Enquanto ameaça STF, Bolsonaro demite Weintraub para agradar

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Foto: WIKIPEDIA

O secretário nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim, deve assumir interinamente o Ministério da Educação (MEC) no lugar de Abraham Weintraub, em um movimento previsto para ocorrer entre hoje e amanhã.

O presidente Jair Bolsonaro busca uma saída honrosa para o aliado, considerado um dos quadros mais leais e combativos da ala ideológica, mas o seu desligamento da pasta é um aceno ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso, num gesto para distensionar a conjuntura.

Weintraub, que é economista de formação, poderia assumir a diretoria de um banco multilateral no exterior, como vem sendo ventilado. Mas fontes ouvidas pelo Valor PRO ponderam que o ministro tem projeto político, e por isso seria mais conveniente, para ele, ficar no Brasil.

A “solução Nadalim” repete o formato caseiro que Bolsonaro vem adotando nas crises graves desde quando nomeou o próprio Weintraub, que era assessor da Casa Civil, para o MEC no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez. Outro exemplo foi o remanejamento de Onyx Lorenzoni da Casa Civil para o Ministério da Cidadania. Weintraub e Onyx são quadros fiéis mas desgastados, de que Bolsonaro precisa se livrar sem deixá-los na chuva.

Com a corda esticada ao máximo com o STF, Bolsonaro faz um aceno de diálogo aos ministros da Corte afastando Weintraub, que figura como indiciado no inquérito das “fake news” por ter chamado os integrantes do colegiado de “vagabundos”. Em contrapartida, o tribunal fez um aceno de que não fechou as portas ao Planalto: foi esse o recado do comparecimento do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, na posse hoje do ministro das Comunicações, Fábio Faria.

A saída de Weintraub também atende a pressões do Congresso, principalmente do Senado, que cobrava a demissão do ministro. Na última semana, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolveu ao Planalto medida provisória que daria poderes a Weintraub para nomear provisoriamente reitores das universidades federais.

Em paralelo, a opção por Nadalim não desagrada a ala ideológica, que tem como expoente o escritor Olavo de Carvalho. Essa ala mais radical tentou garantir a sobrevida de Weintraub no cargo, mas foi vencida pela pressão dos militares e do Congresso.

Nadalim tem perfil semelhante ao de Weintraub: é seguidor de Olavo e defende as mesmas ideias, como o ensino domiciliar. Manter o MEC na cota da ala ideológica é ponto inegociável para os bolsonaristas, que veem a pasta como um instrumento para conter a expansão de um suposto “marxismo cultural”.

A situação de Weintraub já era considerada insustentável para uma parte do governo, mas piorou após sua participação em atos no último domingo, com manifestantes bolsonaristas, onde ele reforçou as críticas aos ministros do STF. Na véspera, bolsonaristas haviam disparado fogos de artifício contra a sede do tribunal.

Um dia depois, Bolsonaro criticou publicamente a participação do auxiliar no ato. “Eu acho que ele não foi muito prudente em participar da manifestação, apesar de não ter falado nada de mais ali. Mas não foi um bom recado. Por quê? Porque ele não estava representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Como tudo o que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub”, afirmou Bolsonaro em entrevista à BandNews TV.

Valor Econômico