Moradores do Crusp denunciam precariedade no alojamento
Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação
Moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp), voltado a estudantes de baixa renda, dizem ter sido abandonados pela universidade em meio à epidemia do novo coronavírus, que até a manhã desta segunda-feira registrou 1.629 contaminados e 25 mortes no país, sendo 22 delas em território paulista.
Sem fogão, internet, lavanderia e com problemas no abastecimento de água potável e no circuito elétrico, os jovens temem o alastramento da doença no espaço, que conta com cerca de 1,5 mil moradores.
Os estudantes elaboraram uma carta para a reitoria com algumas reivindicações, entre elas reformas no prédio, distribuição de álcool em gel na área interna, dispensa dos trabalhadores terceirizados para cumprirem a quarentena e aumento da segurança. Eles dizem que o campus está vazio em razão da suspensão das aulas e, por isso, alegam enfrentar problemas com roubos.
— Estamos completamente abandonados aqui. Eu tenho problemas respiratórios e sou tabagista, mas existem outras pessoas em situação mais grave. Não temos condições mínimas de permanecer em segurança durante o período de quarentena — disse uma estudante que preferiu não ser identificada.
A Associação de Moradores do Crusp se reuniu com a Superintendência de Assistência Social (SAS) em 17 de março para tratar das demandas dos estudantes. Eles pediram manutenção imediata das cozinhas coletivas do conjunto, para que os estudantes evitem os restaurantes universitários, que só devem funcionar até esta terça-feira. Também cobraram uma melhora na comunicação da instituição com o conjunto residencial na crise de saúde pela qual a cidade passa.
— Eles prometeram que até a última sexta-feira haveria pelo menos uma cozinha funcionando por bloco e que os dispênseres de álcool em gel já estariam distribuídos pelo Crusp, mas nada foi realizado. A SAS prorrogou os prazos, mas a gente está com uma emergência e não tem tempo para ladainha — declarou Gustavo Raime, um dos estudantes à frente das negociações.
— O Crusp abriga estudantes de baixa renda, a maioria vinda de outros estados. Mas vivemos em condições de insalubridade há bastante tempo e, diante da pandemia do coronavírus, tememos pela saúde das pessoas que moram aqui. Ficamos sem água durante sete dias na semana passada. A negligência com a moradia estudantil tem ficado cada vez pior — declarou a estudante Ana Dias.
A USP informou ao GLOBO que a entrega de álcool em gel prometida na sexta-feira não foi cumprida pelo fornecedor, o que aconteceria nesta segunda-feira. Sobre as cozinhas, a universidade declarou que, além dos reparos, a responsabilidade pelo uso e pela conservação das cozinhas é coletiva e que “cada morador tem sua parcela”.
“É triste dizer, mas o estado precário das cozinhas se deve, na origem, ao mal-uso, à falta de limpeza pelos usuários, ao roubo de peças, tais como torneiras e queimadores do fogão. Desencadeamos as compras mas, por dificuldade de encontrar fornecedores, principalmente de queimadores para os fogões, ainda não recebemos os materiais. À medida que chegarem, serão instalados e os moradores informados”, afirmou a instituição em comunicado.
Para Ana Dias, a resposta da USP é “tendenciosa”. Segundo ela, os moradores do Crusp pediram que as contas da zeladoria fossem abertas para permitir maior escrutínio da comunidade com os gastos na manutenção dos espaços.
— Eles dizem que gastam um valor absurdo com a manutenção do Crusp e a gente não vê nada há muito tempo. Não tem nem pintura, não tem nada. A gente tem cozinhado com latinha de refrigerante no fogão — disse ela.
“Reiterando o que dissemos inicialmente, o isolamento social aplica-se também aos funcionários da SAS, o que significa que os serviços de zeladoria e manutenção se encontram sob forte restrição de pessoal”, informou a Universidade.
A universidade informou que passará a entregar refeições em marmitas descartáveis aos moradores do Crusp. Sobre a segurança, a Universidade afirmou ter reforçado as rondas nos arredores do Crusp, mas que, em razão da restrição de funcionários, os recepcionistas terão de servir a mais de um bloco de moradia simultaneamente.
Isolados por causa do surto do coronavírus, muitos estudantes não têm como voltar a suas cidades de origem. Eles ainda relatam dificuldades para trabalhar, estudar e se comunicar com a família por causa dos problemas de conexão de internet. A USP informou que “sabe que o acesso à rede Wi-Fi no interior dos apartamentos é precário”, por causa do tipo de construção dos prédios, e que “desenvolveu o projeto que está prestes a entrar em fase de contratação”. Segundo a Universidade, outros espaços com internet foram disponibilizados para os estudantes enquanto a solução definitiva não fica pronta.