Mandetta indica o uso de máscaras para toda população

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Foto: Ana Branco/Agência O Globo

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mudou a orientação, durante entrevista nesta quarta, para o uso das máscaras no Brasil: agora, a recomendação é de que toda a população passe a utilizá-las como forma de diminuir o risco de contaminação da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Antes, apenas pessoas com sintomas, cuidadores e profissionais de saúde eram instruídos dessa forma.

A população, no entanto, deve usar apenas as máscaras simples, feitas em casa, que podem ser confeccionadas com algunsmateriais. As máscaras cirúrgicas e as N95, já em falta, devem ser exclusivas dos hospitais.

Especialistas consultados recomendam também o uso, mas alertam para que não se abandone o isolamento social, para quem pode ficar em casa, e os cuidados com a higine. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que hoje recomenda o uso de máscaras prioritariamente para profissionais de saúde, está avaliando se atualizará a recomendação.

Especialistas apontam que as máscaras podem criar um anteparo para impedir a disseminação de gotículas contaminadas.

Segundo Edmilson Migowski, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), elas são úteis principalmente em transportes públicos e em locais de aglomeração, mas é preciso ficar atento aos cuidados na hora de manuseá-las. Também é fundamental que as pessoas não abandonem as principais recomendações de isolamento social, para quem pode, e limpeza frequente das mãos, com água e sabão:

– A grande preocupação que surge é a de pessoas manipularem as máscaras de forma errada, o que pode aumentar a exposição ao vírus, ao invés de diminuir. A orientação é nunca encostar com as mãos na máscara, apenas no suporte da orelha. Lavar as mãos antes e depois de colocá-las, trocar a cada três ou quatro horas, no máximo, ou se ela ficar úmida. Essa é uma medida adicional, que vai ajudar a diminuir a circulação do vírus no ambiente. Mas não deve servir como salvo conduto para sair da quarentena ou não lavar as mãos.

A pneumologista Margareth Dalcolmo, uma das mais respeitadas do país, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, indica o uso de TNT e alguns tipos de tecido para fazer as máscaras, sempre dobrados, para uma maior proteção:

– A máscara só deve ser usada por uma única pessoa. Se for de TNT, deve ser descartada após o uso. Se for de outro tecido pode ser lavada e reaproveitada. Mas é preciso ver a gramatura, a expessura do tecido escolhido, não são todos que vão fazer a proteção. A máscara precisa cobrir nariz e boca, mas é importante lembrar que as principais medidas continuam sendo o isolamento social e higiene das mãos – afirma.

Embora a Organização de Saúde (OMS), tenha reiterado na última terça-feira que é desnecessário o uso indiscriminado de máscaras por pessoas que não querem se infectar, pois gera falsa sensação de segurança, Mandetta incentiva a população a fazer suas próprias máscaras de pano que, segundo ele, “funcionam muito bem como barreira” e afirmou que “agora é lutar com as armas que a gente tem”.

– Para vírus de gotícula, máscara de barreira mecânica funciona muito bem. Qualquer pessoa pode fazer sua máscara de pano. Vai funcionar e vai ajudar o sistema de saúde – afirmou o ministro, que pediu que sua equipe publicasse uma orientação sobre máscaras caseiras, determinando o tipo de tecido, de quanto em quanto tempo é preciso trocar e como lavar.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) simplificou os requisitos para fabricação, importação e aquisição de máscaras cirúrgicas, respiradores particulados N95, PFF2 ou equivalentes, utilizados em serviços de saúde. As máscaras que aguardam a realização de ensaios podem ser utilizadas por profissionais de apoio, como recepcionistas e seguranças nos serviços de saúde, desde que prestem assistência a mais de um metro dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Segundo a agência, essas máscaras também podem ser usadas pelos profissionais dos transportes públicos, segurança e transeuntes

Em países como Estados Unidos, o Centro para Controle a Prevenção de Doenças (CDC) do país reforça que a prioridade é para que pessoas doentes, com sintomas e cuidadores usem as máscaras. O presidente Donald Trump, no entanto, defende o uso generalizado de máscaras. Em entrevista à rede americana CNN, o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, afirmou que essa posição do país pode mudar. Segundo ele, “a ideia de um uso muito mais amplo de máscaras está em discussão muito ativa”.

A máscara impede que pessoas contaminadas joguem partículas do vírus no ambiente. Ou seja, a sua utilização é para proteger os demais (e, consequentemente, toda a população). Foi essa premissa – de se proteger para ajudar o próximo – que inspirou a professora Mariana Pinto a confeccionar e doar máscaras, há dez dias.

A carioca, que tem como hobby costurar, tem feito as suas com TNT e algodão. Desde que divulgou a iniciativa em suas redes sociais, ela já doou mais de 30 unidades, e tem priorizado os grupos de risco e pessoas mais pobres:

– Como cuido também de idosos em minha família, tenho buscado doar para quem não tem condições, seja de tempo ou dinheiro, de confeccionar as suas próprias máscaras. Mas também tenho divulgado aqui no meu prédio, por exemplo, que, quem quiser, pode ligar aqui que faço, são super fáceis de costurar. Acho que as pessoas que têm o privilégio de ficar em casa têm condições, devem fazer o máximo para ajudar os outros.

A atenção com a higienização das máscaras é fundamental: assim que recebe o material em casa, Mariana lava-o com água sanitária e deixa secando ao sol. Ao costurá-las, higieniza as mãos e também usa máscara. Depois que ficam prontas, mais uma lavagem com água sanitária, antes de passá-las e ensacar.

Buscar formas caseiras e alternativas é a melhor solução para a população, já que não há estoque nas farmácias e drogarias pelo país. Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), não há mais máscaras disponíveis no varejo:

– Esse material está com forte demanda global, e os governos têm alertado para a importância de focar o uso de máscaras para os profissionais de saúde. Temos dificuldades até mesmo de disponibilizar esse material para nossos funcionários de lojas. Assim, não há perspectiva de disponibilizar esse produto para venda – explica Sergio Mena Barreto, diretor da associação, que reúne 45% das empresas do setor.

O Globo