Já em Roma, Lula diz que foi para ‘ouvir’

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Foto: Edilson Dantas/O Globo

Em Roma para se encontrar com Papa Francisco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou as primeiras horas na cidade para discutir com políticos da esquerda italiana a situação do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro.

Acompanhado de seu ex-ministro Celso Amorim, que comandou o Itamaraty nos seus oito anos de governo (2003-10), e de alguns poucos assessores, Lula desembarcou na manhã desta quarta-feira em um voo comercial. Ele e sua pequena comitiva estão hospedados num hotel a dois quilômetros do Vaticano.

— Vim para ouvir — disse o ex-presidente sobre o encontro com Francisco. Será a primeira vez que o brasileiro e o argentino estarão juntos.

O encontro entre os dois foi intermediado pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, que visitou o conterrâneo no Vaticano no dia 31 de janeiro.

Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e um dos interlocutores do PT com a Igreja Católica (que não viajou a Roma por questões pessoais), conta que o pedido foi prontamente atendido por Jorge Mario Bergoglio.

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— Foi tudo muito rápido. Na mesma hora que o Alberto comentou, o papa pediu a seu secretário particular para marcar a reunião — disse Carvalho, ressaltando a deferência do pontífice com o brasileiro.

A visita de Lula a Francisco, que não consta na agenda oficial do Santo Padre, é tratada com discrição pelo Vaticano, que a considera uma audiência privada, como tantas outras realizadas frequentemente pelo argentino.

Gilberto Carvalho afirma que o papa estava acompanhando toda a situação de Lula, lembrando das visitas de brasileiros ao Vaticano para tratar da condenação do petista. Em dezembro de 2018, Chico Buarque e a namorada, a advogada Carol Proner, se encontraram com o líder católico na casa de hóspedes de Santa Marta, onde Bergoglio vive e onde provavelmente receberá Lula nesta quinta.

Na ocasião, Chico entregou a Francisco um documento sobre o chamado “lawfare”, prática de manipulação do sistema jurídico para fins políticos. O texto mencionava que “não é exagero reconhecer que o ‘lawfare’ se transforma em um dos maiores perigos para a democracia no mundo e não apenas na América Latina”.

Em julho do ano passado, num vídeo institucional divulgado pelo Vaticano, o pontífice argentino faz um alerta sobre a atuação dos juízes e diz que eles “devem seguir o exemplo de Jesus, que nunca negocia a verdade”. Francisco ainda pedia orações para que “todos aqueles que administram a justiça operem com integridade”.

Dois meses antes, em maio de 2019, o papa respondeu uma carta do ex-presidente brasileiro. Nela, Francisco faz uma analogia à páscoa (época em que a missiva foi escrita) e diz que, “no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”. Ele ainda expressa “proximidade espiritual” a Lula em razão das mortes da sua mulher, Marisa Letícia, de seu irmão Genivaldo e do neto Arthur – as duas últimas ocorridas durante seu período na prisão – e pedia para ele “não desanimar”.

Em abril de 2019, Lula escreveu a Francisco da prisão agradecendo seu apoio ao povo brasileiro e à luta pela redução da pobreza e das desigualdades sociais.

Esta é a primeira viagem internacional de Lula após ele deixar a prisão, em novembro. A ida à Itália foi autorizada pela Justiça de Brasília, que adiou uma audiência que ele teria referente à Operação Zelotes desta para a próxima semana.

Nesta quarta, o ex-presidente recebeu no hotel o atual secretário-geral do Partido Democrático (um dos dois partidos que governa a Itália), Nicola Zingaretti, e o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema, que havia visitado o petista na prisão em Curitiba em setembro de 2018.

Amanhã à noite, após o encontro privado com Francisco, Lula será recebido na Confederação Geral dos Trabalhadores Italianos, uma espécie de CUT local.

O ex-presidente deve retornar ao Brasil no sábado (15). Segundo informou o Itamaraty, os diplomatas brasileiros baseados em Roma não estão auxiliando Lula na viagem pois ela “não tem caráter oficial”.

O Globo