Polícia indiana prende mais de 500 pessoas em protestos
Foto: Reuters
A polícia indiana prendeu 514 pessoas após violentos confrontos entre hindus e muçulmanos que deixaram, desde domingo, ao menos 32 mortos no país. A prisão aconteceu horas depois de o governo receber fortes críticas internacionais por não proteger muçulmanos minoritários nos piores episódios de violência sectária no país em décadas.
Nesta sexta-feira, mais forças foram mobilizadas em mesquitas e a polícia ainda vasculha casas que foram incendiadas em busca de corpos. Segundo o governo, não houve confrontos desde a manhã de quarta-feira.
Os protestos, que já duram 40 dias, foram motivados por uma emenda na lei de cidadania que discrimina refugiados muçulmanos, parte da agenda nacionalista hindu do governista Partido do Povo Indiano (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi. A intensificação das manifestações coincidiu com uma visita do presidente americano Donald Trump ao país, na qual ele teceu elogios a Modi e disse ser difícil “pensar em um lugar com um futuro melhor” que o país do Sul da Ásia.
O partido nacionalista hindu Bharatiya Janata, de Modi, nega ter qualquer preconceito contra os 180 milhões de muçulmanos da Índia. Os críticos, no entanto, dizem que a lei é tendenciosa contra os muçulmanos e prejudica a Constituição secular da Índia.
Nesta quinta-feira, a alta comissária das Nações Unidos para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, falou em 34 mortos e disse estar preocupada com os relatos de “inação da polícia” em relação aos ataques. Segundo Bachelet, o governo indiano continua a impor restrições excessivas ao uso das mídias sociais na região, mesmo que alguns líderes políticos tenham sido libertados.
— Apelo a todos os líderes políticos para conter a violência — disse, em seu discurso anual em Genebra.
A esmagadora maioria da população indiana — mais de 80% — é hindu. Os muçulmanos, por sua vez, são 14%: algo em torno de 200 milhões de pessoas. As tensões históricas entre os dois grupos se acirraram ainda mais após Modi aproveitar a ampla vitória obtida nas eleições de maio de 2019 para emendar a lei de cidadania, facilitando a concessão de cidadania a refugiados de Afeganistão, Paquistão e Bangladesh, mas apenas para aqueles que não forem muçulmanos.
A lei, aprovada em dezembro, é acusada de violar a Constituição secular indiana. A tensão é intensificada pelas recorrentes promessas do ministro do Interior, Amit Shah, de realizar em nível nacional um “teste de cidadania” que poderá deixar todos aqueles que não conseguirem comprovar seus vínculos com a Índia vulneráveis à deportação.
Nova Délhi tem sido o epicentro de protestos, liderados por estudantes e membros da comunidade muçulmana. As manifestações têm sido recorrentes desde o fim do ano, mas se acirraram no domingo, depois que um político do BJP, Kapil Mishra, fez um discurso inflamado defendendo que a polícia limpasse as ruas dos manifestantes muçulmanos. Caso as forças de segurança não o fizessem, disse, cidadãos como ele o fariam assim que a visita oficial de Trump terminasse.