Defensora do uso indiscriminado da cloroquina vê “politização”

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Foto: Bruno Poletti/Folhapress

No centro da mais nova polêmica entre o Planalto e o Ministério da Saúde, a médica Nise Yamaguchi classifica o trabalho do ministro Luiz Henrique Mandetta como muito bom, diz que há uma politização em cima da cloroquina para o coronavírus e afirma que intrigas distorceram o objetivo de suas reuniões com o governo.

“Não existe [pedido de] decreto, é um mal-entendido”, diz. Ela defende o remédio no início da doença, não em casos graves, e é criticada por ignorar que ainda não há comprovação científica.

Segundo a médica, a ideia na reunião era fazer coincidir o que já foi autorizado pelo ministério e o que vai praticar a Anvisa, responsável pelas bulas de remédio. Mandetta desdenhou, no entanto.

“Então nós vamos solicitar pelas sociedades médicas uma harmonização entre o que já foi publicado, nada diferente”, completa Yamaguchi, indicando que agora deve buscar seu objetivo em outras frentes.

O ministro disse em entrevista, na segunda (6), que foi colocado em uma salinha para conversar com dois médicos, que queriam um decreto para liberar o uso do tratamento com cloroquina.

“Você sabe que as intrigas da corte são sempre complicadas”, disse Yamaguchi, sobre a polêmica em relação à sua conversa com o ministro. “Temos que tomar cuidado com a politização que existe em cima de um assunto que é tão nobre. Eu sou suprapartidária. Trabalho sempre pela saúde, independente de partidos”, completou.

Nesta terça, enquanto Mandetta dizia à imprensa que não recomendaria o uso indiscriminado de cloroquina, o presidente Jair Bolsonaro divulgava vídeo nas redes sociais em que Nise Yamaguchi defendia o uso do remédio a partir do segundo dia após o início dos sintomas.

Sob pressão de Bolsonaro, inclusive pelas redes sociais, o Ministério da Saúde já liberou o uso do medicamento para pacientes em estado crítico e grave. A defesa da médica, porém, é para utilização no início da doença, chamado de tratamento precoce.

A principal crítica de especialista e do próprio ministério é que seu estudo não tem comprovação científica até o momento. “São evidências”, afirma. “De repente, parou de morrer gente”, diz, sobre a Prevent Senior, sem citar que está se referindo a eles —até a semana passada, os hospitais da empresa concentrava 58% das mortes por Covid-19 de São Paulo. A rede deu a ela acesso ao resumo dos casos, que passaram a ser parte determinante para embasar a sua tese.

Entre os que são contrários à recomendação da droga enquanto não houver estudo comprovando a eficácia, o principal argumento especialmente para os casos leves é que muitas pessoas se curariam independentemente do remédio.

Especialistas defenderam o médico David Uip por não ter respondido a perguntas sobre ter ou não usado a droga para o seu tratamento. Dessa forma, ele manteve o discurso de parte da categoria, que espera artigos científicos para poder defender o remédio. Ele virou alvo da família Bolsonaro e de bolsonaristas nas redes sociais por rejeitar comentar.

Opositores lembraram que faz quase um mês que o presidente da República realizou seu primeiro exame e até hoje não apresentou os documentos. “As situações são incomparáveis. Bolsonaro ocupa o mais alto cargo da República, infelizmente. Seu estado de saúde, especialmente quando insiste em circular pelas ruas, é de interesse do povo”, disse o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).

Por causa do coronavírus, o PT fará reunião de seu diretório nacional pela internet. A primeira transmissão ao vivo da TV PT, recém-inaugurada pelo partido ancorada no YouTube e no Facebook, contará com as participações do ex-presidente Lula, do ex-prefeito Fernando Haddad, dos atuais governadores petistas, e começará às 9h30 desta quinta (9).

Folha de S. Paulo