e ainda permanece indefinido se haverá nova eleição na Turíngia.

O apoio ao mesmo candidato por parte de parlamentares da CDU, do FDP e da AfD provocou indignação em todo o país. A votação foi considerada uma quebra de tabu na política alemã, com o partido de Merkel acusado de promover um conluio com extremistas de direita.

A AfD da Turíngia é dominada pela ala do partido conhecida como Flügel, liderada por Björn Höcke, um político que um tribunal alemão, numa decisão incomum, decidiu que pode ser chamado de fascista por causa de suas declarações de cunho xenófobo e racista e que relativizam os crimes nazistas. Höcke tem suas atividades vigiadas pelo serviço secreto interno.

Em Erfurt neste sábado, muitos manifestantes reunidos na praça em frente à catedral da cidade carregavam cartazes em que se lia “sem pacto com fascistas”, “não há lugar para nazistas”, “não queremos o Quarto Reich” e “não queremos o poder a qualquer custo”.

A manifestação na cidade da antiga Alemanha Oriental foi convocada pela Confederação Alemã de Sindicatos (DGB) e pela plataforma Unteilbar (indivisível, em alemão), que vem organizando uma série de protestos contra a extrema direita, o racismo e a intolerância. O ato também foi apoiado por movimentos como o Fridays for Future (Greve pelo futuro).

“Eu protesto porque a AfD está ganhando muita influência nas regiões do Leste. Eu sigo otimista, caso contrário não protestaria, mas limites foram ultrapassados. Isso não pode ser aceito”, afirmou Maria Reuter, de 74 anos e moradora de Erfurt, à agência de notícias AFP.

Lido diante dos manifestantes, um discurso do presidente da Comunidade Judaica da Turíngia, Reinhard Schramm, afirmou que a extrema direita relativiza abertamente o nacional-socialismo e propaga a xenofobia, o ódio e o racismo. Para ele, a competição política entre democratas é necessária, mas a luta comum contra a AfD não pode ser sacrificada por essa competição.

Por sua vez, Stefan Körzell, membro do comitê executivo federal da DGB, disse que a eleição de um governador com apoio da AfD, 75 anos após a libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz, atesta “uma incrível ignorância e uma obsessão pelo poder”.

O escândalo na Turíngia é um dos motivos que levaram a presidente nacional da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, a renunciar ao cargo no início da semana. Designada por Merkel para ser sua sucessora, ela também anunciou sua desistência da candidatura para chanceler federal.

O caso também levou Merkel a demitir o então encarregado do governo alemão para os estados do Leste do país, Christian Hirte. Também vice-presidente do partido na Turíngia, ele foi duramente criticado por parabenizar Kemmerich no Twitter.

A manifestação contra a extrema direita coincide com os aniversários de 75 anos da libertação de Auschwitz e dos ataques aéreos que destruíram a cidade de Dresden, no Leste do país.

Sob o lema “Perturbar os nazistas”, centenas de manifestantes estão reunidos em Dresden neste sábado, preparados para interromper um protesto convocado por extremistas de direita em ocasião dos 75 anos dos bombardeios na cidade.

Espera-se que cerca de 1.500 neonazistas participem do ato neste sábado, que contará com forte presença policial. Eles planejam uma “marcha fúnebre” em homenagem ao que chamam de “martírio” da cidade no fim da Segunda Guerra Mundial.

Ataques aéreos dos Estados Unidos e do Reino Unido destruíram o centro de Dresden, capital da Saxônia, em 13 de fevereiro de 1945 e nos dois dias posteriores, pouco antes do fim da Segunda Guerra. Até 25 mil pessoas perderam suas vidas.

O aniversário do bombardeio carrega um legado complexo na Alemanha, onde muitos ultradireitistas se aproveitam da data para defender sua causa: eles dizem que os ataques foram crimes de guerra cometidos pelos Aliados e relativizam a culpa alemã na Segunda Guerra.

Historiadores afirmam que os ataques a Dresden alimentaram um discurso de vitimização alemã inventado pelos nazistas e mais tarde adotado pela extrema direita.

Por muitos anos, houve um debate intenso sobre a cifra de mortos no bombardeio. Usando números inflados propagados primeiro pelo regime nazista, grupos neonazistas falam até hoje de centenas de milhares de mortos. Um estudo feito em 2010 sob encomenda da cidade estabeleceu que até 25 mil pessoas morreram em três dias, mas isso pouco acalmou os extremistas de direita.

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