Bolsonaro vai à posse de Lacalle Pou, no Uruguai

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Foto: Mariana Greif/Reuters

Enviada especial a Montevidéu – O presidente Jair Bolsonaro desembarca, neste domingo (01/03/2020), em Montevidéu, no Uruguai, em busca de um aliado político na América Latina: o novo presidente do país sul-americano, Luis Lacalle Pou, que tomará posse em uma longa cerimônia no Palácio Legislativo e na Praça Independência, centro do poder e da cultura, respectivamente, da capital uruguaia.

Lacalle Pou já sinalizou uma postura mais sóbria que a do brasileiro e indica que o alinhamento se dará no modelo econômico liberal que pretende implementar no Uruguai, após 15 anos de mando de governos de esquerda – que impulsionaram reformas sociais, mas perderam o comando do país para o candidato da direita moderada que promete revitalizar a economia e reduzir a sensação de insegurança.

Declarações consideradas desastrosas, que atentam contra direitos já conquistados, ou ataques à liberdade de imprensa, entre outros pontos mais extremados ideologicamente, não fazem parte do discurso do uruguaio.

O primeiro limite colocado por Lacalle Pou ao presidente brasileiro ocorreu durante sua campanha, quando o então candidato nacionalista não gostou de ver o brasileiro dizer em entrevista que esperava sua vitória em 24 de novembro por considerar que o uruguaio seria “mais alinhado” e “sintonizado” com seu governo.

Uma atitude desejada por Bolsonaro, porém, e que deve ter relativo sucesso, é um posicionamento mais forte do novo presidente uruguaio em relação à Venezuela. A diplomacia brasileira tem trabalhado no sentido de obter de Lacalle Pou o ingresso do país no chamado Grupo de Lima, que reúne nações da região declaradamente contrárias ao regime imposto por Nicolás Maduro.

Com o novo presidente, o Uruguai poderá passar a integrar o grupo, mas não deverá colaborar com eventuais atitudes mais radicais.

Mesmo com o relativo distanciamento, para chegar poder, em uma votação bastante apertada sobre a Frente Ampla de Tabaré Vázquez e Pepe Mujica, Lacalle Pou precisou se aliar a uma figura do campo político uruguaio com posicionamentos semelhantes ao do presidente brasileiro: o senador Guido Manini Ríos.

Ultraconservador, o general destoa dos demais aliados no discurso, mas se assemelha às falas do presidente brasileiro, principalmente na negação dos horrores da ditadura no Uruguai, assunto caro para a maior parte da população.

No ano passado, o general Manini esteve no Brasil e se reuniu com Bolsonaro e com o vice-presidente, Hamilton Mourão.

A coalizão que elegeu Lacalle Pou conta com mais quatro forças políticas de centro e de direita.

O presidente brasileiro viajará acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Após participar da cerimônia e dos cumprimentos, a comitiva será recebida pelo embaixador do Brasil no Uruguai, Joao Carlos De Souza-Gomes.

Também integram a comitiva brasileira, o chanceler, Ernesto Araújo; o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Augusto Heleno; o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS); e o deputado Celso Russomano (Republicanos-SP). Após o jantar, está prevista a volta de Bolsonaro para o Brasil, ainda na noite de domingo.

Para a cerimônia de posse, foram convidadas 1.800 pessoas. Entre as autoridades presentes estará o rei da Espanha, Filipe VI, que já foi recebido por Lacalle Pou neste sábado, para um almoço em sua residência.

Também devem participar da festa, os presidentes da Colômbia, Iván Duque; do Chile, Sebastián Piñera; e do Paraguai, Mario Abdo Benítez. Lacalle Pou não quis convidar os líderes da Venezuela, Nicolás Maduro; da Nicarágua, Daniel Ortega (Nicarágua); e o cubano Miguel Díaz-Canel. Já o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, enviará seu vice, Juan Pablo Guanipa.

O novo presidente da Argentina, Alberto Fernández foi convidado, no entanto, não comparecerá. A data coincide com o primeiro dia de funcionamento do Parlamento argentino. Assim, Fernández justificou que terá o compromisso de entregar ao Congresso as prioridades de seu governo de centro-esquerda.

A relação de Bolsonaro com Fernández ainda não teve um início. Depois de não prestigiar a posse do argentino em dezembro do ano passado, o presidente brasileiro disse que o encontraria no Uruguai para uma reunião bilateral.

O aviso de Bolsonaro pegou de surpresa a diplomacia argentina e o próprio mandatário argentino, que já havia decidido não comparecer devido ao seu compromisso no país.

Às vésperas de entregar o poder para a coalizão de centro-direita, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, 80 anos, se despediu em um ato marcado por emoções, no bairro de classe média baixa onde ele nasceu e cresceu: La Teja. Médico oncologista, Vázquez passa por um tratamento de quimioterapia após receber o diagnóstico, em 2019, de um câncer no pulmão.

Metrópoles