Turquia adota ‘quarentena voluntária’ após aumento de casos
Foto: Handout/AFP
O governo da Turquia anunciou uma série de medidas de restrição de movimento e contato social, depois de um aumento expressivo no número de infecções e mortes ligados ao coronavírus: nas últimas 24 horas, foram 2.069 casos, chegando a um total de 5.698 — 92 pessoas morreram, 17 entre quinta e sexta-feira.
Em um longo discurso, o presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou que todos os cidadãos devem ficar em casa, saindo apenas para necessidades básicas, como comprar comida, medicamentos ou para buscar atendimento médico. Além disso, ele anunciou que as viagens entre as 30 maiores cidades do país, como Istambul, Ancara e Izmir, serão restritas, dependendo de autorizações das autoridades locais. Voos internacionais foram suspensos.
As medidas também exigem que empresas públicas e privadas trabalhem com um número mínimo de pessoas, com flexibilização de horários e trabalho à distância. Também não poderá ocorrer aglomerações em parques e, especialmente, no transporte público, onde os passageiros devem ficar separados.
Ainda falando nas 30 maiores cidades, cada uma delas terá um comitê próprio para avaliar e eventualmente apertar ou afrouxar as medidas. Segundo Erdogan, a duração dessas ações vai depender da obediência dos cidadãos, e pediu a todos que respeitem as orientações “para evitar medidas mais estritas”.
— Esperamos paciência, sacrifício e força de nossa nação — afirmou Erdogan. — Espero que possamos superar este desafio o mais rápido possível, possivelmente quando todas as medidas forem implementadas.
Apesar do discurso, que contou com uma declamação de poema ao seu final, Erdogan não declarou uma quarentena obrigatória, como chegou a se especular nas últimas horas. Mesmo assim, ressaltou que a Turquia está preparada para um grande número de casos: o país possui uma das maiores quantidades de leitos de UTI no mundo, 46 a cada grupo de 100 mil habitantes — no Brasil, segundo estudo da Universidade Johns Hopkins, essa relação é de 20,7 a cada 100 mil pessoas.
Além da saúde dos 80 milhões de habitantes, a expansão do coronavírus na Turquia também preocupa por causa da situação dos mais de 3 milhões de refugiados que hoje vivem no país, muitos em campos localizados ao longo da fronteira com a Síria, em locais abarrotados e por vezes sem condições ideais de higiene. Alem disso, caso a doença chegue a estas áreas, pode acabar se expandindo em direção ao território sírio, em área devastadas por quase 10 anos de conflito.
Tanto que, nos últimos dias, a ONU e organizações de ajuda humanitária pedem medidas para ao menos minimizar esse impacto, começando por uma trégua em áreas de conflito, como na Síria.