Lula defende a política em evento em Paris
Foto: RFI
Um ato político-artístico realizado na noite desta terça-feira (03) em Paris celebrou a libertação do ex-presidente Lula. Em seu discurso de agradecimento aos militantes, o ex-chefe de Estado brasileiro fez uma defesa da atividade política, único meio, segundo ele, de lutar contra governos autoritários e de combater as injustiças e desigualdades.
O Festival Lula Livre foi organizado por diversos coletivos que se mobilizaram na França para pedir a saída do ex-presidente da prisão. Representantes do Comitê Lula Livre de Paris, Solidariedade com Lula e da Rede Europeia em defesa da Democracia no Brasil (RED.Br) dividiram o palco com Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-candidato do PT derrotado na eleição presidencial de 2018, Fernando Haddad.
“Nossa luta comum nos levou a denunciar o golpe de Estado institucional contra Dilma Rousseff, a lutar contra a prisão política de Lula e juntar todas as nossas forças para derrotar Jair Bolsonaro e pela vitória de Fernando Haddad (na eleição)”, afirmou uma das organizadoras do evento, a historiadora Maud Chirio, para uma plateia de cerca de 500 pessoas no Théatre du Soleil, um local emblemático da cena artística francesa fundado pela diretora Ariane Mnouchkine.
Na entrada do teatro, um grupo de apenas quatro pessoas protestou contra o evento exibindo faixas. Uma delas com os dizeres: “Lula ladrão seu lugar é na prisão”.
O evento, de mais de duas horas, foi pontuado por diversas apresentações artísticas, entre elas de dançarinos do grupo ColetivA ocupação do Festival Panorama, que foi cancelado no Rio de Janeiro por corte de verbas, mas foi acolhido pelo Centro Nacional de Danse, em Pantin, na periferia parisiense.
Também houve apresentações de música, a divulgação da edição em francês do livro “A Verdade Vencerá: O Povo Sabe por que me Condenam” e leitura de uma das cartas enviadas a Lula na prisão, em Curitiba.
Em seu discurso, Haddad lembrou que Lula foi libertado mas não está livre e alertou para os dois “processos importantes” que serão analisados ainda este ano e que, segundo ele, “dependem de mobilização”: o do Supremo Tribunal Federal que deve se pronunciar pela suspeição do ex- juiz Sergio Moro no julgamento do ex-presidente por corrupção, e o da ONU de declarar a ilegitimidade da eleição presidencial de 2018 pela ausência da candidatura de Lula no pleito.
Na sequência, a presidente Dilma Rousseff afirmou que vê em Lula a “única hipótese de organização de um partido” para impedir a continuidade do atual governo, chamado por ela de “neofascista”. “Nos próximos anos e até a próxima eleição de 2022, é preciso deixar claro e tornar patente a inocência do presidente Lula. Por uma questão política, pessoal, porque é inocente, e por um questão jurídica”, justificou. “Peço que vocês não desmobilizem o Comitê Lula Livre. A palavra e ordem agora é Lula inocente”, finalizou.
No longo discurso que encerrou o Festival em sua homenagem, Lula falou de temas diversos, como a destruição em curso do legado deixado pelos governos petistas, recomendou a leitura de livros sobre a escravidão no Brasil para entender o que pensa parte da população brasileira, e lembrou de seus 580 dias na prisão, com homenagens no palco a alguns de seus apoiadores que o visitaram diariamente no cárcere.
O ex-presidente voltou a atacar as atuações do ex-juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dalagnol e disse, sem dar mais detalhes, que em breve ficará comprovada a “farsa” da operação Lava Jato.
Segundo Lula, nunca foi tão grande a desconfiança da população com seus políticos e com o Estado como agora. “Tem gente que acredita que todo político é corrupto, o Estado é incompetente, e quem é competente é a iniciativa privada”, afirmou, antes de fazer uma defesa firme da ação governamental.
“Não há hipótese de consolidar um processo democrático fora da política. Não há nenhuma hipótese. Como não há hipótese de fazer uma sociedade mais justa sem um Estado forte. Não conheço nenhum empresário que queira um Estado forte”, garantiu.
Lembrando da “honra” de ter sido condecorado com o título de cidadão honorário de Paris, no dia anterior, Lula deixou um recado para os franceses: “Todas as vezes que aqui na França vocês estiverem nervosos, que não gostarem de um político, de uma política, que é um direito de vocês não gostarem, mesmo quando você estiver contra tudo e contra todos, não desista da política. O que você precisa fazer é ter consciência que político bom, que você deseja, está dentro de você”.
Lula fez um paralelo das eleições na França e no Brasil. “A verdade é essa: o (presidente Emmanuel) Macron é resultado do nível de consciência política que estava no povo francês no dia da eleição. O Bolsonaro é resultado do comportamento do povo no dia da eleição. Portanto temos que aprender uma lição: Se quisermos construir um mundo justo e solidário, não tem outro jeito. Temos que levar para urna, não o ódio. Na urna levamos sonhos, esperança e a realidade das pessoas que a gente conhece”, opinou.
De Paris, onde durante três dias se reuniu com políticos de esquerda, ativistas e economistas, Lula viaja para Genebra e Alemanha. Ele disse que agendou encontros com a perspectiva de construir uma aliança internacional para combater a desigualdade e a fome, que segundo ele, atingem mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.