Manter empregos lustrará imagem de empresas

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Foto: Gustavo Azeredo/Agência O Globo

Em meio a enorme incerteza na economia brasileira com o avanço de medidas de quarentena para conter o novo coronavírus, empresas de diversos tamanhos estão se comprometendo a evitar demissões de funcionários durante a pandemia. Na visão de consultores em recursos humanos, medidas desse tipo demonstram a solidez financeira das companhias e podem aumentar a produtividade do negócio na crise – e atrair talentos depois dela.

A tendência de garantir empregos durante a epidemia começou com empresas de grande porte como os maiores bancos do país. Na segunda-feira (23) o Santander comunicou a intenção de postergar processos de demissão no Brasil até o fim do “período mais crítico da epidemia”. A exceção será feita aos casos de violação do código de ética ou conduta.

No dia seguinte, o concorrente Itaú anunciou a suspensão por tempo indeterminado de todas as demissões sem justa causa entre os 94 mil funcionários do banco. Além disso, antecipou para o fim de abril o pagamento do 13º salário integral.

Empresas de diversas cadeias produtivas também anunciaram a manutenção de empregos em meio ao avanço da epidemia. Na fabricante de cosméticos Natura a promessa é de evitar programas de demissões nem fechar lojas pelos próximos 60 dias. Em fato relevante de quinta-feira (26), a empresa esclarece que as decisões “estão sendo constantemente reavaliadas de acordo com a evolução do cenário global relacionado aos efeitos do COVID-19 no Brasil e no mundo”.

Na Cosan, conglomerado de negócios nas cadeias de etanol, gás e logística, a ordem foi a de não mexer no quadro de 40 mil funcionários durante a epidemia. “Nosso foco está em tomar as medidas necessárias para a continuidade das atividades de forma remota e presencial, garantindo as ações pertinentes nas áreas de segurança física, de higiene e suporte psicológico”, informou a empresa.

Na varejista Renner, a decisão de suspender demissões por tempo indeterminado foi tomada em 20 de março junto do fechamento de todas as lojas no Brasil, Argentina e Uruguai. A Renner foi a primeira varejista a suspender negócios e a colocar boa parte dos 26 mil funcionários em esquema de trabalho remoto com o avanço da epidemia.

Mesmo empresas com um contingente menor de funcionários anunciaram mudanças nas políticas de recursos humanos por causa da crise de saúde. No início de março, os 3 mil funcionários da concessionária de energia EDP no Brasil receberam a primeira parcela do 13º salário, além de terem vale-alimentação e refeição antecipados. Nesta semana, as demissões sem justa causa foram suspensas.

“Neste momento de tantas incertezas, faremos tudo o que estiver ao alcance para as pessoas terem serenidade para superar a crise do coronavírus”, diz Fernanda Pires, diretora da EDP no Brasil.

A transmissora privada de energia Taesa colocou boa parte dos 600 funcionários em esquema de trabalho remoto e descarta demissões no auge da crise sanitária.

“Queremos garantir o fornecimento de energia ao mesmo tempo que garantimos a saúde dos nossos funcionários”, diz Raul Lycurgo Leite, presidente da Taesa.

A consultoria global de gestão Duff&Phelps se comprometeu a evitar mudanças no quadro de 80 funcionários no Brasil. Novas contratações foram mantidas e estão sendo treinadas remotamente.

Para especialistas, a estratégia pode garantir funcionários mais produtivos. Luciana Caletti, vice-presidente no Brasil da Glassdoor, uma plataforma online para avaliação das condições de trabalho nas empresas, avalia que segurar demissões em momentos de crise como agora pode garantir a fidelidade do empregado quando o mercado de trabalho voltar a ficar aquecido.

“Medidas desse tipo aliviam o estresse em tempos incertos”, diz. Para Luciana, funcionários mais motivados também trazem mais lucros às empresas.

Segundo levantamento recente da Glassdoor com empresas americanas de capital aberto, as empresas mais bem avaliadas na plataforma tinham desempenho financeiro 22% superior ao de empresas com funcionários mais descontentes.

Para Ruy Shiozawa, presidente no Brasil do Great Place to Work, consultoria global em recursos humanos, as empresas comprometidas com a manutenção de empregos estão mais preparadas para crescer ao fim da crise de saúde.

“A manutenção do quadro de funcionários demonstra ao mercado a solidez financeira do negócio, o que ajudará a atrair bons profissionais com o fim da crise”, diz.

Tati Oliva, da consultoria Cross Networking, pondera a necessidade de manter o caixa em dia para reter funcionários em tempos de crise.

“Ao empresário, é essencial ter um respaldo de capital de giro e organização financeira, além de gestão de pessoal”, diz.

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