Aumenta burla da quarentena em SP

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Mesmo com a orientação das autoridades de saúde para manter o máximo de isolamento social em função do avanço do coronavírus no Brasil, a população do estado de São Paulo, que concentra o maior número de casos da Covid-19, não tem seguido as recomendações tão à risca.

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Apesar de não haver registro de multidões ou grandes aglomerações na capital paulista, muitos aproveitaram o feriado de sol para pedalar, correr e se exercitar nas ruas. Resultado: alguns pontos como Avenida Paulista, ciclovia que liga a Avenida Faria Lima ao Parque Villa Lobos, Largo São Francisco e laterais de parques como Ibirapuera e do Povo registraram movimento.

Na Avenida Paulista, a ciclovia abrigou skatistas, ciclistas, crianças, pessoas que aproveitaram o espaço para fazer uma caminhada ou corrida, além dos entregadores de comida, já que a avenida não estava fechada ao trânsito, como usualmente ocorre aos domingos. Muitos saíram às ruas de máscaras.

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O argentino Andrés Exposito, morador da região dos Jardins, tem o hábito de pedalar na estrada com amigos aos fins de semana, mas, com o isolamento social recomendado, o grupo preferiu não sair junto, e ele optou por se exercitar sozinho.

– Se eu disser que não tenho medo (de contrair coronavírus), vou estar sendo hipócrita. Tenho receio, sim. Mas, é meu esporte, por isso me higienizo, mantenho distância, faço a minha parte. Por isso, vim sozinho, sem o grupo.

Os exercícios individuais ao ar livre estão dentro dos padrões recomendados pelo Ministério da Saúde no enfrentamento ao vírus. O que não deve existir, segundo autoridades, são aglomerações. Apesar de não estar lotada, a Praça Alexandre de Gusmão, próxima ao Parque Trianon, também na região da Paulista, tem recebido um grande número de pessoas que vão sozinhas, diariamente, segundo relatos de moradores.

Vazia nos primeiros dias de decreto da quarentena, a praça se tornou ponto de encontro de cachorros e seus tutores, mães com carrinhos de bebê e esportistas. O movimento cresce “a cada semana”, diz o casal Ana Paulin, de 32 anos, e Guilherme Malanga, de 34.

– Na primeira semana de quarentena, estava vazio, agora a cada semana o movimento piora. O que me preocupa é que as pessoas têm vindo com personal para treinar, por exemplo, porque as academias estão todas fechadas – lamenta Guilherme.

Na Praça da Sé, a tradicional “feira do rolo” reuniu dezenas de pessoas que se aglomeravam em torno de produtos como relógios ou celulares, mesmo com a presença da Polícia Militar e de guardas municipais na praça.

Doações

Outra aglomeração no centro da capital paulista, no sábado à tarde, aconteceu no Largo São Francisco. Ao menos 150 pessoas formaram um longa fila, sem respeitar o distanciamento recomendado, à espera de roupas que estavam sendo doadas. No local, foram colocadas pias com água e sabão para que as pessoas se higienizassem.

– Já tentamos organizar de todos os jeitos, mas não adianta. Distribuímos três mil refeições por dia e eles acabam se aglomerando – disse o técnico de enfermagem Ítalo Ferrarez, que ajuda a organizar as filas.

Já o Mercado Municipal da Cantareira teve uma redução de público de 80% no sábado, segundo vendedores. Poucas pessoas circulavam pelos corredores do local, mas ainda assim grupos e casais faziam degustações de vinho e cerveja. Para evitar proximidade entre os clientes, o número de mesas foi reduzido e elas estavam distantes mais de um metro e meio.

Na Rua 25 de Março, tradicional ponto de comércio popular do centro de São Paulo, havia pelo menos seis bloqueios para impedir a entrada de carros. As lojas estavam fechadas e nem mesmo os camelôs montaram suas barracas nas ruas. Fiscais da prefeitura e policiais militares circulavam pelo local para impedir o comércio.

No sábado (última atualização disponível), a taxa de isolamento social em todo o estado de São Paulo era de 55%, sendo que o ideal é que fique em 70%, segundo o governo. Na capital, era de 54%. Na quinta-feira, foi o dia de maior movimentação, com 48% de taxa de isolamento.

Protestos

Além dos passeios de ciclistas e pedestres, a capital também recebeu protestos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Manifestantes saíram às ruas, no sábado e no domingo, para protestar contra as medidas tomadas pelo governo estadual de combate ao coronavírus. Numa carreata de carros e motos enfeitados com bandeiras do Brasil, o grupo atacou o governador João Doria (PSDB) e defendeu a postura de Bolsonaro frente à crise.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o distanciamento social para frear a disseminação da Covid-19, que já deixou 22 mil contaminados no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O país registra 1.223 mortes. Governos de todo o mundo têm adotado as recomendações para restringir a epidemia.

A carreata percorreu importantes vias como a avenida Paulista, onde ocupou duas faixas ao longo de alguns quarteirões, a avenida Rebouças, os entornos do Parque Ibirapuera e a Ponte Estaiada. Por onde passou, o ato despertou curiosidade e indignação da população, que tem aderido às recomendações de especialistas e de autoridades públicas para ficar em casa e evitar a circulação

O governador João Doria afirmou nesta semana que pessoas que fizerem aglomeração nas ruas serão advertidas e orientadas, e poderão ser presas pela Polícia Militar se insistirem em quebrar a quarentena. Viaturas policiais estão monitorando a movimentação nas ruas e usando autofalantes para transmitir a orientação para que a população evite sair de casa.

Na Avenida Paulista, neste sábado, um dos líderes do movimento contra o isolamento social discursou para um grupo de cerca de 20 pessoas, que reagia com gritos de “fora, Doria”, “traidor da pátria” e “Doria comunista”. Mesmo com os mais de 100 mil mortos no mundo pela doença, ele chegou a dizer que “o coronavírus não existe”.