Maioria da população, mulheres são só 15% da Câmara

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Um mar de ternos escuros e gravatas. É o que se percebe em uma foto publicada pela Folha em 1º de fevereiro de 2019, que mostra o plenário da Câmara dos Deputados visto de cima. Olhando bem, alguns pontinhos coloridos se destacam entre o preto e azul dos paletós.

A imagem, registrada no primeiro dia da 56ª Legislatura, é simbólica. Os pontinhos no meio dos ternos são as mulheres que compõem a maior bancada feminina da história do Legislativo brasileiro.

Apesar do crescimento numérico delas, dois levantamentos obtidos pela Folha mostram que o Congresso Nacional brasileiro ainda é um ambiente predominantemente masculino.

Pesquisas da Transparência Partidária, com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e do OLB (Observatório do Legislativo Brasileiro) demonstram que, embora haja avanços em relação a mandatos passados, mesmo eleitas as mulheres são preteridas dentro das estruturas de poder das Casas.

Desde 1826, passaram pelos corredores da Câmara 7.333 deputados, incluindo suplentes. As deputadas vieram em 1933, e, ao longo de quase 90 anos, ocuparam 266 cadeiras.

Na eleição de 2018, a bancada feminina saltou de 53 para 77 deputadas. Hoje, estão ativas na Casa 76 parlamentares.

O número é o maior já alcançado, com 15% do total de deputados —embora muito distante da paridade, já que as mulheres são 51% da população brasileira.

Mas a discrepância não cessa quando as mulheres são eleitas. Na Câmara, durante 185 anos a Mesa Diretora foi composta apenas por homens. Apenas em 2011 a então deputada e hoje senadora Rose de Freitas (Podemos-ES) foi eleita por seus pares para ocupar um posto como titular do colegiado.

Depois dela, outras três deputadas foram titulares na Mesa: Mara Gabrilli (PSDB-SP), de 2015 a 2017, Mariana Carvalho (PSDB-RO), de 2017 a 2019 e Soraya Santos (PL-RJ), atual Primeira Secretária.

Isso significa que, entre todas as deputadas da história, só 0,01% chegou ao órgão de maior importância na Casa. Nunca houve uma presidente da Câmara ou do Senado.

“Há uma visão de que a mulher pode até entrar na política, mas não nos espaços onde de fato se define a política”, afirma a cientista política Debora Gershon, pesquisadora do OLB.

Ela aponta ainda que as parlamentares mulheres acabam sendo direcionadas para pautas que reproduzem estereótipos na sociedade.

Isso fica evidente na composição das comissões, onde são maioria apenas no colegiado que trata de defesa dos direitos da mulher, com 90,6%.

Elas também aparecem em maior número em comissões como a de defesa dos direitos do idoso (42%) e dos deficientes físicos (37,6%).

Redação com Folha