Bolsonaro agora admite gravidade do coronavírus

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

No dia em que foi confirmada a primeira morte pela covid-19 no país, o presidente Jair Bolsonaro decidiu assumir um papel de protagonismo na crise causada pelo coronavírus. Embora continue dizendo que não há motivo para “pânico” e “histeria”- pela manhã, em entrevista à Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, ele disse que a pandemia era colocada “como se fosse o fim do mundo”-Bolsonaro anunciou de tarde medidas concretas, como o fechamento da fronteira com a Venezuela e iniciativas para ajudar empresas e trabalhadores em situação informal.

À noite, ocasião em que recebeu o resultado negativo de seu novo teste de coronavírus, o presidente solicitou ao Congresso o reconhecimento do estado de calamidade pública até o fim do ano (ver matéria A5). O presidente prometeu fazer entrevistas coletivas com todo o seu ministério e com os chefes dos demais Poderes hoje para falar sobre a doença.

“A minha mensagem é para que não se apavorem. Nós vamos ter que passar por essa onda. Agora, se o pânico chegar no meio da população, tudo fica pior. Nós estamos preocupados com a questão humanitária, de vidas. Mas também com a questão econômica”, disse o presidente, ao chegar ontem ao Palácio da Alvorada. “Se o Brasil parar vai ser o caos. Vai morrer muito mais gente fruto de uma economia que não anda do que do próprio coronavírus.”

Bolsonaro disse que está “na pauta” uma ajuda às companhias aéreas, afetadas pela pandemia, que deve ser anunciada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. “Fica muito mais caro se você não colaborar [com as empresas]. Demissões virão e quando tem demissão todo mundo perde”, disse.

Ele também afirmou que o ministro estuda uma ajuda aos informais. “O Paulo Guedes falou para mim hoje que a economia informal, quem vive da informalidade, teria uma ajuda por algum tempo. Seria uma espécie de um voucher”, contou. “Está faltando definir o montante e como é que você vai organizar esse pagamento. Essa possibilidade está na mesa.”

Um dos ministros mais próximos de Bolsonaro, Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), disse ao Valor que o governo adotará medidas mais restritivas conforme o avanço da epidemia no país. Mas, segundo ele, o governo agirá “com racionalidade” para enfrentar a crise.

O governo tem à mesa uma difícil escolha: paralisar a economia para assegurar que o vírus não se espalhe, como tem feito a Europa; ou adotar medidas menos drásticas – o que preservaria empregos, mas poderia levar a uma sobrecarga do sistema de saúde. “Nossa opção é sempre por salvar vidas”, respondeu o ministro, sobre qual seria a escolha do governo. “Mas nós precisamos ser racionais.”

Oliveira defendeu que não é o momento de ordenar que a população entre em quarentena ou que aeroportos sejam fechados.

Disse ainda que trabalharia na noite de ontem no decreto que levará ao fechamento da fronteira com a Venezuela. Será interrompido apenas o trânsito de pessoas, não de mercadorias. Cerca de 500 refugiados venezuelanos entram por dia no país pela fronteira com Pacaraima (RR). “O fechamento da Venezuela é uma medida de caráter sanitário. Não tem relação com a crise”, afirmou o ministro.

Bolsonaro marcou para as 14h30 de hoje uma entrevista coletiva com todo o seu ministério. E afirmou que está costurando também uma um encontro com chefes de outros poderes, às 20h30.

Ele disse já ter falado a respeito com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Também seriam convidados o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Davi Alcolumbre (DEM-AP).

“É para a gente demonstrar a todos vocês que estamos unidos para combater o bom combate em uma causa comum, que é a questão do vírus, que vai chegar, já chegou, mas não há motivo para pânico.”

Enquanto o presidente estendia a mão ao Congresso, seu filho 01, o senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ), usava o Twitter para criticar o presidente da Câmara. “Cabe confirmar com o TSE se Rodrigo Maia foi eleito deputado federal ou presidente do Brasil”, escreveu Flavio.

Valor Econômico