Ministério da Saúde permitirá que médicos prescrevam cloroquina

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Foto: Sérgio Lima/Poder360

O ministro da Saúde, Henrique Mandetta, disse nesta terça-feira que o Ministério da Saúde não vai tomar medidas contra médicos que prescreverem medicamentos à base de cloroquina para o tratamento de pacientes em estágios iniciais da Covid-19, mas afirmou que ainda é cedo para que o órgão faça um recomendação neste sentido.

– Se ele (médico) se responsabilizar individualmente, não tem óbice nenhum. Ninguém vai reter a receita de ninguém. Agora, para que nós possamos, no Ministério da Saúde, assinar que o ministério recomenda que se tome essa medida, nós precisamos de um pouco mais de tempo para saber se isso pode se configurar em coisa boa ou se isso pode ter algum efeito colateral – afirmou Mandetta.

Os efeitos dos medicamentos à base de cloroquina em pacientes vítimas da Covid-19 estão sendo estudados em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro é um dos principais defensores do uso da substância em pacientes da doença. Mandetta, no entanto, vem reforçando que ainda é cedo, diante da escassez de estudos sobre o assunto, recomendar o uso amplo desses medicamentos.

A declaração de Mandetta acontece um dia depois de ele ter se recusado a endossar um decreto que estava sendo preparado pelo governo liberando profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) e pacientes graves da doença a usar a cloroquina.

Em entrevista coletiva na segunda-feira, Mandetta disse que foi levado a uma sala no Palácio do Planalto onde tentaram lhe convencer a endossar o decreto.

– Me levaram, depois da reunião lá, para uma sala com dois médicos que queriam fazer protocolo de hidroxicloquina por decreto. Eu disse a eles que é super bem-vindo, os estudos são ótimos. É um anestesiologista e uma imunologista que lá estavam – disse Mandetta na segunda-feira durante entrevista coletiva.

Os médicos em questão eram Nise Yamaguchi e Luciano Dias Azevedo. Nise é um dos nomes cotados para substituir Mandetta no cargo.

O Ministério da Saúde informou que acompanha nove estudos a fim de obter novos tratamentos para a Covid-19, que, segundo o boletim desta terça-feira da pasta, já infectou 13.717 pessoas no Brasil, matando 667. Mais de 100 centros de pesquisa, como universidades federais e hospitais, estão envolvidos. De acordo com o ministério, participam dos estudos 5 mil pacientes com sintomas leves, moderados e graves.

Além da cloroquina e hidroxicloroquina, em combinação com o antibiótico Azitromicina, outras substâncias estão sendo analisadas. Entre elas estão: o Lopinavir e Ritonavir, usados contra o HIV; esses mesmos dois remédios, em conjunto com a substância Interferon beta-1b, usada no tratamento de esclerose múltipla; e o Antiviral Remdesivir, para o ebola. Nas próximas semanas, estudos com outras substâncias deverão ser iniciados, entre eles um que usa material do sangue de pacientes curados.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Denizar Viana, apontou um possível efeito colateral dos medicamentos.

— O coração é uma bomba que depende da ativação de um sistema elétrico próprio. Esse medicamento, tanto a cloroquina como a hidroxicloroquina, pode produzir um prolongamento de uma das fases dessa fase elétrica do coração e propiciar, criar um ambiente favorável a uma arritmia que pode ser potencialmente fatal — disse Denizar.

Assim, é preciso fazer uma análise de risco, pesando de um lado o efeito colateral, e de outra a taxa de mortalidade dos pacientes graves com covid-19.

— Quando a gente pesa riscos e benefícios, nos casos leves [de covid-19], nós não vamos recomendar ainda — afirmou o secretário.

Denizar disse ainda que o Ministério da Saúde sabe que, diante de uma epidemia, deve tomar decisões de forma rápida, mas disse que o órgão precisa se “cercar” de evidências formular uma recomendação ampliando o uso da cloroquina para o combate aos efeitos do novo coronavírus.

— Nós sabemos que estamos diante de uma situação de exceção. Estamos numa epidemia, de uma forma grave, sabemos que temos que tomar decisões rápidas, mas também temos que, do ponto de vista da formulação da política de saúde, nos cercar de das evidências necessárias – afirmou Denizar.

O Globo